Correio Braziliense
postado em 26/03/2020 04:17
Em mais uma evidência científica de que a quarentena de indivíduos doentes e saudáveis é uma das mais importantes armas para evitar a disseminação da Covid-19, um consórcio internacional de pesquisadores liderados pelas universidades de Oxford e Northeastern, na Inglaterra, mostra que cordões de isolamento, como os que restringiram o fluxo de pessoas de um estado para outro em Hubei, na China, e no norte da Itália, só são eficazes no início do surto. Quando a epidemia chega ao estágio em que as infecções não são mais importadas e não é possível identificar a origem, os cientistas mostram que apenas um conjunto de medidas restritivas locais pode impedir que o coronavírus continue se espalhando.
As conclusões baseiam-se na análise da mobilidade humana e nos dados epidemiológicos desde o início da pandemia, quando ainda estava restrita à China. “Quando os casos da Covid-19 começam a se espalhar localmente, a contribuição de novas importações é muito menor”, explicou, em nota, Moritz Kraemer.
De acordo com ele, a partir desse momento, fechar fronteiras já não contribui para a contenção, exigindo medidas mais rígidas. “É aqui que um pacote completo de medidas, incluindo restrições de mobilidade local, testes, rastreamento e isolamento, precisa ser trabalhado em conjunto para mitigar a epidemia. Províncias chinesas e outros países que interromperam com sucesso a transmissão interna da Covid-19 precisam considerar cuidadosamente como gerenciarão o restabelecimento de viagens e a mobilidade para evitar a reintrodução e a disseminação da doença em suas populações.”
As análises epidemiológicas indicaram que as restrições de viagens de Wuhan, o epicentro do surto na China, chegaram tarde demais, e as pesquisas mostraram que o impacto das restrições de viagens diminui à medida que a epidemia cresce. As províncias chinesas de fora de Hubei, que agiram cedo para testar, rastrear e conter casos importados de Covid-19, tiveram o melhor desempenho na prevenção ou contenção de surtos locais.
Geolocalização
Os dados de geolocalização móvel, combinados a um robusto conjunto de informações epidemiológicas, mostraram que a transmissão local de pessoa para pessoa ocorreu extensivamente no início do surto de coronavírus e foi atenuada por medidas drásticas de controle. No entanto, com um período médio de incubação de cinco até 14 dias em alguns casos, essas restrições de mobilidade não impactaram mais positivamente os novos contágios.
Entre os casos relatados fora de Hubei, 515 tinham um histórico de viagens conhecido para Wuhan e data de início dos sintomas antes de 31 de janeiro de 2020, em comparação com apenas 39 após 31 de janeiro, ilustrando o efeito das restrições de viagens na diminuição da propagação para outras províncias chinesas.
Samuel V. Scarpino, do Instituto de Ciências de Rede (NetSI), da Universidade de Northeastern, insiste na necessidade de investir em medidas de isolamento locais. “Em muitos países, a vontade política está atrasada em relação à disseminação da Covid-19. As restrições de viagem e mobilidade são as mais úteis logo no início, quando a transmissão local ainda não se tornou um fator. Depois que a transmissão é estabelecida, o distanciamento físico das pessoas saudáveis e a quarentena de indivíduos doentes são o que funciona”, ensina o cientista.
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