Mundo

Procura-se Nicolás Maduro

EUA indiciam o presidente por narcoterrorismo e oferecem recompensa de US$ 15 milhões por informações que facilitem a captura do ditador. Pena por conspiração vai de 20 anos a prisão perpétua

Correio Braziliense
postado em 27/03/2020 04:05
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, despacha no Palácio de Miraflores: acusação de terrorismo

 

Os Estados Unidos indiciaram, ontem, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, por narcoterrorismo e ofereceram até US$ 15 milhões por informações que permitam sua detenção, em uma escalada nos esforços do governo de Donald Trump para tirar do poder a quem considera um ditador.

 

Além de Maduro, o Departamento de Justiça apresentou acusações contra o número dois do regime venezuelano, Diosdado Cabello; o vice-presidente encarregado da Economia, Tareck El Aissami; o ministro da Defesa, Vladimir Padrino; e o presidente do Tribunal Supremo de Justiça, Maikel Moreno; bem contra os militares reformados Hugo Carvajal, ex-chefe da Inteligência militar; e Clíver Alcalá Cordones.

 

Também acusou dois líderes da desmobilizada guerrilha comunista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc): Iván Márquez, cujo nome de registro é Luciano Marín, líder dos rebeldes nas negociações que resultaram no acordo de paz de 2016, e Jesús Santrich, cujo nome verdadeiro é Seuxis Paucis Hernández, também negociador nos diálogos em Havana e ex-alto dirigente da guerrilha extinta.

As acusações por participar de “conspiração narcoterrorista” podem levar a uma sentença mínima obrigatória de 20 anos de prisão e até à prisão perpétua.

 

O Departamento de Estado ofereceu recompensa de até US$ 15 milhões por informações que levem à captura de Maduro, cuja autoridade Washington desconhece, e de até US$ 10 milhões por dados que permitam deter Cabello, El Aissami, Carvajal e Alcalá Cordones.

 

Maduro é acusado de “ter participado de uma associação criminosa que envolve uma organização terrorista extremamente violenta, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em um esforço para inundar os Estados Unidos com cocaína”, afirmou o procurador-geral, Bill Barr, em videoconferência.

 

Barr acusou Maduro e seu entorno de conspirarem “durante mais de 20 anos” com as Farc para o tráfico de drogas aos Estados Unidos. Disse que entre 200 e 250 toneladas de cocaína foram enviadas sob a proteção do governo venezuelano. “O anúncio de hoje (ontem) se centra em erradicar a extensa corrupção dentro do governo venezuelano”, disse Barr em um comunicado.

“Os Estados Unidos não permitirão que estes funcionários venezuelanos corruptos usem o sistema bancário americano para movimentar seus ganhos ilícitos da América do Sul, nem promover seus esquemas criminosos”, acrescentou.

 

Cocaína como arma

 

As autoridades americanas apontam Maduro como líder da organização do narcotráfico Cartel de los Soles que, segundo eles, envolveria políticos do alto escalão e membros das forças militares e judiciárias venezuelanas. Segundo documentos judiciais, a então guerrilha das Farc e o Cartel de los Soles enviaram cocaína processada da Venezuela aos EUA por meio de pontos de baldeação no Caribe e em países da América Central, como Honduras. “Maduro usou muito deliberadamente a cocaína como uma arma”, disse o procurador federal Geoffrey Berman.

 

“As ações de hoje enviam uma mensagem clara aos funcionários corruptos em várias partes de que ninguém está acima da lei ou para além do alcance do cumprimento da lei americana”, destacou, por sua vez, o chefe interino da agência americana antidrogas, a DEA, Uttam Dhillon.

 

Ao anunciar as recompensas oferecidas com a finalidade de levar perante à Justiça Maduro e os funcionários e ex-funcionários venezuelanos, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, disse que “estas pessoas violaram a confiança pública, ao facilitar os envios de narcóticos a partir da Venezuela”.

 

“O povo venezuelano merece um governo transparente, responsável e representativo, que atenda às necessidades do povo e que não traia a confiança do povo ao perdoar ou empregar funcionários públicos que se dediquem ao tráfico ilícito de narcóticos”, disse Pompeo.

 

Acrescentou, ainda, o compromisso dos Estados Unidos para “ajudar o povo venezuelano a restaurar sua democracia por meio de eleições presidenciais livres e justas”.

Maduro, que sucedeu em 2013 o falecido presidente Hugo Chávez, foi reeleito para um segundo mandato em 2018 depois de um boicote eleitoral por parte da oposição, que rejeitou os resultados, considerados fraudulentos, assim como boa parte da comunidade internacional.

 

Os EUA, assim como outros quase 60 países, apoiam o líder opositor venezuelano Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional (Parlamento), a quem, desde janeiro de 2019, reconhecem como presidente interino.

Desde então, o governo Trump pressiona pela saída de Maduro do poder, com uma bateria de sanções econômicas. Mas Maduro mantém o apoio de China, Rússia e Cuba.

 

O partido de esquerda Farc, egresso do acordo de paz na Colômbia, oficializou em outubro passado a expulsão de Márquez e Sántrich, ex-líderes rebeldes que no final de agosto anunciaram o retorno às armas.

O ex-presidente colombiano Andrés Pastrana disse meses atrás que Márquez e Sántrich se escondiam em Cuba, após terem se refugiado na Venezuela. 

 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags