Mundo

1 bilhão de confinados e recorde de mortes

Nação mais atingida pela pandemia, Itália contabiliza 793 óbitos em 24 horas e decide estender o período de isolamento da população. Outros 34 países adotam medidas semelhantes, mas Estados Unidos resistem. Avanço da doença na África preocupa autoridades

Correio Braziliense
postado em 22/03/2020 04:14







Um mês depois de registrar a primeira morte em decorrência da Covid-19, a Itália vive um momento crônico da pandemia. O país bateu novo recorde em número de mortes: 793 em 24 horas. De acordo com último balanço, o total de óbitos subiu para 4.825, o maior desde o início da crise de saúde. A situação crítica italiana e a disseminação do novo coronavírus pelos continentes têm levado os países a adotarem medidas mais graves, como o isolamento obrigatório e o fechamento total das fronteiras. A estimativa é de que, neste fim de semana, quase 1 bilhão de pessoas, em 35 países e territórios, estão confinadas.

Submetidos a medidas cada vez mais restritivas, os italianos acompanham balanços diários cada vez mais duros. As igrejas estão fechadas, filas se formam nas entradas dos supermercados, onde se entra gota a gota, os velórios têm sido realizados com poucas pessoas e a polícia realiza buscas constantes nas ruas — tarefa que passará a contar com a ajudas de homens do Exército.

A região de Milão, na Lombardia, onde os serviços de saúde já estão sobrecarregados, registrou o número maior das mortes (546) ontem, e metade dos novos casos. Das pessoas originalmente infectadas em todo o país, 6.072 haviam se recuperado totalmente até ontem, em comparação com 5.129 no dia anterior. Havia 2.857 pacientes em terapia intensiva contra 2.655, na sexta.

Com fim previsto para 3 de abril, as medidas de contenção na Itália serão estendidas. E são apoiadas por quase todos os cidadãos, de acordo com uma pesquisa publicada, na última quinta-feira, pelo jornal La Repubblica. “Eu fico em casa” é o novo slogan dos italianos, que, desde 10 de março, aparecem na varanda ou na janela de suas casas para cantar e aplaudir os profissionais da saúde.

Porém, na opinião do vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Sun Shuopeng, que foi à Itália ajudar com a experiência com a pandemia, “as medidas tomadas não são suficientemente restritivas”. “Deve-se parar com tudo. Todo mundo tem que ficar em casa”, advertiu na última quinta-feira.

Multas
Vinte e dois países, que somam cerca de 600 milhões de habitantes, adotaram o confinamento obrigatório, com a aplicação de multas a quem desobedecer. Itália, Espanha e França fazem parte do grupo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descartou adotar medida do tipo para todo o território nacional. Mas a Califórnia, o estado de Nova York, Nova Jersey e Illinois, Pensilvânia e Nevada decretaram a paralisação de todas as atividades não essenciais.

As três maiores cidades do país — Nova York, Los Angeles e Chicago — estão paradas e seus 100 milhões de habitantes em casa.“Estamos todos em quarentena”, resumiu, na última sexta-feira, Andrew Cuomo, governador do estado de Nova York, ao anunciar a “medida mais radical que poderíamos tomar”. Cuomo alertou ontem aos nova-iorquinos que o isolamento deve se estender por meses. “Não acho que seja questão de semanas”, frisou.

Infraestrutura
O avanço do novo coronavírus na África segue aumentando. Os casos passaram de mil, com 40 países afetados. O continente tem sentido o impacto com menos velocidade do que Ásia e Europa — sendo que a maioria dos casos relatados é de estrangeiros ou de pessoas que retornaram de outros países. As condições da infraestrutura hospitalar e do saneamento básico de alguns países, porém, preocupam autoridades.

