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Biden vs Trump

Bernie Sanders abandona a disputa pela indicação do Partido Democrata e abre caminho para o ex-vice-presidente de Barack Obama concorrer à Casa Branca. Potencial candidato da oposição adota discurso conciliador e se dirige aos eleitores do senador veterano

Correio Braziliense
postado em 09/04/2020 04:05
Bernie Sanders e Joe Biden (D), durante debate no estado de Ohio, em outubro passado: amigos de longa data e aliados na reta final da campanha
 
Antes do anúncio, o senador democrata Bernie Sanders, 78 anos, telefonou várias vezes para Barack Obama. Escutou do ex-presidente sobre a necessidade de unificar o Partido Democrata, uma precondição para derrotar o republicano Donald Trump nas eleições de 3 de novembro. Na manhã de ontem, em vídeo difundido por meio de seu perfil pessoal no Twitter, Sanders avisou: “Enquanto estamos vencendo a batalha ideológica, e conquistando o apoio de muitos jovens e de trabalhadores em todo o país, cheguei à conclusão de que essa batalha pela indicação do Partido Democrata não será bem-sucedida”. “Por isso, hoje estou anunciando a suspensão de minha campanha”, declarou. Com o abandono da corrida à Casa Branca, Sanders praticamente oficializou a candidatura de Joe Biden, ex-vice de Obama e pivô do chamado “caso Ucrânia”, que provocou o julgamento político de Trump. “Hoje estou suspendendo minha campanha. Mas, mesmo que a campanha termine, a luta pela justiça continua”, acrescentou o político veterano.
 
Sanders também se dirigiu a Biden, amigo de longa data. “Hoje, eu parabenizo Joe Biden, um homem muito decente, com quem trabalharei para mover nossas ideias progressistas adiante”, comentou. Por sua vez, Biden se dirigiu aos simpatizantes do ex-adversário, também por meio das redes sociais. “Conheço Bernie bem. Ele é um bom homem, um grande líder e uma das mais poderosas vozes pela mudança em nosso país. É difícil resumir suas contribuições à nossa política em um único tuíte. Então, não vou tentar”, afirmou. “Aos apoiadores de Bernie: eu sei que preciso ganhar seus votos. Sei que isso pode levar tempo. Mas quero que saiba que eu os vejo, os ouço e compreendo a urgência deste momento. Espero que vocês se juntem a nós. Vocês são mais do que bem-vindos: são necessários.”
 
Em entrevista ao Correio, Bruce Ackerman, professor de direito da Universidade de Yale (em Connecticut), explicou que a união democrata entre esquerda (Sanders) e centro (Biden) ampliará bastante as chances de vitória do partido nas eleições de 3 de novembro. “Enquanto Biden exemplifica o tipo de liderança responsável que contrasta com a conduta errática de Trump, espero que ele adote ao menos alguns dos elementos do programa de campanha de Sanders para mobilizar os democratas fortemente progressistas a saírem de casa para votar”, disse.

Influência

Professor de ciência política da Universidade Brown (em Rhode Island), James Green aposta que Sanders tentará influenciar o programa e a direção do Partido Democrata em favor de Biden. “Sanders gosta de Biden, e isso será um elemento muito importante na construção de uma aliança. A questão-chave é se Sanders poderá ou não mobilizar sua base para apoiar Biden e continuar organizando o próprio eleitorado”, afirmou à reportagem. Segundo ele, as mortes crescentes provocadas pela pandemia do novo coronavírus em estados republicanos e em áreas rurais dos EUA (leia abaixo), aliadas à incompetência da Casa Branca, podem ajudar os independentes a entenderem a liderança “desastrosa” de Trump. “A campanha será pautada pela crise sanitária. Trump tentará falar sobre a Ucrânia e sobre o filho de Biden (Hunter Biden), mas acho que as pessoas não se importarão com isso. Os republicanos querem impedir os cidadãos de votarem. Creio que a determinação mostrada ontem (terça-feira) pela população de Wisconsin em votar nas primárias é um bom sinal da possível mobilização em torno de Biden.”
 
Para Leonardo Trevisan, economista e professor de relações internacionais da ESPM (SP), Biden representa uma possibilidade muito mais significativa de união dos democratas do que Sanders. “Quem conhecia esse poder de Biden era o próprio Trump, que se arriscou fazendo pressões sobre o presidente da Ucrânia (Volodymyr Zelensky) para ‘conseguir elementos’ a fim de prejudicar a campanha do democrata. Biden é um candidato muito mais forte. Sanders também não representava uma mensagem unitária do partido, com forte tradição de votos dos moderados.”
 
Trevisan aposta que Biden utilizará sinais emitidos pela campanha de Sanders para golpear Trump, como a urgência de um sistema de saúde universal. Ele avalia que o discurso de despedida do senador foi em nome da unidade partidária. “Sanders pretende manter vivo o seu ideário político. Ele tentará, de alguma forma, convencer que a plataforma democrata contenha seus ideais mais progressistas, em busca de uma campanha moderada.”
 
"Hoje estou suspendendo minha campanha. Mas, mesmo que a campanha termine, 
a luta pela justiça continua"
Bernie Sanders, senador democrata, ao anunciar a desistência da campanha 
 
 

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