Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 04:36
Cientistas seguem na busca por estratégias que possam combater a Covid-19, e uma das mais estudadas é o uso de antivirais. Dois novos projetos, conduzidos por cientistas americanos e brasileiros, têm apresentado efeitos promissores em células humanas infectadas pelo Sars-Cov-2. Os resultados foram publicados, respectivamente, na última edição da revista Science Translational Medicine e na plataforma BiorXiv.
Os autores do estudo americano explicam que o medicamento EIDD-2801 é semelhante ao remdesivir, um antiviral desenvolvido para tratar ebola e que já se mostrou promissor no combate ao novo coronavírus em outras análises científicas. Agora, a equipe testou primeiro a forma ativa do EIDD-2801 contra Sars-Cov-2 e o vírus Mers em linhagens de células epiteliais pulmonares cultivadas in vitro. Logo em seguida, a ação do medicamento foi observada contra o vírus da Covid-19, o da Mers e o da Sars em células epiteliais primárias das vias aéreas humanas. Em todas as análises, os resultados foram positivos. Segundo os cientistas, o medicamento inibiu a replicação viral, evitando efeitos tóxicos nas células cultivadas.
Em uma segunda etapa, os investigadores administraram o EIDD-2801 por via oral em camundongos antes ou até 48 horas após a infecção pelos vírus da Sars e da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), constatando que a droga melhorou a função pulmonar, reduziu a carga viral e impediu a perda de peso nos camundongos infectados. “Quando administrado como tratamento 12 ou 24 horas após o início da infecção, o EIDD-2801 pode reduzir o grau de dano pulmonar e perda de peso em camundongos. Esperamos que essa janela de oportunidade seja mais longa em humanos, porque o período entre o início dessa doença e a morte é geralmente prolongado em humanos, em comparação com ratos”, escreveram.
Os pesquisadores também destacam que a droga pode oferecer várias vantagens terapêuticas sobre outros medicamentos em teste. Isso porque, diferentemente do remdesivir, por exemplo, ela não precisa ser administrada por via intravenosa. “O EIDD-2801 é um medicamento oral que pode ser administrado em casa, logo após o diagnóstico”, destacou, em comunicado, Timothy Sheahan, principal autor do estudo e pesquisador da Escola de Saúde Pública Global da UNC-Chapel Hill Gillings, nos Estados Unidos. A facilidade favorece o tratamento de pacientes menos doentes ou na profilaxia — por exemplo, em um lar de idosos em que muitas pessoas foram expostas, mas não estão doentes.
Análise comparativa
Werciley Junior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, ressalta que os antivirais focam em uma estratégia diferente de outros medicamentos testados para a Covid-19. “A doença ocorre em uma série de fases, uma delas é a multiplicação do vírus. É nela que esses remédios querem agir, impedindo a replicação no organismo. Já outras drogas, como a cloroquina, dão foco na inflamação provocada pela enfermidade, tentando diminuí-la”, explicou.
O médico ressalta que o estudo segue uma linha comum, que é testar o poder dos antivirais no combate à Covid-19, mas precisa de mais análises. “Esse é um estudo comparativo, feito com vírus semelhantes, e que mostrou potencial com a redução da carga viral, mas é preciso ser testado também em humanos”, ponderou. “Precisamos ver se esses efeitos vão além do laboratório.”
Os cientistas destacaram, no estudo, que pretendem realizar testes clínicos o mais rápido possível. “Em tempos normais, o teste em primatas não humanos seria o próximo passo óbvio. Como não são tempos normais, isso pode ser ignorado e avaliado sob uso compassivo e em ensaios clínicos estabelecidos em humanos. O objetivo é atacar diretamente o vírus, diminuir os sintomas, reduzir a patogênese e salvar vidas”, detalhou Timothy Sheahan.
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