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Morte de Poe não foi autoinfligida

Correio Braziliense
postado em 25/02/2020 04:17
O autor de O corvo sofreu diversos episódios de depressão severa

Uma análise computacional da linguagem usada pelo escritor Edgar Allan Poe revelou que é improvável que sua morte misteriosa tenha sido suicídio. O autor, poeta, editor e crítico literário morreu em 1849, depois de passar vários dias no hospital em estado de delírio. Até o momento, a morte de Poe continua sendo um enigma não resolvido, tendo o poeta contemporâneo Charles Baudelaire até especulando que o incidente foi “quase um suicídio, um suicídio preparado por um longo tempo”.

Mas o psicólogo Ryan Boyd, da Universidade de Lancaster, e sua colega Hannah Dean, da Universidade do Texas em Austin, descobriram que os marcadores psicológicos de depressão de Poe não são consistentes com suicídio. A pesquisa foi publicada no Journal of Affective Disorders. “Meu palpite é que ele estava realmente entrando em depressão perto do fim de sua vida, mas não se suicidou.”

Usando análise de linguagem computadorizada, os pesquisadores analisaram 309 das cartas pessoais de Poe, 49 poemas e 63 contos e estudaram se um padrão de pistas linguísticas consistentes com depressão e comportamento suicida eram discerníveis ao longo da vida do escritor, principalmente em seus últimos anos. Eles se concentraram em cinco medidas que foram estabelecidas como diagnóstico de depressão e/ou suicídio: maior uso de pronomes singulares na primeira pessoa (por exemplo, palavras como eu e meu); maior uso de palavras de emoção negativa (ruim, triste, zangado); mais processamento cognitivo de palavras (pense, entenda, saiba); menos palavras de emoção positiva (feliz, bom, fantástico); menos pronomes plurais em primeira pessoa (nós, nosso).

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Esses marcadores linguísticos de depressão dispararam durante eventos negativos na vida de Poe, como na morte de sua esposa. Pesquisas anteriores mostraram que os padrões de linguagem depressiva tendem a subir dramaticamente em pessoas que morreram por suicídio. No entanto, esse padrão não emergiu consistentemente no último ano da vida de Poe.

O poeta era conhecido por ter sofrido crises regulares de depressão grave e também tinha problemas com drogas e álcool. Ele perdeu seus pais aos 2 anos e foi devastado pela morte da mãe adotiva e, depois, pela de sua própria esposa, Virginia Clemm Poe, em 1847. Contudo, os pesquisadores ressaltam que não há indicativos, na obra do autor, de que Poe tivesse comportamento suicida.

“Padrões significativos e consistentes de depressão não foram encontrados e não apoiam o suicídio como causa de morte”, disseram os autores do artigo. “No entanto, foram encontradas evidências linguísticas sugerindo a presença de vários episódios depressivos em potencial ao longo da vida de Poe — eles foram mais pronunciados durante os anos de maior sucesso do poeta, bem como nos anos que se seguiram à morte de sua falecida esposa.”



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