Correio Braziliense
postado em 23/03/2020 04:27
Durante as chuvas, é comum que uma grande quantidade de lixo contamine rios, lagos e oceanos. Grande parte dos rejeitos pode ser vista a olho nu, o que facilita a retirada deles da água. Mas essa intervenção não funciona com micro-organismos nocivos, como as bactérias. Para resolver esse problema, pesquisadoras norte-americanas desenvolveram sensores submersíveis que detectam, em tempo real, a poluição bacteriana. A descoberta foi apresentada na revista especializada Science of the Total Environment e pode ajudar a indicar a presença de poluentes nas instalações de tratamento, além de acusar incidentes de poluição de esgoto.
Quando chove em grandes cidades, geralmente os rios, lagos e mares recebem poluição bacteriana, um problema que ameaça a saúde de nadadores, surfistas e toda a população marinha. Normalmente, as cidades costeiras que enfrentam a contaminação coletam amostras de água e testam a qualidade do recurso para tomar medidas de prevenção, como fechar o acesso às praias. Mas esse método demanda tempo, de 18 a 24 horas, o que pode ser considerado um “atraso” potencialmente perigoso.
As cientistas buscaram reduzir esse prazo. “Queremos identificar rapidamente a contaminação bacteriana, literalmente em segundos, e poder assistir ao aumento da intensidade em tempo real. A ideia é ter um instrumento portátil”, enfatiza, em comunicado, Natalie Mladenov, autora principal do estudo, pesquisadora de qualidade da água e professora-associada da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos.
Com esse objetivo, elas resolveram utilizar um recursos bastante explorado recentemente: os sensores. Adaptaram a tecnologia já existente, de detecção da fluorescência invisível a olho nu — presente em quase todos os objetos, como as roupas — para identificar as bactérias, que também têm fluorescência. Um fluorômetro submersível portátil, objeto semelhante a um pequeno submarino, foi equipado com os sensores de fluorescência e também de triptofano, um aminoácido presente em muitos alimentos.
Em experimentos conduzidos em um riacho, as cientistas conseguiram identificar, em tempo real, a presença de uma série de bactérias. “As descobertas sugerem que as águas residuais foram lançadas no riacho Alvarado, onde fizemos a análise, devido a um transbordamento de esgoto ou algum tipo de vazamento na infraestrutura de esgoto durante uma tempestade”, detalha Mladenov.
Uso diverso
As autoras do estudo acreditam que a nova tecnologia poderá ser usada para evitar a contaminação em diversos cenários. “Esperamos que essa pesquisa leve à implantação de sensores de fluorescência em corpos d’água para o monitoramento a longo prazo (…) Um problema que muitos gerentes de água conhecem é a necessidade de ter dados em tempo real, e essa pode ser a resposta”, diz Lorelay Mendoza, engenheira eletrônica e também autora do estudo.
Elas trabalham agora com outros cientistas em busca de mais dados biológicos e químicos de apoio para aperfeiçoar o projeto. Também pretendem implantar o uso do novo sensor com um sistema de telemetria em cursos d’água maiores. A próxima fase da pesquisa deverá ser conduzida no Rio San Diego, no estado californiano. “Gostaria de ver as cidades e os gerentes de recursos hídricos implantarem sensores ao longo dos cursos d’água para detectar vulnerabilidades na qualidade da água e reduzir os impactos dos eventos de poluição quando eles acontecem”, ressalta Mladenov. “Sem sinais de aviso-prévio, o tempo entre a contaminação inicial, a conscientização e a reação é maior e tem consequências negativas para o ambiente e a vida aquática”, frisa.
Alta sensibilidade
Eduardo Bessa Azevedo, pesquisador do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a pesquisa mostra uma recurso importante, que usa uma tecnologia que tem se mostrado promissora na área científica. “Os sensores são dispositivos muito sensíveis, que podem identificar uma série de elementos, sejam eles básicos ou bastante seletivos. Você pode também determinar que eles encontrem um alvo específico, algo importante em qualquer monitoramento”, explica.
Segundo o cientista brasileiro, o uso de novas ferramentas para o monitoramento da água é extremamente bem-vindo. “Trabalho na USP em pesquisas semelhantes, em que avaliamos como está a água que chega à casa das pessoas. Vemos hoje coisas que não conseguíamos encontrar há 10, 20 anos. Isso é muito bom. Identificar esses novos compostos é algo muito importante pois, só assim, vamos poder nos defender de possíveis danos causados por eles.”
Azevedo também acredita que tecnologias como a desenvolvida pelas cientistas americanas podem contribuir para o enfrentamento de um período de mudanças drásticas na área ambiental, muitas delas provocadas pelas alterações climáticas. “A cada dia, se torna mais importante realizar esse monitoramento. Precisamos saber com o que estamos lidando e agir de maneira rápida. Por isso, esse monitoramento on-line pode fazer a diferença. Saber, em tempo real, quando um rio ou lago sofre com a contaminação de poluentes faz com que as ações sejam tomadas de maneira mais rápida, podendo evitar danos graves à população”, justifica.
"Um problema que muitos gerentes de água conhecem é a necessidade de ter dados em tempo real, e essa pode ser a resposta”
Lorelay Mendoza, engenheira eletrônica e pesquisadora da Universidade Estadual de San Diego
Controle de veículos
É um sistema de medição de dados que são enviados, em tempo real, para uma central de monitoramento, montada geralmente por uma empresa. Essa ferramenta é usada principalmente por empresas de veículos para saber como está a condução dos motoristas, o consumo de combustível e as rotas realizadas, além de possíveis problemas com excesso de velocidade e danos mecânicos.
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