Correio Braziliense
postado em 25/03/2020 04:37
Medidas duras, que combinam quarentena para infectados e familiares, isolamento social, fechamento de escolas e home office são mais eficazes para reduzir o número de casos de Sars-Cov-2 em comparação a outros cenários de intervenção. Esse é o resultado de um estudo da Universidade de Cingapura, publicado ontem na revista The Lancet Infectious Diseases. A pesquisa comparou a eficácia de abordagens a partir de modelos matemáticos. Embora menos eficientes que a combinação de medidas, a quarentena e o teletrabalho aparecem em segundo lugar como melhores intervenções, seguidos por quarentena e fechamento das escolas e, por fim, apenas por quarentena. Todos os cenários de intervenção foram mais eficazes na redução de casos do que nenhuma intervenção.
O estudo é o primeiro do tipo a investigar, a partir de simulações, o uso dessas opções para intervenções precoces. Os pesquisadores constataram que, em Cingapura, a abordagem combinada pode impedir um surto nacional em níveis relativamente baixos de infectividade, ou seja, quando a quantidade de pessoas infectadas não é alta. Porém, em cenários de maior infectividade, a prevenção se torna consideravelmente mais desafiadora porque, embora as medidas sejam eficazes na redução de casos, ainda ocorrem eventos de transmissão.
“Se medidas locais de contenção, como impedir a propagação de doenças por meio de esforços de rastreamento de contatos e, mais recentemente, não permitir visitantes, não tiverem êxito, os resultados desse estudo fornecerão aos formuladores de políticas em Cingapura e em outros países evidências para iniciar a implementação de medidas aprimoradas de controle de surtos. Essas medidas poderiam mitigar ou reduzir as taxas de transmissão local se implantadas de maneira eficaz e oportuna”, diz Alex Cook, da Universidade Nacional de Cingapura. Ele é o principal autor do estudo.
Para avaliar o potencial impacto das intervenções no tamanho do surto, se a contenção local falhar, os autores desenvolveram um modelo de simulação de epidemia de gripe com base individual. Foram considerados demografia, movimento individual e taxas de contato social em locais de trabalho, escolas e residências para estimar a probabilidade de transmissão humano a humano de Sars-Cov-2.
Parâmetros distintos
Os parâmetros do modelo incluíram quão infeccioso um indivíduo é ao longo do tempo, a proporção da população considerada assintomática (7,5%), a função de distribuição cumulativa para o período médio de incubação (com o vírus causador da Sars e o vírus causador da Covid-19 com mesmo período, de 5,3 dias) e a duração da internação após o início dos sintomas (3,5 dias). Utilizando esse modelo, os autores estimaram o número acumulado de infecções por Sars-Cov-2 em 80 dias, após a detecção de 100 casos de transmissão na comunidade. O parâmetro infeccioso foi dividido em relativamente baixo, moderado e provável, e alta transmissibilidade.
Além de um cenário de linha de base, que não incluiu intervenções, quatro cenários de intervenção foram propostos: isolamento de indivíduos infectados e quarentena de seus familiares; quarentena e fechamento imediato de escolas por duas semanas; quarentena e distanciamento imediato do local de trabalho, em que 50% da força de trabalho é incentivada a trabalhar em casa por duas semanas; e uma combinação de quarentena, fechamento imediato de escolas e distanciamento do local de trabalho.
Essas intervenções seguem algumas opções de políticas atualmente em execução (quarentena e alguma distância da força de trabalho) pelo Ministério da Saúde de Cingapura. Comparada com a linha de base, a intervenção combinada foi a mais eficaz, reduzindo 99,3% dos casos no cenário de infectividade baixa. Na média, a redução foi de 93%, e, na alta, 78,2%. De acordo com os autores, embora esse seja um estudo de modelagem, ele demonstra que, quanto mais medidas preventivas, maior as chances de se conter a epidemia.
99,3%
É a redução dos casos da doença, em um cenário de baixa infectividade, quando é adotada a combinação de medidas
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