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Devoção adaptada na semana santa

Papa Francisco celebra missa solitária na Cidade do Vaticano vazia e participa de Via-Crúcis na Praça de São Pedro, acompanhado apenas de enfermeiros, médicos e prisioneiros de cidade atingida pela pandemia. Cerimônias são transmitidas pela internet para 1,3 bilhão de fiéis

Correio Braziliense
postado em 11/04/2020 04:04
O pontífice argentino se deita no chão da Basílica de São Pedro e ora durante cerimônia em memória à Paixão de Cristo

APraça São Pedro, mais uma vez, estava praticamente vazia — uma repetição do cenário visto durante a extraordinária bênção Urbi et Orbi (“À cidade e ao mundo”), em 27 de março passado. Ao lado do papa Francisco, cinco médicos e enfermeiros do Vaticano e cinco prisioneiros de uma penitenciária da cidade italiana de Pádua, duramente atingidos pela pandemia do novo coronavírus. Também participaram da cerimônia a família de uma vítima de assassinato, a filha de um homem condenado à prisão perpétua, a mãe de outro detento e um padre inocentado de um crime que não cometeu.

A tradição foi rompida. Desde 1964, a procissão da Via-Crúcis era realizada todos os anos no anfiteatro do Coliseu iluminado, em Roma. Dessa vez, as meditações das 14 estações da Paixão de Cristo ocorreram diante da Basílica de São Pedro, entre tochas que marcaram o caminho, percorrido em silêncio atordoante pelo líder de 1,3 bilhão de católicos. Um contraste avassalador em relação ao ano passado, quando o pontífice esteve acompanhado por 20 mil fiéis. A Covid-19 impôs a celebração virtual aos católicos e também aos protestantes, obrigados a recorrer a televisões, tablets e computadores.

Um dia depois de homenagear os sacerdotes que morreram na Itália consolando doentes com a Covid-19 como “santos da porta ao lado”, Francisco dedicou um tributo, ontem, aos “médicos, enfermeiros, irmãs e padres” que “morreram no front como soldados que deram suas vidas por amor”. Em entrevista à emissora de TV italiana Rai1, o papa argentino estimou que esses homens e mulheres se juntaram à lista dos “crucificados na história”. “Sinto-me próximo do povo de Deus, especialmente daqueles que mais sofrem, das vítimas da pandemia, da dor do mundo”, acrescentou. Ele também disse contemplar “a esperança, que não tira a dor, mas não decepciona”. Horas antes da Via-Crúcis, Francisco rezou uma missa solitária na Basílica de São Pedro vazia, ao lado do crucifixo do Cristo Milagroso, que teria curado a peste de 1552.

“Decreto em tempos de Covid-19” emitido pela Santa Sé, em março, chegou a anunciar que as expressões de piedade e as procissões poderiam ser suspensas. As orações agora são feitas em família, e os fiéis são privados da comunhão, do batismo e até de funerais em muitos países. É praticamente um “retorno aos primeiros dias do cristianismo”, que era vivido discretamente na esfera privada, lembram os historiadores.

Na Espanha, que, como a Itália, é um dos países mais atingidos pelo vírus, a população renunciou às famosas procissões das confrarias, uma tradição popular que remonta ao século XVI. Por sua vez, a Igreja Anglicana começou a difundir podcasts de Páscoa para seus fiéis, incluindo uma leitura do Evangelho pelo príncipe Charles. Até recentemente, a Igreja Ortodoxa grega negava a possível propagação do vírus por meio da comunhão. No entanto, o governo proibiu missas na presença dos fiéis. Na Páscoa, que os ortodoxos celebram uma semana depois, as igrejas da Grécia permanecerão fechadas.


Israel

Na Terra Santa, todos os locais de culto estão fechados ao público, inclusive a igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, o lugar onde, segundo o Evangelho, Cristo foi sepultado. Normalmente, Jerusalém é o coração das celebrações da Páscoa. No ano passado, mais de  25 mil pessoas de todo o mundo se reuniam ali para celebrar a semana santa. Obrigados a apelar à criatividade, sacerdotes católicos têm dado bênçãos de helicópteros ou tomam a confissão dos fiéis de seus carros, como no porto turístico mexicano de Acapulco.

Israel, que registra cerca de 60 mortos pelo coronavírus, também celebra desde a quarta-feira a Pessach, a Páscoa judaica, que comemora o êxodo do Egito. Mas a atmosfera é sombria em um contexto de confinamento em que as famílias não podem se reunir. A epidemia está particularmente concentrada nos bairros judeus ultraortodoxos, onde as medidas sanitárias são menos respeitadas ou claramente ignoradas. Até as 21h de ontem, Israel contabilizava 10.408 infecções e 95 mortes.



“Sinto-me próximo do povo de Deus, especialmente daqueles que mais sofrem, das vítimas da pandemia, da dor do mundo”
Papa Francisco


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