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Um quarto da Itália em quarentena

Elogiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), medida foi tomada para conter o avanço da epidemia no país, que, agora, é o segundo mais afetado pela Covid-19, depois da China. Museus, bares, cinemas e estabelecimentos similares fecharão as portas

Correio Braziliense
postado em 09/03/2020 04:35
Elogiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), medida foi tomada para conter o avanço da epidemia no país, que, agora, é o segundo mais afetado pela Covid-19, depois da China. Museus, bares, cinemas e estabelecimentos similares fecharão as portas

Vinte e cinco por cento da população italiana está em quarentena, depois de uma decisão inédita do governo, que tenta conter uma epidemia que, em 24 horas, foi responsável por 133 mortes. O decreto, sancionado ontem pelo primeiro-ministro, Giuseppe Conte, atinge 15 milhões de pessoas — o número de habitantes da Lombardia, local mais afetado pelo coronavírus. Até ontem, foram registrados 4.189 casos e 267 óbitos na mais populosa região da Itália. No domingo, o número de casos positivos em todo o país subiu para 7.375 (366 mortes); ou seja, 1.492 a mais desde o balanço divulgado um dia antes.

O governo também determinou o fechamento de museus, teatros, cinemas, salas de concertos, pubs, salões de jogos e outros estabelecimentos similares em toda a Itália, até 3 de abril. As competições esportivas ficam suspensas, embora alguns eventos possam ser realizados a portas fechadas, sem público.

O ministro dos Esportes, Vincenzo Spadafora, pediu a suspensão imediata da Série A de futebol, também no contexto de rápida propagação do novo coronavírus. “Não tem sentido agora, quando estamos pedindo aos cidadãos enormes sacrifícios para prevenir a propagação da epidemia, pôr em risco a vida de jogadores, árbitros, torcedores que, certamente, vão se reunir para ver as partidas, não suspender o futebol temporariamente”, declarou, em mensagem publicada no Facebook. Escolas e universidades já haviam recebido ordem para cancelarem as aulas até meados de março.

Por força do decreto, as viagens para entrar e sair de uma grande área no norte da Itália — de Milão, capital econômica do país, a Veneza, meca do turismo mundial — passaram a ser severamente limitadas. Só serão aceitos os deslocamentos que obedeçam a “imperativos profissionais verificáveis e a situações de urgência por razões de saúde”.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou as medidas, classificando-as de “verdadeiros sacrifícios”. “O governo e a população da Itália estão tomando medidas audaciosas e corajosas para conter a propagação do coronavírus e proteger seu país e o mundo. Fazem verdadeiros sacrifícios”, tuitou Ghebreyesus. As providências adotadas por decreto são similares às aplicadas em Hubei, a província chinesa onde surgiu a doença em dezembro passado. Lá, 56 milhões de pessoas foram isoladas em quarentena.





Irã
Ontem, a Arábia Saudita também determinou o confinamento temporário da região de Qatif, no leste, de maioria xiita, onde foram registrados 11 casos até ontem. A maioria, em pessoas recém-chegadas do Irã. “Em conformidade com as medidas de precaução recomendadas pelas autoridades sanitárias competentes (...) as entradas e saídas da região de Qatif estão temporariamente suspensas”, disse uma fonte do Ministério do Interior saudita à agência oficial de notícias SPA. Com mais de 6,5 mil casos e 194 óbitos até o momento, o Irã é um dos países mais afetados no mundo pela epidemia da Covid-19.

Em 24 horas, de sábado para domingo, 49 pessoas morreram pelo novo coronavírus, o maior número registrado desde o primeiro caso iraniano, em 19 de fevereiro. Com isso, a Iran Air anunciou a suspensão de todos os voos para a Europa até novo aviso. Segundo sites especializados, a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) teria proibido três aviões da companhia nacional de aviação iraniana — um Airbus A321-200 e dois Airbus A330-200 — de voarem para o continente no mês passado.




Oração por streaming
Pela primeira vez no papado de Francisco, a tradicional oração dominical do Ângelus foi transmitida aos fiéis por streaming. Da biblioteca do Palácio Apostólico, o pontífice afirmou que se sentia próximo dos pacientes afetados pelo coronavírus e, depois da mensagem, aproximou-se da janela para abençoar as poucas pessoas espalhadas pela Praça de São Pedro. O Vaticano anunciou, no sábado, que o papa faria a oração direto da página Vatican News, em vez de se expor na sacada do palácio, para atender às medidas exigidas pelo governo italiano de contenção do vírus. Essa é a primeira vez que Francisco recorre ao sistema, usado no passado por João Paulo II, quando estava muito doente.




Para saber mais

Medida medieval

As quarentenas foram inventadas na Idade Média, em resposta a grandes epidemias que assolaram o continente europeu, como peste, cólera e febre amarela. Para se proteger das pragas, surgiram nos séculos 14 e 15 as primeiras medidas documentadas de isolamento de navios procedentes de regiões infestadas, em Dubrovnik (Croácia), em 1377, e depois em Veneza (Itália), a partir de 1423. A duração imposta do isolamento, 40 dias, deu origem à palavra quarentena.

Os estabelecimentos que recebiam as tripulações confinadas levavam o nome de lazaret, deformação do nome da ilhota na lagoa veneziana onde atracavam os navios, Santa Maria di Nazaret, ou referência ao leproso da Bíblia, Lázaro. As quarentenas logo foram regularmente adotadas na Europa durante epidemias, até a grande pandemia de cólera que afetou o continente nos anos 1830.


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