Correio Braziliense
postado em 14/02/2020 04:06
No ano-novo de 2019, a nave New Horizons, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), voou próximo a um objeto de estrutura bastante curiosa e inexplorada. Vermelho e com formato de amendoim, ele é basicamente um solitário no Sistema Solar: a 1,6 bilhão de quilômetros de Plutão, Arrokoth (céu, em um idioma nativo-americano), situado no cinturão de Kuiper, é o corpo mais distante do Sol: fica a 6,5 bilhões da estrela. Agora, na reunião anual da Associação Norte-Americana de Avanço da Ciência (AAAS), pesquisadores revelaram detalhes sem precedentes de Arrokoth, um fóssil que ajudará a desvendar muitos mistérios sobre a origem dos planetas.
“Arrokoth nos surpreendeu. Ele nos conta muitas verdades sobre nosso Sistema Solar. Ele não é apenas uma ‘batata espacial’. É um mundo notável, que nos revelou uma história notável”, disse, em uma coletiva de imprensa, Bill McKinnon, cientista planetário da Universidade de Washington em St. Louis, principal autor do trabalho de um dos três artigos que descrevem o objeto, publicados na revisa Science. De acordo com McKinnon, Arrokoth pode resolver um problema de décadas, que ainda divide os cientistas: como os planetas se originaram, na poeira do Sistema Solar.
O objeto está localizado numa região conhecida por abrigar diversos fósseis espaciais, remanescentes de uma época em que os planetas apenas começavam a se formar. Arrokoth se encontra em um ponto do cinturão de Kuiper na fronteira com a chamada nebulosa solar: uma grande nuvem de poeira e gás ao redor do Sol, então um “recém-nascido” de 1 bilhão de anos (a idade da estrela foi calculada em 4,5 bilhões de anos. Era para o “amendoim” ou “batata espacial” ter se transformado em um planeta. Porém, o processo foi interrompido por falta de material suficiente para que se desenvolvesse. Por isso, estudá-lo significa também estudar as etapas de formação planetária.
Suavidade
Há duas hipóteses que concorrem para explicar esse fenômeno. Em uma delas, pequenos grãos se aglomeravam e se atraíam, criando objetos cada vez maiores. Esses corpos foram colidindo aleatoriamente e violentamente com outros, acumulando a matéria da qual são feitos.
O outro cenário, que Arrokoth parece confirmar, é o do colapso das nuvens. Algumas regiões da nebulosa, com densidade de partículas mais altas que as demais, atraíam os aglomerados, que se colidiam suavemente com objetos com centenas de quilômetros de diâmetro.
“A aparência e a composição de Arrokoth fornecem evidências convincentes em apoio à teoria do colapso da nuvem. As imagens não mostram sinais de violência, fraturas; os dois lobos não parecem esmagados”, disse Alan Stern, principal cientista da New Horizons. As duas formações do objeto são uniformes tanto em cor quanto em composição (moléculas orgânicas complexas). De acordo com Stern, isso significa que os fragmentos orbitavam próximos, e não em locais aleatórios.
Os cientistas da New Horizon afirmaram, na coletiva de imprensa, que, no futuro, será necessário enviar mais sondas exploratórias ao cinturão. Assim, poderão ter ainda mais detalhes sobre a composição e o processo de formação desses fósseis espaciais.
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