Mundo

ONU vê ameaça à humanidade

Organização das Nações Unidas lança programa de enfrentamento da pandemia a ser implementado por várias de suas agências. Plano Mundial de Resposta Humanitária à Covid-19 prevê doações de até US$ 2 bilhões e auxílio às populações mais vulneráveis à doença

Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 04:16
O português António Guterres, secretário-geral da ONU:



A pandemia de coronavírus “está ameaçando toda a humanidade”, disse ontem o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançando um plano de resposta global que vai até dezembro. A ação inclui doações de até US$ 2 bilhões. O objetivo do “Plano Mundial de Resposta Humanitária à Covid-19” é combater o vírus “nos países mais pobres do mundo” e responder às necessidades das pessoas mais vulneráveis, afirmou Guterres.

“A resposta individual de cada país não basta”, disse o ex-primeiro-ministro português, que havia alertado, na semana passada, a perspectiva de “milhões” de mortes se uma resposta global não for coordenada para conter a “catástrofe da saúde” resultante da pandemia.

O plano buscará “ajudar pessoas extremamente vulneráveis”, especialmente idosos, doentes crônicos, deficientes, mulheres e crianças, disse Guterres.

Em todo o mundo, a Covid-19 causou mais de 20 mil mortes e mais de 450 mil casos de contágio em 181 países ou territórios, de acordo com o último balanço publicado por fontes oficiais.

O coronavírus “está chegando a países nos quais já existem crises humanitárias causadas por conflitos, desastres naturais e pela mudança climática”, onde “as pessoas, que foram obrigadas a fugir de suas casas por conta das bombas, da violência ou das inundações, vivem sob coberturas de plástico nos campos, ou amontoadas em campos de refugiados ou assentamentos informais”.

“Essas pessoas não possuem uma casa em que possam praticar o isolamento social” e “lhes falta água limpa e sabão para realizar a ação mais básica de proteção pessoal contra o vírus: lavar as mãos”. Não é apenas “uma questão básica de solidariedade humana”, mas “é também crucial para combater o vírus”, acrescentou.

“Se não tomarmos medidas decisivas neste mesmo instante, temo que o vírus se enraizará nos países mais frágeis e o mundo inteiro estará vulnerável à medida que continua sua marcha ao redor do planeta”, enfatizou.

Venezuela

O plano — modesto comparado aos dois trilhões de dólares desbloqueados por Washington para a economia dos EUA — lançado ontem pela ONU, objetiva cobrir o período entre abril e dezembro de 2020, o que aponta uma previsão de uma crise maior e prolongada.

O valor, de US$ 2,012 bilhões, inclui pedidos de doações lançados por diferentes agências da ONU (como a Organização Mundial da Saúde, o Programa Mundial de Alimentos PAM, o Alto Comissário para Refugiados, a Unicef, entre outras). A OMS receberia US$ 450 milhões; a Unicef, US$ 405 milhões; e o PAM, US$ 350 milhões. “Se financiado adequadamente, o plano salvará muitas vidas”, disse Guterres.

O líder também pediu aos 193 membros da ONU que continuem alimentando o fundo para ajuda humanitária, que beneficia anualmente 100 milhões de pessoas no mundo. Sem esses fundos, a pandemia pode levar a outras epidemias, como a cólera, alerta a organização.

Detalhado em um documento de 80 páginas, o novo plano humanitário será implementado pelas várias agências das Nações Unidas com as ONGs em um “papel direto”, sob a coordenação do secretário-geral adjunto da ONU para assuntos humanitários, o britânico Mark Lowcock.

Os recursos arrecadados permitirão a compra de equipamentos médicos para testar e tratar os doentes, instalar estações de lavagem de mãos nos campos de refugiados, lançar campanhas de informação e estabelecer pontes aéreas humanitárias com África, Ásia e América Latina, informou a ONU.

Embora as necessidades particulares de vários países ainda não estejam definidas, o documento identifica cerca de 20 nações prioritárias para receber ajuda: Afeganistão, Líbia, Síria, Iêmen, Venezuela, entre outras. Os casos do Irã ou da Coreia do Norte também são analisados no documento.

A ONU estima dois cenários sobre a evolução da pandemia, ressaltando a dificuldade de fazer previsões. O primeiro contempla uma desaceleração na propagação do coronavírus de “três a quatro meses”, permitindo “uma recuperação relativamente rápida”, tanto em termos de saúde quanto econômicos.

O segundo inclui uma “rápida progressão da pandemia em países frágeis e em desenvolvimento”, principalmente na África, na Ásia e em certas partes do continente americano. Isso implicaria em um fechamento mais longo das fronteiras e a continuação das ordens de confinamento “contribuindo ainda mais para a desaceleração global que está em andamento”.



Balanço assustador 
Mais de 450 mil casos de novos coronavírus foram declarados oficialmente em todo o mundo desde o início da pandemia, de acordo com um balanço publicado ontem, às 17h15. Pelo menos 450.876 casos de contágio, incluindo 20.647 mortes, foram detectados em 182 países e territórios, incluindo a China (81.218 casos, dos quais 3.821 mortes), foco inicial da pandemia, e a Itália (74.386 casos, dos quais 7.503 morreram). Os Estados Unidos são o país onde o contágio avança mais rapidamente, com 62.086 casos (e 869 mortes). Graças a métodos de controle, foram detectados mais de 54.760 novos casos no país. O número de casos diagnosticados, no entanto, não reflete a realidade da doença, pois muitos países só controlam os casos mais graves.



20.647 
Número de mortes por coronavírus no mundo até ontem, às 17h15



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