Correio Braziliense
postado em 30/03/2020 11:30
Morreu, aos 73 anos, o médico americano James Goodrich, após ser infectado com o novo coronavírus (Covid-19). O neurocirurgião morreu na noite de domingo, (29/3), em Nova York, nos Estados Unidos. Ele testou positivo para a Covid-19 e estava internado desde quarta-feira (18/3) no Montefiore Medical Center. Goodrich era o principal especialista em separação de siameses craniópagos (unidos pelo crânio) do mundo, além de ser autor de artigos científicos que avançaram as técnicas usadas nesse tipo de cirurgia. Foi sob a orientação dele que foi realizado o procedimento que separou as gêmeas siamesas brasilienses Lis e Mel, no Hospital da Criança de Brasília, em 2019.
"Ele acompanhou e deu orientações sobre o caso desde que as meninas estavam no útero. Foi extremamente importante em todo o processo. É uma perda irreparável, pois foi a pessoa que abriu as portas para a neurocirurgia pediátrica", lamenta o neurocirurgião Benício Oton de Lima, que comandou a cirurgia de separação das irmãs.
A equipe do neurocirurgião acompanhou as 20 horas do procedimento cirúrgico que separou Lis e Mel. "Ele deu as dicas, mas sempre muito respeitoso e generoso com a opinião de outros profissionais também", relembra Oton. O neurocirurgião também auxiliou na separação das gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), em 2018.
Goodrich fazia parte da equipe do Hospital Montefiore Medical Center, em Nova York, e diretor da divisão de cirurgia neurocirurgia pediátrica e professor de cirurgia neurológica clínica, pediatria, cirurgia plástica e reconstrutiva da Faculdade de Medicina Albert Einstein. Ele também foi professor cirurgia Neurológica na Universidade de Palermo, na Itália.
"É uma perda para a comunidade da neurocirurgia pediátrica, mas também é uma perda pessoal. Nos conhecíamos e nos encontrávamos há mais de 20 anos em congressos", lamenta.
Relembre a cirurgia de separação de Lis e Mel
Lis e Mel nasceram em 1º de junho de 2018, no Hospital Materno-Infantil (Hmib). Elas foram o primeiro caso de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no Distrito Federal. O procedimento de separação é de extrema complexidade e foi dividido em 36 etapas, entre as 6h30 do dia 27 de abril e as 2h30 do dia seguinte.
Conduzida por uma equipe do Hospital da Criança de Brasília, a cirurgia foi a terceira do país e a décima do mundo. As duas enfrentaram uma maratona de 20 horas. Capitaneada pelo neurocirurgião Benício Oton, uma equipe de mais de 50 pessoas se dedicou à cirurgia delicada, rara e inédita na capital. Lis acordou primeiro, Mel depois, mas saiu primeiro da unidade de tratamento intensivo (UTI).
As duas se reencontraram em 21 de maio. “Colocamos elas sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo”, contou Camila à época.
Após sete meses, Lis e Mel se recuperam bem e frequentam, duas vezes por semana, a Escola de Educação Precoce do Governo do DF, que é um serviço de atendimento a crianças que nasceram com alguma deficiência física ou cognitiva ou de forma precoce. Elas também têm uma rotina de sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. As meninas já andam sozinhas e, aos poucos, estão aprendendo as primeiras palavras.
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