Correio Braziliense
postado em 24/03/2020 04:05
A África está se preparando para o confinamento, já em vigor em Ruanda e nas Ilhas Maurício, e impôs ontem, em Lubumbashi, capital econômica da República Democrática do Congo (RDC), para enfrentar o coronavírus em um contexto material e cultural desfavorável. O Correio levantou que 44 países e dois terrítórios independentes, como Mayotte e Reunião, registram ao menos um caso da Covid-19. Egito (327), Argélia (201) e Marrocos (115) apresentavam a maior quantidade de testes positivos até o fechamento desta edição. Gâmbia e Nigéria anunciaram, ontem, as primeiras mortes.
A atividade em Lubumbashi — sede da economia mineradora da RDC — e seus quatro milhões de habitantes pararam ontem por 48 horas, por ordem das autoridades provinciais. O motivo: dois passageiros de Kinshasa deram positivo para a Covid-19 quando saíram de um voo regular com 77 pessoas.
Cerca de 30 casos foram declarados oficialmente desde 10 de março na RDC — com duas mortes — todos na capital de 10 milhões de habitantes. Quatro deputados pediram para “colocar Kinshasa em quarentena e isolá-la do resto do país” para impedir a propagação do vírus no território de 2,3 milhões de km² e pelo menos 80 milhões de habitantes. Uma reunião sobre o coronavírus estava agendada na presidência da RDC.
Na África Ocidental, os presidentes do Senegal, Macky Sall, e da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, podem anunciar novas medidas após o fechamento de fronteiras e locais públicos, entre outros.
Com 67 casos anunciados oficialmente, sem mortes, o Senegal é um dos países da África Ocidental onde o coronavírus está mais presente. Em Burkina Faso — com um total de 99 casos —, as autoridades “contemplam cada vez mais um confinamento total da população em um período de duas a três semanas”, segundo uma fonte de segurança.
Na África Central, o presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, anunciou restrições noturnas ao movimento das 19h30 às 6h, que começaram a valer no domingo. No vizinho Camarões (56 casos), o confinamento ainda está em debate. “Esperamos que não tenhamos que confinar o país inteiro”, disse a ministra da Saúde Malachie Manaouda no último domingo.
Ruanda (17 casos) proíbe “movimentos não essenciais” desde sábado. “Duas semanas sem trabalho em uma cidade onde tudo é caro é uma sentença de morte”, diz Alphonse, 29 anos, que trabalha em seu táxi.
Desde sexta-feira, 1,3 milhão de habitantes das Ilhas Maurício, localizados a 1.800km da costa leste da África, devem permanecer confinados em suas casas por 14 dias. A Nigéria está tentando aplicar as medidas em vigor, começando com a proibição de multidões.
“O que vamos comer, o que nossos clientes vão comer?”, questiona Alice, uma fornecedora de frutas e legumes, indignada. “Pago (meus legumes) a crédito e agora não posso mais vendê-los. Precisamos sobreviver, não posso ficar em casa!”, reclama.
“Na realidade, o confinamento parcial ou total corre o risco de ter efeitos desastrosos para o continente africano”, avalia a famosa escritora camaronesa Calhixte Beyala, em sua página no Facebook.
“A população mais desfavorecida será a primeira vítima, eles morrerão de fome ou então seu corpo enfraquecido pela desnutrição, o que os tornará mais propensos a contrair a doença”, disse. “Precisamos encontrar estratégias de emergência para a África que melhor respondam às necessidades de nossos povos”, conclui a escritora.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, decretou ontem um confinamento nacional de três semanas a partir de quinta-feira, a fim de tentar conter a rápida propagação do novo coronavírus e anunciou que o exército patrulhará as ruas para fazer cumprir a quarentena.
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Números de países e territórios do continente africano que registram ao menos um caso do novo coronavírus
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