Correio Braziliense
postado em 11/03/2020 04:07
O caso de Adam Castillejo é considerado um avanço. Segundo a equipe de pesquisadores europeus, o Paciente de Londres representa um passo em direção a uma abordagem de tratamento menos intensiva, mostrando que a remissão a longo prazo do HIV pode ser alcançada usando esquemas de drogas de intensidade reduzida, apenas um transplante de células-tronco e sem irradiação total do corpo.
No atual estágio, os pesquisadores reconhecem que o método ainda não é uma solução para as pessoas que têm Aids. Isso porque o procedimento segue sendo arriscado, além de levantar questões “éticas”, ressalta Ravindra Gupta. “Temos que colocar na balança a taxa de mortalidade de 10% para um transplante de células-tronco e o risco de morte, se não fizermos nada”, justifica o pesquisador da Universidade de Cambridge.
“Os pacientes de Londres e Berlim são exemplos do uso do gene CCR5 em terapias curativas, sem a edição de genes. Ainda existem muitas barreiras éticas e técnicas a serem superadas antes de qualquer abordagem. O uso da edição do gene com foco no CCR5 pode ser considerado como uma estratégia de cura escalável para o HIV futuramente, mas muito ainda precisa ser analisado”, comenta Dimitra Peppa, pesquisador da Universidade de Oxford e também autor do estudo.
Para Werciley Júnior, médico infectologista e coordenador de Infectologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, os cientistas foram prudentes e seguiram um protocolo antes de anunciar a cura. “Mesmo com os resultados anteriores, não era possível determinar uma condição dessa, pois eles precisavam de mais tempo, pelo menos dois anos sem a presença do vírus.”
O especialista brasileiro também acredita que um destaque positivo da pesquisa é a evolução do tratamento a que os pacientes foram submetidos. “Nesse último caso, não temos o uso da radiação, e isso mostra que as ferramentas necessárias aplicadas para chegar a cura estão diminuindo. É um passo importante, pois nos dá a esperança de que seja mais fácil usar esse recurso em mais pessoas, ou seja, de que ele possa ser popularizado”, opina.
O infectologista ressalta, ainda, que a alternativa usada pelos cientistas foi escolhida devido ao perfil dos pacientes. Por isso, ainda não se aplica a outras pessoas soropositivas. “São casos isolados, em que a única alternativa era o transplante, que é algo arriscado. Mas acredito que, com o tempo, isso possa ser usado de outra forma. Um dos principais objetivos no combate ao HIV é atacar os reservatórios do vírus, e essa foi uma alternativa que conseguiu sanar esse problema, o que é algo muito positivo”, afirma. (VS)
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