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A batalha dos bilionários

Ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg e presidente Donald Trump trocam ofensas. Magnata democrata concentra a atenção na Super Terça, de 3 de março, quando 14 estados realizarão primárias para a escolha dos delegados do partido

Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 04:06
O quartel-general da campanha de Michael Bloomberg, em Manhattan, próximo à Times Square: pré-candidato chegou a ser acusado de pretender


Donald Trump, 74 anos, republicano, presidente dos Estados Unidos, dono de uma fortuna de US$ 3,1 bilhões e  810º homem mais rico do mundo. Michael Bloomberg, 78, democrata, ex-prefeito de Nova York, pretenso sucessor do republicano na Casa Branca e proprietário de um complexo midiático que lhe rendeu US$ 61,8 bilhões e o colocou em 12º na lista dos bilionários da revista Forbes. Os dois potenciais adversários nas eleições norte-americanas travaram, nas últimas horas, um embate acalorado nas redes sociais, com ofensas mútuas. “Mini Mike Bloomberg é um perdedor, que possui dinheiro, mas não pode debater e tem presença zero, vocês verão. Ele me lembra uma versão minúscula de Jeb ‘Energia Baixa’ Bush, mas Jeb tem mais habilidade política e tem tratado a comunidade negra de forma muito melhor do que Mini!”, escreveu Trump no Twitter, ao citar o irmão do ex-presidente  George W. Bush. “Mini Mike é uma massa de energia morta de 1,6m, que não está no palco do debate com esses políticos profissionais. (…) Ele odeia o Bernie Louco (Bernie Sanders) e, com dinheiro suficiente, provavelmente o deterá. O pessoal de Bernie vai enlouquecer.”

A resposta de Bloomberg veio no perfil do próprio presidente e quase no mesmo tom. “Donald Trump, nós conhecemos muitas das mesmas pessoas em Nova York. Nas suas costas, elas riem de você e o chamam de ‘palhaço de feira’. Eles sabem que você herdou uma  fortuna e a desperdiçou com negócios estúpidos e com incompetência. Eu tenho o histórico e os recursos para derrotar você. E eu o farei”, avisou. Bloomberg não participou do caucus de Iowa e das primárias de New Hampshire, e o nome dele estará oficialmente nas cédulas dos 14 estados que escolherão seus delegados na Super Terça, em 3 de março. O ex-prefeito de Nova York acaba de contar com a adesão de três membros da bancada afro-americana do Congresso: os deputados Gregory Meeks e Lucy McBath e a delegada Stacey Plaskett. O apoio pode sensibilizar o eleitorado negro e impulsionar  a pré-candidatura de Bloomberg, retirando votos do ex-vice-presidente Joe Biden.

Professor de ciência política da Universidade de Boston, Thomas Whalen Jr. afirmou ao Correio que, ao receber o endosso do trio de congressistas, Bloomberg essencialmente roubou o argumento de elegibilidade de Biden. “A crença de que o bilionário pode derrotar Trump é a principal razão pela qual importantes membros da bancada afro-americana legislativa se alinham atrás de sua candidatura. Na política, vencer é tudo. Bloomberg tem a aparência de um vencedor”, comentou. O especialista crê que a Super Terça será o grande teste de Bloomberg. “As indicações prematuras são de que ele se sairá muito bem. Eu não ficaria surpreso se ele ganhasse a condição de favorito”, disse.

Diferenças
Segundo Whalen, a guerra travada por meio do Twitter entre Bloomberg e Trump foi batizada nos Estados Unidos de “a batalha dos bilionários”. “A diferença está no fato de que Bloomberg é um bilionário real, sem o tipo de bagagem financeira, sem o rastro de falências e sem a explosão de credores, deixados por Trump”, afirmou.

Por sua vez, James Lance Taylor, cientista político da Universidade de São Francisco (Califórnia), vê com reticência a estratégia de Bloomberg de entrar com atraso na corrida eleitoral democrata. “Ele já oficializou a candidatura e utiliza sua vasta riqueza para abrir caminho até a Casa Branca. Para isso, conta com a Super Terça. Mas, essa mesma artimanha levou ao fracasso o também ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, em 2007, quando assumiu o perfil de ‘prefeito da América’. A mesma estratégia falhou para o ex-governador de Massachusetts Devall Patrick. Se funcionará para Bloomberg, é uma questão em aberto, que somente será respondida em 3 de março”, disse ao Correio. Ele entende que Bloomberg investirá recursos financeiros para escapar de um destino previsível de políticos cujos nomes são “grandes marcas”. Os adversários acusam o dono do complexo midiático de querer “comprar a eleição”.

Os próximos compromissos eleitorais dos democratas ocorrerão em 15 dias: o caucus de Nevada, em 22 de fevereiro, e as primárias da Carolina do Sul, uma semana depois. No caucus de Iowa, o vencedor foi o  ex-prefeito Pete Buttigieg; nas primárias de New Hampshire, o senador Bernie Sanders levou o maior número de delegados.




Pontos de vista


Por Thomas Whalen Jr.


Bomba atômica na campanha

“O impacto de Mike Bloomberg nas primárias democratas será o equivalente a uma bomba atômica política. Ele vai virar a corrida de cabeça para baixo com o dinheiro e os recursos midiáticos que terá à disposição. Ele ainda não participou das primárias ou do caucus e já desponta como o terceiro colocado entre os candidatos presidenciais, de acordo com algumas pesquisas. Joseph P. Kennedy, o patriarca da dinastia Kennedy, disse uma vez que há três coisas que levam alguém a ser eleito a altos cargos. A primeira é dinheiro, a segunda é dinheiro, e a terceira é... dinheiro. Hoje, aparentemente, não é diferente.”

Professor de ciência política da Universidade de Boston

   


Por James Lance Taylor


Estratégia pouco comum


“Bloomberg tenta uma estratégia de campanha não convencional, porém, não inédita. O também ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani entrou nas primárias republicanas de 2007 com atraso, e jamais se recuperou. Bloomberg está atraindo a atenção devido à luta ideológica entre a esquerda do Partido Democrata e o flanco direito da legenda. A campanha de Bloomberg está respondendo tanto à ameaça de uma indicação progressiva de Bernie Sanders quanto a Trump e à campanha reacionária do presidente. Bloomberg tem a oportunidade de se apresentar como salvador da ala moderada. A elegibilidade ou a capacidade de derrotar Trump é o que une os democratas.”

Professor de ciência política da Universidade de São Francisco



Críticas à política externa da Casa Branca
O ex-chefe de gabinete da Casa Branca e uma antiga embaixadora americana fizeram fortes críticas ao presidente dos EUA por sua política externa “amoral” e “ilegal”, que o levou a ser julgado num processo de impeachment. Em um inusitado discurso na quarta-feira, o general aposentado John Kelly, que foi chefe de gabinete entre 2017 a 2019, defendeu o assessor de segurança nacional Alexander Vindman, que testemunhou contra Trump na Câmara e foi despedido na sexta-feira. Vindman emitiu um informe após escutar Trump falar em julho com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e exigir uma investigação contra Joe Biden. Esse oficial do Exército reagiu como deveria fazê-lo ao escutar “uma ordem ilegal”, disse Kelly, segundo o site The Atlantic. Por sua vez, a ex-embaixadora de Washington na Ucrânia, Marie Yovanovitch, comentou que a política externa de Trump é “amoral” e baseada em ameaças.





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