Correio Braziliense
postado em 10/04/2020 04:05
O tipo de alimento escolhido pode mudar a forma como uma pessoa percebe o sabor do açúcar, segundo um estudo internacional. Cientistas descobriram, por meio de experimentos com moscas-da-fruta, que o gosto do doce difere conforme a dieta fornecida aos insetos, um dos animais mais usados em pesquisas. A equipe também observou que a aprendizagem e o sabor são controlados pelas mesmas moléculas nas cobaias, em um mecanismo muito similar ao que ocorre em humanos.
No estudo, divulgado no periódico Cell Reports, os autores explicam que, embora se saiba, há muito tempo, que os alimentos podem ter sabor diferente com base em experiências anteriores, as vias moleculares que controlam esse efeito ainda não são completamente conhecidas. A pesquisa com as moscas tem a intenção de avançar nesse sentido.
Nos experimentos, os cientistas descobriram que, se mudassem a dieta dos insetos (aumentando o açúcar, removendo o sabor ou trocando por carboidratos complexos), conseguiriam alterar drasticamente o quão bem os insetos sentiam o açúcar após alguns dias. “Descobrimos que, quando as moscas comiam alimentos sem açúcar, isso fazia com que os açucarados tivessem um sabor muito mais intenso”, detalha, em comunicado, Qiaoping Wang, pesquisador da Universidade Sun Yat-Sen, na China, e um dos autores do estudo. A equipe, que contou com a ajuda de pesquisadores australianos, também detectou que comer quantidades elevadas do composto suprimia a percepção do paladar, fazendo com que os alimentos parecessem menos doces.
Dopamina
Em uma segunda etapa, os pesquisadores buscaram identificar quais moléculas eram responsáveis por essas reações. “Analisamos todas as proteínas que mudavam na ‘língua’ da mosca da fruta em resposta à dieta e investigamos o que estava acontecendo”, conta Wang. Descobriu-se que a sensação do paladar é controlada pela dopamina, o neuromodulador ligada a situações de recompensa.
“Vimos que a ‘língua’ das moscas, composta por sensores de sabor, pode aprender usando as mesmas vias moleculares do cérebro delas. A principal é o neurotransmissor dopamina. Esses são os mesmos caminhos químicos que os humanos usam para aprender e se lembrar de todos os tipos de coisa. Isso realmente destaca como o aprendizado é um fenômeno de corpo inteiro, e foi uma surpresa completa para nós”, frisa Qiaoping Wang.
Apesar dos resultados animadores, a equipe destaca que são necessárias mais pesquisas para provar que o mesmo processo ocorre com humanos. “Embora esse trabalho tenha sido realizado em moscas da fruta, as moléculas envolvidas agem da mesma forma com os seres humanos. Também experimentamos mudanças na percepção do paladar em resposta à dieta. Por isso, é possível que todo o processo seja o mesmo, mas teremos que confirmar essas suspeitas”, pondera o cientista.
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