Mundo

Conexão diplomática

Correio Braziliense
postado em 04/04/2020 04:05


O vírus tem a sua geopolítica

A evolução da pandemia da Covid-19 traça rumos para o alinhamento próximo e futuro entre os governos de diferentes regiões geográficas e blocos políticos. Passado o furacão que varre os sistemas de saúde pública, chegará o momento de recolocar plenamente nos trilhos a atividade econômica. E o desafio, para cada um, será encontrar a melhor posição, do ponto de vista de ocupar os nichos de mercado mais convenientes e assegurar as receitas capazes de financiar um ciclo novo de expansão.

Nessa perspectiva, entram no horizonte de contemplação as opções feitas pelos diferentes atores no momento presente, de retração para as próprias necessidades imediatas. As escolhas que priorizam o sistema multilateral, expresso nessa crise por siglas como ONU ou OMS, diferenciam-se da preferência por estratégias em bases unilaterais, nas quais cada um busca, com os recursos de que dispõe, suprir as próprias carências.

Compra quem pode...

É a lógica que tem presidido a corrida aos medicamentos, aos equipamentos de proteção e aos kits de testes capazes de determinar com rapidez os casos confirmados de contaminação pelo coronavírus. O fenômeno observado no Brasil com o álcool em gel, por exemplo, se reproduz em relação a máscaras e ventiladores respiratórios, no comércio internacional.

Na semana que termina, governos europeus protestaram contra os EUA por terem, supostamente, atravessado contratos firmados com a China, que praticamente monopoliza a oferta — e, por sinal, trata de atender às próprias necessidades. Conveniências outras à parte, cálculos e contratos serão fechados com base no confronto puro e simples com a informação básica: comprará o que pretende aquele que ofereça as melhores condições de pagamento.




E quem não pode...

Seja no âmbito das compras externas de remédios e de equipamentos ou na oferta interna de amparo à população, a pandemia atesta as desigualdades sociais e econômicas. E expõe as capacidades distintas, em cada região do mundo, para concatenar respostas solidárias. A despeito das dificuldades e limitações, a União Europeia caminha no rumo de medidas comunitárias. Nas Américas, por ora, prevalece a lógica consagrada na fórmula “meu pirão primeiro”.

Mosqueteiros

Paralelamente ao esforço médico-assistencial exigido pela crise, ganha novo impulso o debate clássico entre direitos individuais e necessidades coletivas. O embate cultural que dominou a segunda metade do século 20, enquadrado nos marcos da Guerra Fria, redesperta sob a pressão de uma emergência real na saúde pública.

Não por acaso, dois dos exemplos de sucesso contra o vírus vêm de sociedades com um forte componente de subordinação de aspirações pessoais a exigências sociais. Alemanha e Coreia compartilham uma historia recente de destruição em massa pela guerra.




Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags