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Covid-19 avança na Espanha, que ultrapassa a China em número de mortos

País registra 738 mortes em 24 horas. Número de vítimas do novo coronavírus chega a 3.434, ultrapassando a China. Brasileira residente em Madri relata clima de medo e restrições à circulação. Pista de gelo e centro de convenções são improvisados como necrotério e hospital

Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 06:00

Médicos e enfermeiros retiram corpo de vítima da Covid-19 do Hospital Gregorio Marañon, na capital espanhola: cena cada vez mais comumA Espanha ultrapassou, ontem, o número de mortes registradas na China por causa do novo coronavírus. Desde o início do surto, em 31 de janeiro, foram 3.434 óbitos, 738 deles nas últimas 24 horas. A Itália segue como o país onde a Covid-19 tem sido mais letal, além de apresentar o maior número de casos. As autoridades espanholas também detectaram um aumento de 20% no número de novas infecções em um dia: de 39.673 para 47.610. O temor é de que a nação ibérica alcance a Itália nas próximas semanas ou meses.

 

O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, pediu ao Congresso a ampliação do estado de alerta até 11 de abril. “Não houve um só dia em que este governo deixou de atuar”, declaoru o premiê. Além de relatos de corpos abandonados por até 15 horas em residências, a Espanha enfrenta o horror de não conseguir lidar com o ritmo de vítimas e se viu obrigada a improvisar necrotérios e hospitais de campanha. Desde 13 de março, o número de leitos de UTI ocupados no país aumentou 43%. A vice-primeira-ministra, Carmen Calvo, foi diagnosticada com a Covid-19, após ser hospitalizada no domingo com problemas respiratórios.

 

A jornalista gaúcha Tatiana Mantovani, 36 anos, vive há 8 em Madri e afirma que tem saída de casa somente para ir ao supermercado e à farmácia. “Ainda assim, a gente reveza, pois não autorizam a circulação de mais de duas pessoas juntas. As ruas estão praticamente vazias. O medo existe, ainda mais quando a gente vê as notícias que têm chegado, né? O maior pavilhão da cidade, o Ifema, que recebia congressos e conferências, se transformou em hotel de campanha. As imagens das camas enfileiradas lembra  um cenário de guerra”, relatou ao Correio. “É uma forma de Madri se preparar para os próximos dias, que deverão ser os mais difíceis. Uma das pistas de gelo, o chamado Palacio de Hielo, se tornou um necrotério, pois a funerária não consegue recolher todos os corpos.”

 

Tatiana tem recebido relatos de amigos médicos e de cohecidos com familiares internados com Covid-19. “Tudo é muito chocante. A gente tenta conviver com essa informação e assumindo a responsabilidade de ficar em casa. Quanto menos a gente sair, menos contato com pessoas temos. O governo devia ter ordenado o confinamento antes, demorou para tomar essa decisão”, comentou. Segundo ela, os hospitais têm atingido um ponto de saturação e faltam equipamentos de proteção individual.

 

A 354km de Madri, em Valencia, Lalo Alberto Ceron Díaz, 57, disse à reportagem acreditar que a Espanha se aproximará em breve da Itália no número de mortos. “Por aqui, há muito temor nas ruas. Uma porcentagem mínima da população tem tratado isso de maneira irresponsável. A maioria dos espanhóis atende às recomendações das autoridades”, comentou. Ele relatou que 70% de Valencia está paralisada. “Os trabalhadores informais e o setor da construção civil mantêm suas funções.”

 

Apedrejamento

 

No sul do país, em La Línea de Concepción, município próximo a Gibraltar, um grupo de jovens tentou impedir a pedradas a chegada de ambulâncias que transportavam 28 idosos contaminados por coronavírus para um residência local de pessoas da mesma faixa etária. Dois homens, de 25 e 32 anos, foram detidos. Atingida pelo alto desemprego, La Línea, situada na província de Cádiz, é conhecida por ser o foco do narcotráfico e do contrabando de tabaco do vizinho Marrocos. 

 

Desaceleração  de contaminações

 

O aumento no número de casos de coronavírus continuou a desacelerar, ontem, na Itália. Com 7.503 mortes — mais 683 em 24 horas —, o país ainda é o mais afetado pela pandemia. Também ontem, o jornal da conferência episcopal italiana Avvenire revelou que 67 padres italianos infectados pelo coronavírus morreram desde o início da proliferação da doença. O saldo de ontem representa um aumento de 7,5% em casos positivos (cerca de 75.000 no total), o mesmo que na segunda e terça-feira, ou seja, as taxas mais baixas desde o aparecimento do vírus na Itália. A região da Lombardia, no norte do país, continua sendo a mais afetada, com 4.474 mortes (%2b296 em 24 horas), seguida por Emilia Romagna (norte), com 1.077 mortes.

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