Correio Braziliense
postado em 23/03/2020 04:27
Os efeitos da pandemia de Covid-19 na Itália têm assustado o mundo e estimulado autoridades a tomarem medidas preventivas mais rígidas. Ainda assim, o cenário global se agrava, sinalizando que, em pouco tempo, os italianos não serão os únicos a enfrentar as consequências críticas da doença. No último fim de semana, países registraram aumento significativo nas taxas de mortalidade e indícios de que vão se deparar com problemas técnicos, como falta de recursos médicos e hospitalares.
Há uma preocupação de que a Espanha passe, em poucos dias, a enfrentar uma situação parecida com a italiana. É o segundo país europeu com maior número de infectados, e a rápida disseminação do vírus tem posto em xeque o sistema de saúde espanhol. A falta de capacidade de atendimento nas áreas mais afetadas, agravada pelas baixas entre os profissionais da saúde, preocupa as autoridades.
Segundo o diretor de emergências sanitárias, Fernando Simón, dos mais de 28.500 positivos, 3.475 são profissionais do setor, o equivalente a 12%. “É o grupo populacional de maior risco, isso é óbvio, e temos que assumi-lo”, afirmou. O governo anunciou, no último sábado, a distribuição de meio milhão de máscaras para esses profissionais.
Terceira em número de casos, a França deparou-se ontem com um agravamento do problema: 112 pessoas morreram em 24 horas, elevando o total de óbitos para 674. “O vírus mata e continuará a matar”, declarou Jerome Salomon, diretor-geral dos Serviços de Saúde francês. Ele admitiu que o cenário no país pode ser pior, considerando que nem todos os infectados são submetidos a um teste que confirme o diagnóstico. Oficialmente, há 16.018 pessoas com o vírus.
A pandemia de Covid-19 também avança pelo Reino Unido, alertou o primeiro-ministro Boris Johnson. “Os números são impressionantes. Estamos a apenas algumas semanas, duas ou três, da Itália. Os italianos têm um excelente sistema de saúde. E, no entanto, seus médicos e enfermeiros estão completamente sobrecarregados com a demanda”, afirmou. Boris Johnson pediu aos compatriotas um “esforço coletivo nacional” para retardar a propagação do vírus, que matou 233 pessoas.
Queda na Itália
Pela primeira vez, a Itália registra uma queda de óbitos. Em 24 horas, 651 pessoas morreram em decorrência da doença. A contagem anterior atingiu o recorde de perdas: 793. O novo levantamento foi recebido com prudência pelas autoridades. “Espero e todos esperamos que (a tendência) seja confirmada nos próximos dias. Mas não devemos baixar nossa guarda”, enfatizou o chefe da Proteção Civil, Angelo Borrelli.
O saldo de domingo é o segundo mais alto desde que a pandemia começou a atingir o país, que soma 5.476 mortes. Segundo Franco Locatelli, responsável pelas autoridades de saúde italianas, o desfecho do fim de semana era esperado. “Especialmente porque chega em um momento em que esperávamos ter sinais tangíveis da eficácia das medidas de contenção”, justificou.
A região de Milão, na Lombardia, registrou mais da metade das novas mortes (361, de um total de 3.456) e sofre com um serviço hospitalar saturado. Ontem, a cidade recebeu reforço: 50 especialistas cubanos (médicos e enfermeiros) desembarcaram na área italiana mais castigada. O grupo foi aplaudido durante o desembarque.
Os sinais de agravamento também começam a surgir nos Estados Unidos. O país contabilizou mais de 100 mortes em 24 horas, elevando para 389 o número de óbitos. Os estados de Nova York (114 mortos), Washington (94 mortos) e Califórnia (28 mortos) são os mais atingidos pela pandemia, que já infectou ao menos 30 mil pessoas em todo o território americano.
Diante do cenário negativo, as autoridades americanas se preocupam com a falta de recursos. “Sem rodeios, estamos a cerca de 10 dias da falta generalizada de respiradores, máscaras cirúrgicas, as coisas necessárias para manter o sistema hospitalar funcionando”, ressaltou à CNN Bill de Blasio, prefeito de Nova Iorque, cidade mais atingida no país.
O presidente Donald Trump anunciou que ordenará a instalação de hospitais de campanha nos pontos mais atingidos, voltou a criticar a China pela pandemia e a se referir ao coronavírus como “vírus chinês”. “Deveriam ter nos informado (…) Estou um pouco revoltado com a China (…) por mais que goste do presidente Xi (Jinping) e por mais respeito e admiração que eu tenha pelo país”, afirmou. O novo coronavírus causou ao menos 14.582 mortes no mundo e foi detectado em 171 países.
Merkel de quarentena
A chanceler alemã, Angela Merkel, de 65 anos, decidiu se colocar em quarentena domiciliar após ter contato com um médico infectado pelo vírus da Covid-19. O anúncio foi feito ontem por seu porta-voz. “Mesmo em quarentena doméstica, a chanceler vai continuar seu trabalho”, informou Steffen Seibert. Segundo ele, o médico aplicou uma vacina contra infecções pneumocócicas em Merkel na tarde de sexta-feira e, depois, deu positivo para o novo coronavírus. Ela será submetida a um teste “nos próximos dias” para descobrir se está infectada. Diferentemente de outros países europeus, a Alemanha tem poucas mortes em decorrência da pandemia. Até a última sexta, eram 31 mortes e 13 mil casos.
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