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Nada de libertar prisioneiros

Presidente do país recusa cláusula do acordo assinado entre os EUA e o Talibã para soltar milhares de insurgentes

Correio Braziliense
postado em 02/03/2020 04:05
Ashraf Ghani sobre libertação: %u201CNão depende da autoridade dos EUA%u201D

A trégua parcial de uma semana no Afeganistão continuará com o objetivo de um “cessar-fogo completo”, declarou, ontem, o presidente Ashraf Ghani, que rejeitou, porém, uma cláusula do acordo assinado no dia anterior entre os Estados Unidos e o Talibã pedindo a libertação de milhares de prisioneiros insurgentes.

Durante a semana de “redução da violência”, o número de ataques em todo o país diminuiu significativamente. Essa trégua parcial precedeu a assinatura em Doha, no sábado, de um acordo histórico entre os Estados Unidos e os insurgentes afegãos.

Conforme o pacto, Washington e seus aliados prometem retirar todas as suas tropas do Afeganistão em 14 meses, se o Talibã respeitar os termos do acordo, incluindo o início de negociações com o governo para alcançar uma paz duradoura. “A redução da violência continuará com o objetivo de alcançar um cessar-fogo completo”, assegurou Ghani, em entrevista coletiva em Cabul. Ele explicou que o Talibã foi informado da decisão pelo general Scott Miller, chefe das forças americanas no país.

Embora ainda não haja cessar-fogo total, o drástico declínio dos ataques do Talibã na semana passada encheu os afegãos de esperança. Nas ruas, houve festas e comemorações, com pessoas dançando. Mas ainda há um longo caminho a percorrer antes de um verdadeiro acordo de paz neste país devastado por conflitos por mais de quatro décadas, e no qual os Estados Unidos estão presentes militarmente desde o fim de 2001. A intervenção americana ocorreu após os ataques de 11 de setembro daquele ano, realizados pela Al-Qaeda a partir do país asiático.

A primeira divergência surgiu um dia após a assinatura do acordo EUA-Talibã, quando Ghani rejeitou a cláusula que pede aos insurgentes que libertem até mil prisioneiros, e o governo afegão, que liberte cerca de 5 mil prisioneiros talibãs. “Não há compromisso para libertar 5 mil prisioneiros”, afirmou o presidente, indicando que a troca “poderia fazer parte da agenda de negociações entre as partes afegãs, mas não uma condição para as negociações”. Qualquer libertação de prisioneiros “não depende da autoridade dos Estados Unidos, mas da autoridade do governo afegão”, insistiu Ghani.

As negociações entre o governo dele e o Talibã devem começar em 10 de março, segundo o acordo assinado em Doha. Essas discussões são uma condição para a retirada das tropas americanas. Até agora, os insurgentes se recusaram a negociar com o governo Ghani, que eles descreveram como um fantoche de Washington. Mas, para essas tratativas, o presidente afegão terá de nomear uma delegação, algo que será complicado, pois ele está imerso em uma crise política interna, depois que sua reeleição foi contestada por seu principal adversário, Abdullah Abdullah. Washington, por sua vez, ainda não reagiu à reeleição dele.

Apesar da incerteza em torno do acordo de Doha, reina uma sensação de alívio nas ruas de Cabul, onde seus habitantes podiam andar sem medo de ataques.

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