Mundo

Licença para julgar Salvini

Senado derruba imunidade de ex-ministro do Interior e abre caminho para que ele seja processado pela Justiça da Sicília pelos crimes de abuso de poder e sequestro por retenção de navio com mais de 100 imigrantes, no Mar Mediterrâneo, em junho passado

Correio Braziliense
postado em 13/02/2020 04:06
Senado derruba imunidade de ex-ministro do Interior e abre caminho para que ele seja processado pela Justiça da Sicília pelos crimes de abuso de poder e sequestro por retenção de navio com mais de 100 imigrantes, no Mar Mediterrâneo, em junho passado



Está aberto o caminho para a Justiça da Catania, na Sicília, dar prosseguimento ao processo criminal em que Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga, está denunciado por abuso de poder e sequestro por ter bloqueado mais de 100 imigrantes no Mar Mediterrâneo. A autorização foi dada ontem pelo Senado, ao derrubar a imunidade parlamentar do ex-ministro italiano do Interior.

O processo pode dificultar as ambições políticas de Salvini, que deseja liderar um futuro governo de extrema-direita. Caso seja condenado, ele estará sujeito a uma pena de até 15 anos de prisão, que o impedirá de ocupar cargos públicos. De qualquer forma, um julgamento poderá levar anos para acontecer.

O próprio Salvini, porém, parece querer enfrentar os riscos. Em 21 de janeiro passado, ele pediu a aliados que votassem pelo prosseguimento do caso.

Ontem, antes da votação, o líder da Liga defendeu “com orgulho” sua ação como ministro — em junho do ano passado, ele impediu que 116 imigrantes desembarcassem na Itália por quase uma semana, enquanto estavam a bordo de um navio da Guarda Costeira.

“Não sei quanto custará em termos de pessoal e de dinheiro provar que sou um criminoso, mas não tenho medo e explicarei que defendi meu país”, afirmou Salvini, em entrevista ao jornal La Stampa. “Quero olhar o juiz nos olhos e explicar que defender as fronteiras do meu país é, para mim, um direito, um dever, e não um crime”, insistiu o político ultranacionalista.

O ex-ministro do Interior, que aplicou uma política rigorosa contra a imigração, com a qual conseguiu se tornar um dos líderes mais populares da península, considera justa a medida que envolveu o fechamento dos portos e o bloqueio de deslocados que arriscam suas vidas atravessando o Mediterrâneo.

Em junho de 2019, após um ano no governo, Salvini fortaleceu seus poderes após obter a aprovação de uma lei que o autorizava a limitar e até a impedir o trânsito de embarcações em águas italianas. Um mês depois, ele impediu o desembarque das 116 imigrantes que estavam no navio da Guarda Costeira.

Então ministro do Interior de um governo formado pela Liga e pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), Salvini esperava, com a medida, que os outros países europeus compartilhassem o fardo migratório. Mas não surtiu o efeito que ele queria.

Open Arms
Em julho, houve o caso do navio humanitário Open Arms, que ele bloqueou, por vários dias, em frente à ilha siciliana de Lampedusa. O caso ocorreu dias antes da crise que levou o primeiro-ministro Giuseppe Conte a renunciar. Dias depois, Conte foi reconduzido ao cargo e formou um novo governo, sem a Liga, que, agora, é minoria no Senado.

No próximo dia 27, uma comissão do Senado decidirá sobre a abertura de processo também no caso do navio Open Arms. De acordo com a Constituição italiana, o Parlamento pode impedir que um ministro seja processado por atos de sua gestão, se os parlamentares considerarem que agiu no âmbito de suas funções e no interesse do Estado.

Salvini aproveitou a sessão de ontem para enfatizar que a decisão de bloquear os imigrantes foi tomada coletivamente, pois era a linha adotada pelo governo e apoiada pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte. Para o premiê, que desde agosto lidera o novo governo, formado pelo Partido Democrata e o M5E, essa versão não corresponde à verdade.




“Quero olhar o juiz nos olhos e explicar que defender as fronteiras do meu país é, para mim, um direito, um dever, e não um crime”

Matteo Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga





Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags