Correio Braziliense
postado em 26/02/2020 04:05
O Egito decretou três dias de luto pela morte do ex-ditador Hosni Mubarak, que comandou o país por três décadas até ser derrubado do poder, em fevereiro de 2011, em meio aos protestos da Primavera Árabe. Aos 91 anos, ele estava internado no hospital militar Galaa, no Cairo. Desde que foi obrigado a renunciar, após 18 dias de uma revolta popular sem precedentes contra seu regime, muitos boatos circulavam sobre seu estado de saúde. A causa da morte não foi divulgada.
De acordo com a imprensa egípcia, o funeral militar de Mubarak será realizado hoje. A Presidência do Egito, ocupada pelo general Abdel Fatah al-Sisi, publicou um comunicado de condolências, que apresenta o ex-ditador como “um herói da guerra de outubro de 1973”, travada por uma coalizão de países árabes contra Israel, durante a qual ele comandou a Força Aérea.
Depressão aguda, câncer, acidentes cardiovasculares ou problemas respiratórios foram algumas das hipóteses citadas a respeito da saúde do ex-presidente, que passou diversas vezes, ao longo dos últimos anos, pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.
Em 24 de janeiro passado, seu filho Alaa Moubarak anunciou no Twitter que o pai havia sido submetido a uma cirurgia e que estava bem. Ontem, a notícia de sua morte foi confirmada e divulgada pela imprensa egípcia, incluindo canais de televisão e o jornal Al Ahram.
Repercussão
Adversários políticos de Mubarak também se manifestaram. Mohamed el Baradei, prêmio Nobel da Paz e figura de destaque da oposição liberal ao autocrata, expressou pêsames à família. Exilado na Turquia, Ayman Nur, candidato à Presidência em 2012, escreveu em um tuíte de condolências que “perdoa” o ex-presidente.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu elogiou o egípcio como um “amigo pessoal, um líder que conduziu seu povo à paz e à segurança, à paz com Israel”. Por sua vez, o presidente palestino, Mahmud Abbas, ressaltou o compromisso do ex-ditador com a “liberdade e a independência” do povo palestino. O Egito de Mubarak teve um papel de mediador nos momentos de grande tensão entre palestinos e israelenses.
À frente de um regime marcado pelos abusos policiais e a corrupção, Mubarak foi o primeiro presidente egípcio a ser processado, mas acabou absolvido da maioria das acusações. “Minha vida vai se aproximando do fim. Graças a Deus, tenho a consciência tranquila e estou feliz de ter passado (minha vida) defendendo o Egito”, declarou Mubarak durante um de seus julgamentos.
Os problemas dele com a Justiça foram ofuscados pela chegada ao poder da Irmandade Muçulmana, em 2012, e pela destituição, um ano depois, do presidente Mohamed Morsy por Al-Sisi, que assumiu o país um ano depois.
Longevidade
A abertura econômica adotada durante os últimos anos de seu governo gerou o crescimento do país, mas também o aumento das desigualdades, do descontentamento social e da corrupção. Mubarak foi o chefe de Estado que passou mais anos no poder desde a abolição da monarquia, em 1953. Ele manteve o estado de emergência durante todo o tempo em que comandou o país.
Com o passar dos anos, contudo, a aversão dos egípcios por Mubarak foi mudando para uma indiferença misturada à nostalgia, pois muitos passaram a considerar seu período no poder como uma época de estabilidade.
A defesa dos acordos de paz de 1979 com Israel e a fama de “moderado” no mundo árabe renderam a Hosni Mubarak amigos nos Ocidente, sobretudo nos Estados Unidos, grande aliado do Egito desde então.
O ex-presidente escapou ileso de várias tentativas de assassinato, incluindo uma em Adis Abeba, a capital da Etiópia, em 1995, quando criminosos cortaram a passagem de sua comitiva e abriram fogo contra seu veículo, blindado, que havia sido transportado do Cairo.
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