Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 15:24
Pequim, China - A tensão entre os Estados Unidos e a China em meio à pandemia do novo coronavírus aumentou nesta terça-feira (17/3), quando as autoridades de Pequim protestaram depois que Donald Trump descreveu o patógeno como "vírus chinês". É o último capítulo de uma série de desacordos entre os dois países nesta crise global da saúde. Nos últimos dias, várias autoridades chinesas divulgaram teorias sobre uma suposta conspiração e até apontaram que o coronavírus foi trazido para a China pelos militares dos EUA.
Por sua parte, os membros do governo Trump usam termos para descrevê-lo que estigmatizam a China. "Os Estados Unidos apoiarão fortemente as indústrias, como companhias aéreas e outras, que são particularmente afetadas pelo vírus chinês", escreveu Trump no Twittter na segunda-feira.
Mais tarde, o presidente americano foi ainda mais explícito. O vírus "veio da China. Acho que esta é uma fórmula muito precisa", disse Trump. "A China difunde informações erradas de que nosso exército teria transmitido o vírus. Em vez de me meter em polêmica, disse: chamarei ele usando o país de onde vem".
Vários aliados de Trump já se referiram à pandemia como "coronavírus chinês". A China reagiu nesta terça-feira, dizendo que está "indignada" com essa expressão, que considera uma forma de "estigmatização".
Os Estados Unidos devem "cessar imediatamente suas acusações injustificadas contra a China", disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang.
A agência de notícias chinesa Xinhua afirmou que usar "termos racistas e xenófobos para culpar outros países pelo surto revela a irresponsabilidade e incompetência dos políticos que apenas intensificam o medo do vírus".
Alimentar a intolerância
A guerra de declarações reacende as tensões entre os dois países, constantes desde a chegada de Trump à presidência, principalmente em relação ao comércio. Os comentários de Trump também foram criticados nos Estados Unidos por medo de criar tensões com a comunidade asiática no país.
"Nossa comunidade asiático-americana - pessoas a quem você serve - está sofrendo muito. Elas não precisam de você para alimentar a intolerância", escreveu no Twitter o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, cujo estado é um dos mais afetados pelo vírus nos Estados Unidos.
O novo coronavírus foi detectado pela primeira vez na China em dezembro do ano passado. As autoridades disseram que ele apareceu em um mercado de Wuhan onde animais vivos estavam sendo vendidos. Mas, desde então, a China tem mantido reserva sobre a natureza do vírus e diz que sua origem é desconhecida.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em conversa telefônica com Yang Jiechi, uma autoridade chinesa, expressou seu descontentamento pelo fato de os canais oficiais chineses "agora acusarem os Estados Unidos pelo Covid-19", segundo o Departamento de Estado.
Pompeo enfatizou que "agora não é o momento de espalhar desinformação e rumores, mas de unir todos os países para combater essa ameaça comum", segundo seu gabinete. Na sexta-feira, o Departamento de Estado chamou o embaixador chinês nos Estados Unidos, Cui Tiankai, para denunciar as teorias da conspiração espalhadas por Pequim, muito presentes nas redes sociais.
Um porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, sugeriu na semana passada no Twitter que o "paciente zero" da pandemia pode ter vindo dos Estados Unidos.
Por sua parte, Pompeo vinculou o vírus à China, falando várias vezes do "vírus de Wuhan", apesar dos profissionais da saúde refutarem esse tipo de apelo geográfico e preferirem um nome neutro para se referir à doença.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.