Correio Braziliense
postado em 25/03/2020 11:43
No momento em que a pandemia do novo coronavÃrus acelera rapidamente e ultrapassa 420 mil casos, a maioria das nações africanas já adota procedimentos para tentar reduzir o contágio - de fechamentos de igrejas a cancelamentos de casamentos e funerais, passando por confinamento social e proibição de aglomerações. Até o momento, pelo menos 44 dos 54 paÃses já registraram casos - em um ritmo mais lento mas não menos preocupante do que o de outras regiões.
Apesar do número baixo em relação aos mais de 220 mil da Europa ou os 100 mil da Ãsia, há preocupações de que a infraestrutura deficiente, a alta concentração de pessoas e o sistema de saúde precário de muitos paÃses possam facilitar o avanço do vÃrus no continente de 1,2 bilhão de habitantes.
"Os números africanos são menos alarmantes do que se poderia imaginar, mas a ideia de que os paÃses da Ãfrica estão deixando de lado o controle do coronavÃrus é um mito", afirma o presidente do Instituto Brasil-Ãfrica, João Bosco Monte, que esteve no Senegal na última semana. "Nos dias que estive lá, o paÃs estava adotando todos os cuidados possÃveis". Ele relata que teve contato com autoridades de outras nações e viu precauções sendo tomadas.
Para Monte, os paÃses mais afetados devem ser aqueles com maior fluxo de estrangeiros, como o Egito e a Ãfrica do Sul - juntos, têm 155 milhões de habitantes. Ele citou ainda o Marrocos, devido à proximidade com a Europa, e o Quênia, a principal economia da Ãfrica Oriental, que tem portos importantes. Monte também lembrou da Etiópia, sede da União Africana de Nações e de organizações internacionais. Em vários desses paÃses, milhões de pessoas vivem em comunidades com infraestrutura deficiente e muito concentradas.
"Estamos falando de 54 paÃses com realidades e idiossincrasias que precisam ser respeitadas, mas a narrativa mundial de isolamento e de distanciamento social e as recomendações da Organização Mundial da Saúde estão sendo consideradas".
Nesta semana, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que os governos devem mobilizar todos os setores da sociedade a seguir as orientações. "Eles estão testando, identificando os contatos anteriores e isolando os casos. Continuem fazendo isso, é o que vai nos fazer reduzir e controlar a pandemia", afirmou. "O número de casos nos paÃses africanos é pequeno ainda, mas isso pode mudar", alertou.
Medidas
Do norte ao sul do continente há medidas para conter o avanço do coronavÃrus. A Ãfrica do Sul impôs um confinamento de 21 dias nesta semana - o paÃs é hoje o mais afetado, com 709 casos. No Senegal e na Costa do Marfim, no oeste do continente, os governos decretaram estado de calamidade, restringiram a circulação de pessoas e de viagens internacionais. O mesmo ocorreu para 86 milhões de habitantes da República Democrática do Congo.
Com 190 milhões de habitantes, a Nigéria, baniu voos internacionais, proibiu aglomerações de pessoas e fechou fronteiras terrestres. O Marrocos fechou as fronteiras, escolas, lojas, empresas, cafés e mesquitas. Restringiu viagens internacionais e o movimento entre as cidades. Nas ruas, integrantes das Forças Armadas obrigam os moradores a entrarem em casa. Apenas um membro de cada famÃlia pode ir fazer compras. E os que trabalham precisam mostrar um documento à s autoridades ou enfrentar até três meses de prisão.
Uma das dificuldades impostas pelo isolamento no continente, no entanto, é o fato de o trabalho informal ser a principal fonte de renda para milhões de famÃlias africanas, de modo que um isolamento social ou parcial pode acabar com a renda delas.
O governo da Etiópia já afirmou que o coronavÃrus é uma ameaça existencial à economia de nações africanas, pedindo o alÃvio de dÃvidas e US$ 150 bilhões em financiamento de emergência. "As economias africanas estarão vulneráveis diante de um declÃnio dramático nas exportações, o rompimento das cadeias globais a redução de viagens e turismo", disse o primeiro-ministro Abiy Ahmed em um comunicado à s vésperas de uma reunião do G-20.
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