Mundo

Avalanche de mortes e de desemprego

Estados Unidos se tornam epicentro da pandemia, com o maior número de infecções no planeta, ultrapassando a China e a Itália. Mais de mil norte-americanos já morreram. Impacto sobre a economia leva a um registro recorde de 3,2 milhões de demissões em uma semana

» RODRIGO CRAVEIRO

Nenhum outro país tem tantas infecções pelo novo coronavírus como os Estados Unidos, que também começa a sentir os efeitos da pandemia na economia. Até o fechamento desta edição, os norte-americanos tinham registrado 82.547 casos e 1.182 mortes — pelo menos 42 dos 50 estados contabilizaram óbitos. Os EUA se tornaram epicentro da Covid-19, ao ultrapassarem, em número de casos, a China (81.285) e a Itália (80.589). Com a desaleceração econômica, houve um número recorde de pedidos de seguro-desemprego: 3,283 milhões de cidadãos solicitaram o benefício, entre 14 e 21 de março, segundo o Departamento do Trabalho. “Nós temos de voltar a trabalhar. Nossa gente quer trabalhar, quer voltar. (…) Elas (pessoas) vão praticar, tanto quanto puderem, o distanciamento social, a higiene das mãos, além de evitar cumprimentos, mas precisam voltar a trabalhar”, afirmou o presidente Donald Trump, que agradeceu ao Senado pela aprovação do pacote de alívio econômico de US$ 2,2 trilhões. O plano (veja quadro) tem a meta de evitar uma recessão e será submetido à votação na Câmara dos Representantes nas próximas horas.
O republicano avaliou que a alta no número de casos de Covid-19 demonstra a capacidade do governo de realizar testes para a detecção do novo coronavírus. Trump admitiu que as previsões iniciais sugeriam até 7 milhões de desempregados. “São muitos empregos. Mas acho que retornaremos muito fortes. (…) Acho que teremos uma recuperação bastante rápida, assim que tivermos uma vitória sobre o inimigo oculto”, declarou, referindo-se ao germe. Ele também propôs dividir diferentes regiões do país de acordo com riscos de transmissão. Ao todo, 40% dos americanos estão sob ordens de bloqueio, a fim de impedir a propagação da doença.
O site The Hill divulgou, ontem, que o surto de novo coronavírus em Nova York estaria apenas no início, segundo Anne Schuchat, vice-diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Pelo menos 37.258 casos e 380 mortes foram notificados na metrópole, que construiu um necrotério improvisado ao lado do Hospital Bellevue. Os hospitais norte-americanos têm relatado cada vez mais sobrecarga com os casos de Covid-19. Ante esse cenário, tendas são montadas em campos de futebol americano e em parques estaduais.
Um dos infectologistas que isolaram o HIV, vírus causador da Aids, na década de 1980, Robert C. Gallo avaliou a evolução da pandemia nos EUA, a pedido do Correio. “Nós nos tornamos epicentro do novo coronavírus pelo fato de não nos movermos rapidamente como deveríamos e porque o clima não funciona em nosso favor. As testagens têm aumentado; então, vemos que a Covid-19 se espalhou mais do que pensávamos. As medidas necessárias incluem forte vigilância em saúde pública e aposta nos diagnósticos”, recomendou Gallo, diretor do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland.
Segundo a agência de notícias France-Presse, novos números de infecções indicam que muitos mais americanos morrerão. Especialistas não descartam a subnotificação de casos, devido à indisponibilidade de kits de teste. A rede de TV CNN informou que o número de pacientes em respiradores artificiais “mais do que dobrou entre segunda-feira e ontem somente no Centro Médico Irving, da Universidade de Columbia. As cidades de Chicago e Detroit poderão se tornar dois pontos focais de disseminação do novo coronavírus, de acordo com estudiosos.

Planeta

Em todo o mundo, 500 mil infecções foram registradas, e o crescimento de doenças se mostra exponencial. A Espanha chegou ontem a 4.089 mortes, metade delas na região de Madri, 2.090. Em 24 horas, foram 655 novos óbitos. Os espanhóis contabilizaram até agora 56.188 infecções, e 7.015 casos de cura. Na Itália, apesar de uma aparente desacleração no ritmo dos contágios, existe o temor de que números oficiais na região de Lombardia (norte) sejam subestimados pelas autoridades, enquanto no sul teme-se uma “explosão” de casos.