Correio Braziliense
postado em 12/02/2020 09:48
Para conter a disseminação do novo coronavírus, um número máximo de países deve ser capaz de realizar testes que permitam diagnosticar pacientes, e sua distribuição em todo mundo é uma questão "vital", de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com especialistas.
"Sem capacidade de diagnóstico, os países ficam no escuro: não sabem até que ponto e por que o vírus se espalhou e quem tem coronavírus, ou outra doença com sintomas semelhantes", disse na segunda-feira o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
A OMS "identificou 168 laboratórios em todo mundo com a tecnologia correta para diagnosticar coronavírus e enviou kits para Camarões, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Gabão, Gana, Irã, Quênia, Marrocos, Nigéria, Tunísia, Uganda e Zâmbia", acrescentou, ressaltando que "muitos desses países já começaram a usá-los".
Segundo ele, outro carregamento de 150.000 testes para mais de 80 laboratórios no mundo todo deve partir de Berlim.
Vários países propõem sua própria técnica. Os testes atuais desenvolvidos por laboratórios de referência são baseados na detecção do código genético do novo coronavírus.
Eles detectam a infecção antes do desenvolvimento de anticorpos, e os resultados são obtidos "em quatro, ou cinco horas", explica à AFP Vincent Enouf, que dirige a estrutura francesa na vanguarda dessa questão, o Centro Nacional de Referência do Instituto Pasteur.
As amostras são coletadas por cotonete do nariz, porque o vírus se multiplica bem nas vias aéreas, mas também pode ser carregado pelo sangue e estar nas fezes e urina.
Em pacientes hospitalizados, cuja condição respiratória é mais grave, a amostra pode ser coletada por lavagem broncoalveolar (ou seja, no nível pulmonar), acrescenta o pesquisador, cujo laboratório é um dos 16 de referência em coronavírus para a OMS.
A técnica utilizada, chamada RT-PCR, é um método de amplificação de material genético viral. Esse tipo de teste deve ser realizado por laboratórios especializados, treinados "para evitar erros".
Entre esses erros, estão falsos negativos que resultariam em deixar alguém contaminado livre.
Conhecer melhor a doença
É por isso que o Centro Africano de Prevenção e Controle de Doenças (CDC, uma agência especializada da União Africana) organizou recentemente um treinamento no Senegal com 12 países, usando testes enviados pela OMS.
Os Estados Unidos já começaram a distribuir kits para seus laboratórios nacionais, cada um testando de 700 a 800 amostras de pacientes, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americanos.
Também disponibilizaram kits de teste para 191 laboratórios qualificados no mundo inteiro, segundo o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o secretário de Saúde, Alex Azar.
Além disso, "mobilizaram pessoal para treinar profissionais da saúde em 15 hospitais no Vietnã".
Outro tipo de teste também pode permitir avaliar o número de pessoas que desenvolveram formas leves, ou sem sintomas, e que não vão ao hospital, contribuindo, portanto, para definir melhor a taxa de mortalidade associada ao vírus.
Trata-se de um teste de anticorpos, que o corpo produz em resposta à infecção.
"Não há teste aprovado internacionalmente" para esse outro tipo de análise, observa o Dr. Al Edwards, da Escola de Farmácia da Universidade de Reading.
O desafio desses testes não seria identificar os indivíduos infectados precocemente, porque os anticorpos levam vários dias para aparecer.
"Mas poderiam ajudar a melhorar nossa compreensão da doença", detectando exposições passadas ao vírus, observa Martin Hibberd, professor de doenças infecciosas emergentes, da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM).
De acordo com especialistas da OMS, cerca de 82% dos casos registrados da doença, oficialmente chamada na terça-feira de Covid-19, são considerados leves, 15%, graves, e 3%, "críticos".
O principal medo é ver a epidemia se espalhar para países com sistemas de saúde frágeis. Na terça-feira, o chefe da OMS estimou que isso poderia causar um "caos".
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