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O declínio de Joe Biden

Ex-vice de Obama amarga fiascos em Iowa e em New Hampshire e aposta nos afro-americanos da Carolina do Sul para manter candidatura. Bernie Sanders vence a primeira, e senadora Amy Klobuchar desponta como surpresa da corrida democrata

Correio Braziliense
postado em 13/02/2020 04:06
Joe Biden faz comício em Columbia, na Carolina do Sul, que realizará primárias em 29 de fevereiro: estado crucial para as pretensões do advogado



O caucus (assembleia de eleitores) de Iowa e as primárias democratas de New Hampshire, nos últimos 10 dias, não foram nada exitosos para Joe Biden. Vice-presidente durante os dois mandatos de Barack Obama (2009-2017), ele amargou a quinta colocação em New Hampshire, com apenas 8,4%. Em Iowa, ficou em quarto lugar, com 15,8%. Na tentativa de se exibir como a alternativa à ala progressista do Partido Democrata, representada pelo senador pró-socialismo Bernie Sanders, Biden se dirigiu aos eleitores da Carolina do Sul, próximas e decisivas primárias para suas pretensões eleitorais, em 29 de fevereiro. “Nós precisamos de um presidente que escolha a unidade sobre a divisão. Se viermos juntos e unirmos este país, não há nada que não possamos fazer”, escreveu no Twitter.

Ele sublinhou que 99,9% dos eleitores afro-americanos ainda não tiveram a chance de votar nas prévias democratas. “Você não pode e não deveria vencer a nomeação democrata para presidente sem o apoio dos eleitores negros e pardos. (…) Ninguém me disse que o caminho seria fácil, mas juntos podemos e vamos vencer.”

Nas primárias de New Hampshire, anteontem, Sanders e o ex-prefeito Pete Buttiglieg conseguiram somar nove delegados, cada. A senadora Amy Klobuchar ficou em terceiro lugar, com seis delegados, e migrou para o centro da corrida pela indicação democrata. Em entrevista ao Correio, Timothy M. Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa, afirmou que, ao aderir à disputa, Biden indicou que não participaria dos processos em Iowa e em New Hampshire.

O plano dele era apostar todas as fichas na Carolina do Sul, onde tem boa aceitação entre os eleitores afro-americanos. “Ele, eventualmente, percebeu que o rendimento ruim nas duas primeiras disputas tornariam a indicação do partido mais difícil, mesmo que se saíssem bem na Carolina do Sul. Por isso, começou a fazer campanhas mais agressivas em Iowa e em New Hampshire; o que fez com que o péssimo aproveitamento em ambos os estados fosse motivo de decepção”, disse o especialista.

Fragilidade

Segundo Hagle, os números das primárias da última terça-feira colocaram Biden em situação delicada. “Eles nos fazem duvidar se Biden realmente seria capaz de bater Trump em 3 de novembro”, observou. O estudioso de Iowa não descarta o risco de o ex-vice-presidente abandonar a pré-candidatura. “Se Biden for bem no caucus de Nevada (22 de fevereiro) e nas primárias da Carolina do Sul (29), ele poderia se manter na disputa, mas isso dependerá do apoio dos doadores de campanha. Se parecer que ele não consiga derrotar Sanders, os eleitores que buscam um candidato na ‘faixa intermediária’ poderiam recorrer a Buttigieg ou a Klobuchar. Se não for bem nesses dois estados, o financiamento provavelmente secará e ele será obrigado a desistir.”

Se Biden concentra a atenção na Carolina do Sul, os demais oito pré-candidatos vislumbram a Super Terça-Feira de 3 de março, quando 15 estados irão às urnas. Sanders buscou capitalizar atenção e se apresentar como o nome ideal para impedir a permanência de Donald Trump na Casa Branca por mais quatro anos. Chegou a argumentar que seu triunfo em New Hampshire, com 25,7% dos votos (1,3% a mais que Buttigieg), significou “o começo do fim para Trump”. “Nossa vitória em New Hampshire não é sobre mim. É sobre nos. É sobre o movimento que nossos apoiadores, voluntários e doadores construíram e que transformarão este país”, celebrou Sanders. “Juntos, podemos criar uma América baseada na justiça e na compaixão, não na ganância e na corrupção. Primeiro, precisamos levar nossa luta para Nevada, Carolina do Sul e para todos os estados que votarão na Super Terça.”

“Olá, América. Eu sou Amy Klobuchar e derrotarei Donald Trump”, tuitou ontem a senadora, considerada a grande surpresa da prévia da corrida à Casa Branca. Para Hagle, Klobuchar “não é tão emocionante ou bem conhecida, mas se tornou uma boa opção”. “Ela não é tão velha nem tão jovem. Pode não ter tanta experiência quanto Biden, mas certamente mais do que Buttigieg. Ela também é capaz de falar sobre seu trabalho como promotora e sobre como conseguiu aprovar legislações no Congresso”, admitiu. “Com Biden começando a esvanecer e com mais pessoas questionando a falta de experiência de Buttigieg, Klobuchar passou a receber maior atenção dos eleitores, o que começou em Iowa, apesar da quinta colocação. A dúvida é se ela conseguirá intensificar a campanha para atender às necessidades do partido em Nevada, na Carolina do Sul, e, depois, na Super Terça.”

Bloomberg

A partir de 3 de março, as urnas das primárias e os caucus contarão com o nome de Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York. A favor do bilionário, está a independência financeira em relação a doadores de campanha. Hagle afirmou que o magnata tem gastado vultuosas somas para levar sua mensagem aos estados da Super Terça. Apesar de se sair relativamente bem nas pesquisas para essas 15 primárias, sua atuação como prefeito da Big Apple é vista como um ponto a ser disputado.

 “Se Bloomberg fosse um político comum, provavelmente sairia da corrida rapidamente. Por ter muito dinheiro, pode fazer coisas que um candidato comum não pode. Caso se saia mal na Super Terça, perceberá que não pode vencer e deve direcionar seus esforços para outro foco. Por outro lado, se a disputa estiver confusa depois de 3 de março, ele poderá racionalizar a permanência na corrida. É provável que isso prejudique outros candidatos que possam tentar derrotar Sanders”, disse o professor de Iowa.



"Sanders tem a vantagem"

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem que vê o senador Bernie Sanders como o principal candidato democrata. “As pessoas gostam de sua mensagem. Ele tem energia, seu pessoal tem energia”, declarou. “Mas eles gostam da mensagem dele. No entanto, muitas pessoas não gostam dessa mensagem em particular. Quem quer que seja, vamos enfrentá-los. Mas, parece que Bernie Sanders tem a vantagem agora.” Trump, que chegou a zombar de Sanders com o termo “Crazy Bernie” (“Bernie maluco”), afirmou preferir enfrentar o ex-prefeito de Nova York Mike Bloomberg em uma eleição geral do que o senador, “porque Sanders tem seguidores reais.”



Eu acho...

“Joe Biden certamente tem charme ao conversar individualmente com os eleitores. Mesmo assim, ele não é tão bom em fazer campanha. Se o fosse, teria se saído melhor quando concorreu por duas vezes à Presidência dos Estados Unidos. Outro aspecto desse problema é que ele parece preso ao passado. De forma compreensível, ele fala regularmente sobre as realizações ocorridas na época em que foi vice-presidente de Barack Obama. Como Pete Buttigieg apontou no último debate, em New Hampshire, essas realizações estavam certas para aquele período, mas as coisas são diferentes agora.”

Timothy M. Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa



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