Correio Braziliense
postado em 10/03/2020 12:33
Badhoevedorp, Holanda - A Rússia tenta "obstruir ativamente" a investigação da queda do voo MH17, denunciaram nesta terça-feira os procuradores holandeses, no segundo dia do julgamento na Holanda de três russos e um ucraniano acusados de terem causado a explosão da aeronave sobre a Ucrânia em 2014.Os procuradores acusaram a Rússia de tentativas de ataques cibernéticos contra os investigadores e levantaram preocupações de que Moscou tente encontrar testemunhas.
"Há indícios claros de que os serviços de segurança russos estão tentando obstruir ativamente os esforços para estabelecer a verdade por trás do acidente do voo MH17", disse o procurador Thijs Berger aos juízes do tribunal de Schiphol, Amsterdã.
O Boeing 777 da Malaysian Airlines, partindo de Amsterdã para Kuala Lumpur em 17 de julho de 2014, foi atingido em pleno voo por um míssil BUK de fabricação soviética sobre a área de conflito armado com os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia. As 298 pessoas a bordo, incluindo 196 holandeses, morreram.
"As autoridades britânicas e holandesas determinaram que os agentes russos do GRU (inteligência militar russa) estiveram envolvidas nas tentativas de invasão dos sistemas das autoridades investigativas da Malásia", disse Berger.
O procurador também mencionou tentativas de ciberataque contra o Gabinete Holandês de Investigação para a Segurança (OVV), que inicialmente coordenou a investigação sobre o desastre. Para ele, "essa informação lança uma sombra" no julgamento, que foi aberto na segunda-feira, apesar da ausência dos suspeitos.
A equipe internacional de investigadores, liderada pela Holanda, estabeleceu em maio de 2018 que o avião havia sido abatido por um míssil da 53ª brigada antiaérea russa baseada em Kursk (sudoeste).
Após essas revelações, a Holanda e a Austrália, que perdeu 38 cidadãos na tragédia, culparam abertamente a Rússia pelo desastre. Moscou sempre negou veementemente qualquer envolvimento e atribuiu a culpa a Kiev.
Medo por suas vidas
"O tribunal deixou claro que o governo russo realiza uma campanha de desinformação. E teremos que estar preparados para novas tentativas de distorção da verdade à medida que o caso avança", disse Anton Kotte, que perdeu seu filho, nora e neto no desastre.
Segundo os procuradores holandeses, há um "risco real para a segurança das testemunhas" nesta investigação, algumas das quais darão testemunhos anônimos.
"O uso dos serviços de segurança russos para descobrir a identidade das testemunhas nesta investigação é um cenário muito real. Essas agências têm a capacidade de interceptar comunicações e monitorar os movimentos das pessoas", apontou Berger.
"Várias testemunhas nesta investigação dizem que temem por suas vidas se sua identidade for revelada", afirmou.
"Medidas específicas" tiveram que ser tomadas, em particular, para proteger uma testemunha que disse que soldados russos estavam com o míssil BUK no local do lançamento no dia do acidente do voo MH17, acrescentaram os procuradores.
Os russos Serguei Dubinsky, Igor Guirkin e Oleg Pulatov, bem como o ucraniano Leonid Khartchenko, quatro oficiais de alto escalão dos separatistas pró-russos do leste da Ucrânia, são processados por assassinato e por causar deliberadamente a queda do avião.
Esses primeiros suspeitos indiciados no caso são acusados de fornecer o sistema de mísseis antiaéreos BUK, antes de ser disparado por outras pessoas não identificadas. Dubinsky, Guirkin e Khartchenko serão julgados à revelia, enquanto Pulatov optou por ser representado por um advogado holandês.
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