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Sauditas veem preço do petróleo afundar e se preparam para o pior

A maior das economias árabes espera grandes perdas, em um contexto de atividade perturbada pelas medidas de combate ao coronavírus

Correio Braziliense
postado em 18/03/2020 11:36
A maior das economias árabes espera grandes perdas, em um contexto de atividade perturbada pelas medidas de combate ao coronavírusRiade, Arábia Saudita - Hotéis vazios e salões de beleza fechados. Os sauditas se preparam para o colapso de sua economia devido à pandemia de coronavírus e às possíveis medidas de austeridade causadas pela queda do preço do petróleo, causada em parte pelas autoridades de Riad.

A maior das economias árabes espera grandes perdas, em um contexto de atividade perturbada pelas medidas de combate ao coronavírus. A Arábia Saudita, principal exportadora mundial de petróleo, também é afetada pela queda nos preços do barril, para menos de US$ 30 esta semana, pela primeira vez em quatro anos.

"Estamos em crise!", diz uma autoridade saudita. "Tudo é imprevisível, devemos nos preparar para o pior", adverte, assegurando que começou a converter parte de seu salário em dólares e moedas de ouro, um porto seguro. No centro de Riad, um joalheiro explica que também decidiu converter "quantias significativas de dinheiro" em ouro.

Cortes 


Os sauditas temem cortes nos subsídios estatais, bem como a supressão de empregos nos setores público e privado ou redução das bolsas de estudos no exterior, em um contexto de alto desemprego.

O ministro das Finanças pediu às agências do governo que apresentassem propostas para reduzir o orçamento deste ano entre 20 e 30%, segundo a consultora Nasser Saidi and Associates. 

"Provavelmente será na forma de adiamento de projetos ou atrasos na atribuição de contratos, entre outros", afirma em nota. O país prepara várias hipóteses orçamentárias com um preço por barril de petróleo entre US$ 12 e US$ 20, aponta o Energy Intelligence Group.

"A confiança da população depende dos gastos públicos e do petróleo, e ambos estão em queda", aponta um consultor de um ministério saudita para um grande projeto. "Não sabemos se teremos nossos empregos amanhã".

Essa rica monarquia petrolífera, que antes gastava sem contar, pediu aos ministérios que notifiquem "cada centavo" que gastam, segundo o consultor. Vários hotéis de Riad, muitos deles vazios devido à falta de turistas, foram forçados a enviar seus funcionários para casa sem pagamento.

Alguns foram requisitados pelas autoridades para colocar pessoas em quarentena, de acordo com vários funcionários e clientes, que foram forçados a sair rapidamente do local.

Lei do mais forte 


O colapso do petróleo foi favorecido pela decisão da Arábia Saudita de aumentar sua produção a partir de abril e diminuir seus preços, em retaliação à recusa da Rússia em reduzir a oferta para enfrentar a queda na demanda, causada pelo coronavírus.

A Arábia Saudita ignorou as críticas de que essa decisão poderia afetar outros exportadores de petróleo. "O tempo em que a Arábia Saudita sofria os choques do mercado de petróleo em nome da economia e de outros produtores provavelmente terminou", diz o especialista saudita Ali Shihabi. 

"No jogo da energia (...) a lei é a do mais forte", ressalta. A Arábia Saudita possui enormes reservas fiscais de cerca de US$ 500 bilhões e deseja continuar sendo um produtor de petróleo de baixo custo, capaz de suportar preços baixos por anos.

Mas Riad já tem um déficit orçamentário significativo há vários anos, em um contexto de queda de preços. Acumula déficit de US$ 350 bilhões. O país pediu empréstimos de mais de US$ 100 bilhões e usou suas reservas para lidar com esse problema.

Os projetos faraônicos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para diminuir a dependência do petróleo agora parecem vulneráveis. Para equilibrar seu orçamento, a Arábia Saudita precisa de um preço de barril de cerca de US$ 80.






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