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UE fracassa em dar resposta econômica comum na crise do coronavírus

O embate é entre os países do norte e do sul, que pedem uma ajuda financeira sem precedentes

Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 09:01
Carlos Costa lamentou nas redes sociais que o acordo não tenha sido firmado em reunião que durou a noite todaBruxelas, Bélgica - Os ministros das Finanças da União Europeia não conseguiram, nesta quarta-feira (8/4), chegar a um acordo sobre uma resposta econômica comum à pandemia de Covid-19, após uma noite de negociações em que os países do norte, especialmente a Holanda, opuseram-se aos do sul, que exigem um esforço financeiro sem precedentes.

"Após 16 horas negociando, chegamos perto de um acordo, mas ainda não o alcançamos. Suspendi o Eurogrupo e continuaremos amanhã, quinta-feira", escreveu o ministro português e presidente do Eurogrupo, Mario Centeno, em sua conta no Twitter.

A videoconferência dos ministros começou por volta das 16h30 (11h30 de Brasília) e durou a noite toda.

Segundo várias fontes europeias, as negociações fracassaram, devido à firmeza da Holanda, que rejeita o pedido da Itália sobre empréstimos para os países mais problemáticos dos fundos de resgate da zona do euro.

"Os holandeses foram muito duros. Sem eles, teríamos chegado a um acordo", disse uma fonte próxima às negociações, que descreveu suas exigências como "excessivas".

Essa reunião era um teste decisivo para a unidade dos 27, que continuam mostrando diferenças, aparentemente irreconciliáveis, após o fracasso da cúpula de chefes de Estado e de governo em 26 de março dedicada a esta crise.

Resposta séria

Diante da pandemia, a resposta europeia se concentrará em três eixos que parecem obter o apoio dos ministros, afirmam várias fontes.

Em primeiro lugar, até 240 bilhões de euros em empréstimos do fundo de resgate do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).

Adicionado a este montante, 200 bilhões de euros mobilizados por meio do Banco Europeu de Investimento (BEI) em um fundo de garantia para empresas e até 100 bilhões de euros para apoiar o trabalho de meio período.

Esse pacote de medidas é "o mais importante e o mais ambicioso já preparado pelo Eurogrupo", acrescentou o português, para quem "não se trata apenas de sobreviver ao vírus, mas de recuperar as economias".

Os países mais afetados pelo coronavírus, principalmente Itália e Espanha, insistem na criação de um instrumento de dívida compartilhada - conhecido como "coronabônus", ou "eurobonds" - que visa a relançar a economia assim que a crise passar.

Esta proposta é apoiada por França, Grécia, Malta, Luxemburgo e Irlanda, de acordo com diferentes fontes ouvidas pela AFP.

"Os eurobonds representam uma resposta séria e apropriada", insistiu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, cujo país é o mais atingido na Europa (mais de 17.127 mortes), na segunda-feira à noite.

Espanha e Itália, confrontadas à oposição dos países do norte (Alemanha e Holanda principalmente), causaram o fracasso da cúpula no final de março.

A mutualização da dívida é, de fato, uma linha vermelha para Berlim e Haia, que se recusam a se comprometer com um empréstimo conjunto com Estados fortemente endividados, que consideram maus administradores.

Para o ministro das Finanças da Holanda, Wopke Hoekstra, os "coronabônus" causariam mais problemas do que soluções para revitalizar a economia.

"A Holanda é contra a ideia dos eurobonds", tuitou Hoekstra nesta quarta-feira.

Seu colega alemão, Olaf Scholz, também reiterou sua rejeição a essa medida e insistiu em que a reativação da economia europeia é possível "com ferramentas muito clássicas", como, "por exemplo, o orçamento da União Europeia".

Dinamarca, Áustria, Suécia e Estados Bálticos estão deste lado, segundo uma fonte europeia.

Saiba Mais

Em vez de debater a hipotética dívida compartilhada, os países do norte preferem se concentrar agora nos instrumentos existentes para combater o golpe econômico, como o MEE, criado em 2012 durante a crise da dívida na zona do euro.

O MEE pode conceder empréstimos a um Estado em dificuldade que atinja 2% do Produto Interno Bruto (PIB), ou até 240 bilhões de euros.

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