Mundo

O Estado ao resgate dos trabalhadores autônomos na Europa

Milhares de trabalhadores autônomos ficaram desempregados da noite para o dia devido ao confinamento, fechamento de comércios e cancelamento de eventos

Correio Braziliense
postado em 07/04/2020 12:57
Protestante discute com policial na Alemanha no ultimo final de semana.Dezenas de milhares de trabalhadores autônomos na Europa ficaram desempregados da noite para o dia devido ao confinamento, fechamento de comércios e cancelamento de eventos para impedir a propagação da pandemia de Covid-19.

A AFP conversou com algumas pessoas afetadas pela paralisia econômica e que tiveram que recorrer aos auxílios estatais.

"Do que vou viver?"
 
Anna Luise Oppelt, cantora clássica em Berlim, ficou chocada ao saber, há três semanas, do cancelamento de todos os seus shows até o final de abril, principalmente os da Páscoa.

"Eu disse a mim mesmo: 'Meu Deus, não tenho nada agora. Do que vou viver nos próximos meses?'", diz a artista independente de 35 anos, que canta em igrejas como solista ou em conjuntos por toda a Alemanha.

Juntamente com o Natal, a Páscoa é o período do ano em que sua agenda é mais carregada.

Para mitigar o impacto do confinamento forçado, o governo alemão decidiu um plano gigantesco de 1,1 trilhão de euros de apoio econômico, principalmente para proteger as grandes empresas.

Mas também reservou 50 bilhões de euros de ajuda imediata para PMEs e trabalhadores autônomos ou independentes, como artistas.

Anna Luise Oppelt se registrou on-line na sexta-feira, mas ficou apavorada ao ver que era 140.000ª na lista de espera.

No final, conseguiu preencher o formulário na segunda-feira. No dia seguinte, recebeu uma confirmação, seu pedido foi aceito e o dinheiro - 5 mil euros - já havia sido creditado em sua conta, para resistir pelos próximos seis meses, afirma.

 
"Alemanha é incrível!"
 
A australiana "Anto Cristo", artista multidisciplinar, pintora e fotógrafa, que vive em Berlim há seis anos, também sentiu esse medo existencial por um tempo. 

"Sou artista todos os dias, mas, pelo dinheiro, ensino oficinas para crianças e trabalho em uma boate", explica a jovem de cabelos tingidos de rosa.

Mas escolas e boates fecharam, pelo menos até 19 de abril. 

Para ela, a espera foi um pouco mais longa, quatro dias. Mas não reclama: "Receber esse dinheiro foi uma grande ajuda, um grande alívio para os próximos seis meses". 

Especialmente porque é dinheiro "que não precisarei devolver", diz.

"No momento, acho a Alemanha incrível", exclama, explicando que em seu país, a Austrália, os artistas não recebem nenhuma ajuda desse tipo.

Espera incerta
 
Mas essa espera por ajuda estatal, às vezes, é mais complicada, como na Itália.

Sara Matteuzzi, 30 anos, administra três apartamentos "AirBnB" para turistas no centro de Roma: "Estou completamente desempregada".

As três pessoas que trabalham com ela na limpeza dos apartamentos, todas sul-americanas, também perderam suas fontes de renda.

"Pedi a ajuda de 600 euros do Estado para trabalhadores independentes. Tenho que pagar as despesas e o aluguel aos proprietários dos apartamentos", conta.

Ela foi uma das primeiras a enviar sua solicitação ao INPS (Instituto Nacional de Seguridade Social) em 1º de abril. "Eles me responderam 24 horas depois, dizendo que me dariam um número para o procedimento. Mas nada de concreto. Estou contando muito com ele", diz ela preocupada.

"Documento muito complicado"
 
Cecilia Gaspar trabalha meio período no serviço de limpeza de um escritório em Roma e foi demitida.

Esta peruana de 52 anos pediu à prefeitura uma ajuda em forma de cupom para fazer compras porque tem que ajudar sua filha de 20 anos, que tem um recém-nascido.

"Preenchi um documento muito complicado. Eles têm que me enviar uma mensagem no telefone explicando como obter o cupom. Tenho o direito porque perdi meus outros trabalhos de limpeza que me permitiam sobreviver", explica.

Disseram a ela que os cupons chegariam antes de 9 de abril, mas ela ainda não sabe onde ou como.

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