Entre as nações do continente africano com maiores registrados de infectado estão Egito e África do Sul, com 285 e 240 casos, respectivamente, seguidos de Argélia (95) e Marrocos (86). Dados divulgados ontem confirmaram os dois primeiros casos da doença em Angola, e a primeira morte na Ilhas Maurício. O Zimbábue relatou a primeira infecção na última sexta-feira, e a segunda ontem. Muitos países africanos já fecharam suas fronteiras, escolas e universidades e proibiram grandes aglomerações de público para limitar a disseminação do vírus.



Vice será testado

Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, anunciou ontem que fará teste para a Covid-19, depois do resultado positivo de um dos colaboradores do líder político. Mas, segundo Pence, nem ele nem o presidente Donald Trump estiveram em contato direto com o infectado. “Rastreamos todos os contatos e, embora o médico da Casa Branca tenha dito que não há motivos para crer que estive exposto, dadas às funções únicas que tenho, minha esposa e eu nos faremos um teste nessa tarde”, declarou em uma coletiva de imprensa.




Egito fecha mesquitas e igrejas por 15 dias

Todas as mesquitas e igrejas do Egito ficarão fechadas por duas semanas para frear a propagação do novo coronavírus. Em dois comunicados, o ministério de Bens Religiosos e a Igreja copta ortodoxa alertaram sobre o “risco” de propagação da Covid-19 que “representam as congregações em massa”. A medida foi anunciada ontem,  depois de fiéis irem em massa às mesquitas para participar da oração das sextas-feiras. No mesmo dia, o país contabiliza 285 casos de infecção e oito mortes, segundo o Ministério da Saúde. Há dúvidas, porém, quanto à veracidade desses números, já que muitos países registraram casos de infecção em pessoas que estiveram no Egito recentemente. Até o próximo dia 31, escolas e universidades, museus, aeroportos, cafés, restaurantes e casas de show também não podem funcionar.

Milhares peregrinam a mausoléu no Iraque
Desafiando o toque de recolher imposto por autoridades, dezenas de milhares de iraquianos se reuniram ontem para uma peregrinação em comemoração a uma figura importante do Islã xiita. Em Bagdá, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com 10 milhões de habitantes, os peregrinos convergiram para o mausoléu dourado do imã Kazem – o sétimo dos 12 imãs xiitas – nas margens do rio Tigre. Há vários dias, iraquianos a pé, a camelo ou a cavalo, caminharam em direção ao distrito sagrado de Kazimiya, onde está localizado o mausoléu. Enfrentando uma falta crônica de médicos, remédios e hospitais, o Iraque fechou todos os lugares sagrados e o grande aiatolá Ali Sistani proibiu orações coletivas. Porém, o influente líder xiita Moqtada Sadr pediu aos partidários que participassem da peregrinação.

Moscou ergue hospital no “estilo chinês”
A Rússia corre contra o tempo para montar um hospital em um terreno baldio, nos arredores de Moscou, para atender pacientes com a Covid-19. O trabalho é ininterrupto, dia e noite. Parte dos 3.200 trabalhadores da construção vive no mesmo local, em tendas e barracas de acampamento. Segundo a Prefeitura de Moscou, a intenção é erguer o edifício em tempo mínimo, inspirada na “experiência dos parceiros chineses”. Em Wuhan, epicentro da pandemia, montou um centro hospitalar pré-fabricado com capacidade para mil leitos em apenas 10 dias. A obra russa deve durar um mês, e o hospital terá capacidade para 500 leitos. O país contabiliza oficialmente 199 casos da Covid-19.

Isolamento total para idosos turcos
A Turquia impôs o confinamento total para pessoas com mais de 65 anos e para quem tem doenças crônicas. O Ministério do Interior justificou que essas pessoas “continuam a ir a espaços públicos, como parques ou usar transporte sem ser necessário, o que representa um alto risco para sua saúde e a de todos”. De acordo com o órgão, grupos de apoio formados por policiais e voluntários ajudarão aqueles indivíduos em isolamento que não têm família a recorrer. A decisão foi tomada após um aumento no número de casos: são 670 infecções e nove mortes. Estão fechados escolas, bares e restaurantes e suspensas conexões aéreas com 68 países.



Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags