Correio Braziliense
postado em 12/04/2020 04:25
O balanço de mortes nos Estados Unidos é devastador, o equivalente a seis vezes o total de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Até o fechamento desta edição, 20.389 pessoas tinham perdido a vida, depois de contraírem o novo coronavírus — o número de infectados chegava a 524.903. Nova York se consolidou como o epicentro da pandemia, com 6.367 óbitos. Na tarde de ontem, o presidente norte-americano, Donald Trump, publicou uma mensagem de otimismo em seu perfil no Twitter, com letras maiúsculas: “Nós construiremos (o país) novamente!”. O republicano terá uma tarefa difícil pela frente. A 206 dias das eleições presidenciais, Trump enfrenta uma escolha de Sofia: permitir, ou não, o retorno da atividade econômica. Na sexta-feira, ele mesmo admitiu que a decisão será a mais difícil de sua vida. “Terei que tomar uma decisão e só peço a Deus que seja a decisão certa. Mas diria, sem dúvida, que é a decisão mais importante que já tive que tomar”, declarou.
O democrata Joe Biden, potencial adversário nas eleições de Trump, cobrou, ontem, uma postura mais incisiva do presidente. “Nós estamos há meses nessa crise e nossos heróis na linha de frente não têm o equipamento de proteção de que precisam para se manterem seguros. É algo inescrupuloso”, comentou. “Donald Tump precisa usar plenamente o poder da Lei de Produção de Defesa imediatamente”, acrescentou. Além do novo coronavírus, um dos principais inimigos de Trump é a economia. Pelo menos 17 milhões de norte-americanos estão desempregados — há uma previsão de que o número chegue a 24 milhões em abril. Para conter o sangramento da pandemia, o Congresso aprovou em março um pacote de estímulo de US$ 2,2 trilhões, o maior da história.
“Nós precisamos de ajudar o maior número possível de famílias trabalhadoras e de pequenos negócios. Trabalhadores que perderam seus empregos ou viram sua carga horária reduzida e famílias que estão lutando para pagar aluguel e colocar comida sobre a mesa precisam de ajuda imediatamente. Não temos tempo a perder”, disparou Biden.
Em entrevista ao Correio, Bruce Ackerman — professor de direito da Universidade de Yale (em New Haven, Connecticut) — explicou que Biden tem se mostrado incapaz de estabelecer a incompetência de Trump de maneira convincente. “Ele deu algumas declarações fracas, enquanto o democrata Andrew Cuomo, governador de Nova York assumiu a liderança contra Trump em entrevistas nas quais ele ganhou ampla atenção da opinião pública. Talvez Biden apresente uma crítica muito mais vigorosa, à medida que a crise sanitária continuar. Mas somente o tempo dirá isso.”
Por sua vez, Keith E. Whittington, professor de ciência política da Universidade de Princeton (em Nova Jersey), disse à reportagem que o governo de Trump não respondeu bem à ameaça da pandemia. “Em face às dificuldades que os países do mundo têm enfrentado, fica difícil determinar o grau de culpa da atual gestão da Casa Branca. Parece provável que o governo tenha reconhecido a ameaça, ao tomar medidas decisivas em preparação à crise sanitária. No entanto, a burocracia federal foi lenta em suspender as restrições sobre a produção dos testes e dos suprimentos médicos, o que custou ao país um tempo valioso na resposta à pandemia.” O especialista acredita que Trump não foi eficiente em coordenar a resposta federal ou em fornecer liderança no desenvolvimento de uma resposta política à Covid-19.
Nova York
O prefeito Bill De Blasio anunciou que as escolas públicas da cidade de Nova York seguirão fechadas até o fim do ano letivo, em junho. “Fechar nossas escolas públicas pelo resto do ano (escolar) não é fácil, mas é necessário salvar vidas”, disse. Ele contou que tomou a decisão depois de uma conversa com o infectologista Anthony Faucci, o principal cientista coordenador da luta contra o coronavírus na Casa Branca.
De Blasio informou que 6 mil solteiros que vivem em abrigos para sem-teto na cidade de Nova York — um terço do total — serão transferidos para hotéis “para garantir que as pessoas que precisam ficar isoladas estejam isoladas”.
Pontos de vista
Por Bruce Ackerman
Preço alto a ser pago
“Trump pagará um preço alto, à medida que dezenas de milhões de norte-americanos são lançados para fora do emprego, e seu governo fracassa em agir de forma decisiva para responder efetivamente. Com a crise econômica atingindo níveis sem precedentes desde a Grande Depressão, há todas as razões para esperar que os eleitores americanos votem, de modo esmagador, para retirar Trump da Casa Branca. Assim como o fizeram em 1932, quando negaram a Herbert Hoover um segundo mandato por uma enorme diferença de votos.”
Professor de direito da Universidade de Yale (em New Haven, Connecticut)
Por Keith E. Whittington
O peso da economia
“As consequências atuais da pandemia do novo coronavírus são provavelmente mais importantes para as eleições de 3 de novembro do que o modo como Trump tentou gerenciar a crise. A queda econômica será severa, e isso tem, historicamente, prejudicado o ocupante da Casa Branca nas eleições. Mesmo que o governo tivesse sido muito melhor em responder à crise, a pandemia iria danificar, significativamente, as perspectivas de reeleição do presidente.”
Cientista político da Universidade de Princeton (em Nova Jersey)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.