Correio Braziliense
postado em 18/03/2020 13:09
Paris, França - A Europa superou nesta quarta-feira (18/3) a Ásia em número de mortes provocadas pelo coronavírus e a epidemia continua avançando pelas ruas desertas do continente e do resto do mundo, apesar das medidas de confinamento decretadas, que deixam metade dos estudantes do mundo sem aulas.A Europa registra 3.421 mortes, contra as 3.384 vítimas fatais da Ásia, onde surgiu a epidemia. A Itália é o país europeu mais afetado, com 2.503 falecimentos. Em todo o mundo, a pandemia já matou mais de 8.000 pessoas e infectou mais de 200.000, de acordo com um balanço da AFP que contabiliza dos dados oficiais.
Milhões de pessoas em dezenas de países e regiões continuam confinadas em suas casas. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) informou nesta quarta-feira que metade dos estudantes do mundo, ou seja, mais de 850 milhões de crianças e adolescentes, estão sem aulas devido à pandemia.
Com o fechamento total de escolas e universidades em 102 países e o fechamento parcial em outros 11 em consequência da pandemia do COVID-19, o número de estudantes sem aulas dobrou em quatro dias e deve continuar aumentando, destacou a Unesco.
Em países europeus como Itália, Espanha e França, o confinamento é praticamente total. A Bélgica se uniu nesta quarta-feira à lista de países que decretara o isolamento a população.
As autoridades permitem a saída apenas para a compra de alimentos ou remédios, para o trabalho - nos casos em que o trabalho remoto é impossível - ou para breves passeios com os cães, que viraram uma espécie de "salvo-conduto" para sair de casa.
Qualquer tentativa de burlar o confinamento pode ser punida com multa. Na cidade espanhola de Palencia, por exemplo, um homem foi repreendido pela polícia por passear com um cachorro de pelúcia.
O mais duro está por vir
Nesta quarta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, admitiu que os líderes políticos subestimaram a magnitude do perigo representado pela epidemia do novo coronavírus. "Entendemos que todas as medidas, que há duas ou três semanas pareciam drásticas e draconianas, deveriam ser tomadas", afirmou em uma entrevista.
Na Espanha, o quarto país mais afetado no planeta, com mais de 13.700 casos confirmados e 598 mortes, o primeiro-ministro Pedro Sánchez advertiu que os próximos dias serão mais duros.
"O mais duro ainda está por vir, quando nosso sistema sanitário receber o impacto do maior número de pessoas infectadas, com os dias de isolamento prolongados, quando se manifestarem as consequências econômicas da pandemia do novo coronavírus", afirmou o chefe de Governo.
Na França, que nesta quarta-feira passa pelo segundo dia de confinamento total, os emblemáticos locais turísticos de Paris estavam desertos. O governo teve que recordar às empresas e cidadãos que o país não poderia ser totalmente paralisado e que os setores essenciais da economia tinham que seguir trabalhando para proporcionar, por exemplo, alimentos à população.
Na Itália, concretamente na região da Lombardia (norte), a mais afetada pela pandemia, as autoridades começaram a vigiar os cidadãos por seus smartphones, já que as estimativas são de que apenas 60% da população respeita a ordem de permanecer em casa. O país já registrou mais de 3.400 mortes provocadas pelo vírus.
Na América Latina, com mais de 1.200 contágios e nove mortes confirmadas, o Chile, que registra quase 200 casos de contágio, decretou "estado de catástrofe" e enviou os militares às ruas.
Colômbia e Bolívia anunciaram emergência sanitária. Na Argentina os voos domésticos, viagens de ônibus e trens de longa distância foram interrompidos durante cinco dias para evitar a circulação interna de turistas. No Brasil, com 290 casos confirmados, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que existe uma "certa histeria" nas reações mundiais à pandemia.
Ajudas que não tranquilizam os mercados
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump fará novos anúncios nesta quarta-feira sobre as medidas que o país está adotando para enfrentar a pandemia. No Twitter, ele já anunciou o fechamento da fronteira com o Canadá ao tráfego não essencial. "O comércio não será afetado", destacou.
O presidente já antecipou na terça-feira a intenção de assumir o encargo da recuperação econômica, com um programa de ajuda "ousado e muito importante" destinado às empresas americanas sob risco de colapso, da ordem de 850 bilhões de dólares no mínimo.
Na Europa, o Banco Central (BCE) proporcionou mais de 100 bilhões de euros em liquidez aos bancos.
Apesar de todos os estímulos financeiros, as Bolsas permaneciam em queda e os preços do petróleo voltaram a registrar queda expressiva, recuando aos níveis de 2002 e 2003.
A Arábia Saudita pediu uma reunião extraordinária "virtual" dos líderes das 20 principais economias mundiais (G20) na próxima semana. Além da economia, outro efeito colateral da pandemia é o cancelamento de eventos esportivos e culturais.
Nesta quarta-feira foram anunciados os cancelamentos do festival de música de Glastonbury, no Reino Unido, que aconteceria em junho, e do festival da canção Eurovision, previsto para maio.
No mundo do esporte, os olhares estão voltados para o Comitê Olímpico Internacional (COI), que ainda não tomou uma decisão sobre os Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos para julho e agosto.
China retoma a vida normal
Enquanto a Europa sofre o pico da pandemia, na China, berço do novo coronavírus, o pior parece ter ficado para trás e a vida retorna ao normal aos poucos.
As autoridades de saúde anunciaram nesta quarta-feira apenas um novo contágio local e 12 casos importados. Há um mês, a China tinha milhares de contaminados por dia. No total, o país registrou 80.894 pessoas infectadas, com 3.237 mortos e 69.601 completamente curados.
"Durante a epidemia todos estavam com muito medo. Agora temos que relaxar", explica Wang Huixian, de 57 anos, de máscara, que compareceu a uma aula de dança ao ar livre em Pequim, onde a distância entre os participantes é de três metros.
Em Xangai, coração econômico da China, os cafés e algumas atrações turísticas voltaram a abrir as portas. "Agora está tudo bem. Não como nos outros países, onde as pessoas atacam os supermercados", afirmou o empresário, Zhang Min.
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