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África corre contra o tempo para conter o coronavírus

O número oficial de casos confirmados no continente africano ainda é considerado baixo, 10 mil casos. A África do Sul tem o maior número de contaminados

Correio Braziliense
postado em 13/04/2020 09:36
Membros de uma comunidade de catadores e comerciantes informais voltam para sua residência com pacotes de alimentos recebidos no mercado de Kwa Mai Mai na CDB de Joanesburgo, em 13 de abril de 2020 durante uma distribuição de alimentos.Desde que o coronavírus foi considerado uma pandemia, autoridades de saúde expressam preocupação com a África. O número oficial de casos confirmados ainda é baixo, 10 mil, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) faz um alerta: é preciso agir contra o tempo para evitar uma catástrofe.

Nos 54 países do continente vive um sétimo da população mundial - muitos em guerra e pobreza extrema. "Temos de agir agora, informar sobre a doença, como preveni-la, preparar clínicas e hospitais para atendimento rápido e garantir que as pessoas tenham acesso ao básico: água e sabão. Se agirmos rápido, conseguiremos evitar o pior", afirma Crystal Wells, porta-voz do CICV no leste da África.

Até agora, a África do Sul tem o maior número de contaminados no continente, com mais de 1,7 mil casos e 9 mortes. No país, profissionais de saúde usam trajes de proteção e máscaras ao testar a população, que está confinada até dia 16 sob ordem do governo. O presidente, Cyril Ramaphosa, lançou uma campanha que mobilizou 10 mil médicos, enfermeiras e voluntários para impedir a disseminação da doença.

Mas a preocupação dos agentes comunitários está em outros países, principalmente pela precariedade dos sistemas de saúde. Os hospitais sofrem com falta de camas e respiradores, há poucos médicos e serviços como água corrente são raros em muitos lugares. Segundo o CICV, a situação é ainda mais grave porque não houve redução da violência em países em guerra, o que tende a sobrecarregar os centros de saúde.

"O surto está pressionando sistemas sofisticados de saúde na Europa e Ásia, com equipes médicas sobrecarregadas lutando para tratar seus pacientes, e instalações de terapia intensiva lotadas nos países ricos. Imagine o que acontecerá com os sistemas de saúde na África quando o vírus chegar", disse Winnie Byanyima, diretora do Programa Conjunto da ONU sobre Aids (Unaids).

Wells relata uma preocupação especial com alguns países, como o Sudão do Sul, que sofre com a guerra há muitos anos, tem comunidades devastadas, hospitais lotados de feridos por bala. "As pessoas lá morrem de outras doenças, como malária, que tem tratamento, porque não há acesso a um sistema de saúde adequado", afirma.

O fato de os conflitos continuarem exige que as organizações humanitárias continuem atuando. "As pessoas continuam contando com nossos sistemas para sobreviver, como a distribuição de comida. O que estamos fazendo é colocar as pessoas na fila em uma distância adequada, pedindo que lavem as mãos sempre", explica.

Em Burkina Fasso, país mais afetado do oeste da África, o número de deslocados pelos conflitos internos é o ponto mais alarmante porque, segundo o CICV, dificulta táticas de detecção da covid-19 e a manutenção do distanciamento social.

"A Somália também tem infraestrutura precária. Apenas 50% da população vive em regiões urbanas com acesso a sistemas de saúde adequados", disse Wells. Segundo a agência France Press, na Somália há menos de um médico para cada 10 mil habitantes e muitos já estão contaminados com a covid-19.

"No norte do Mali, mais de 90% das instalações de saúde foram destruídas pela guerra e as que sobraram estão lotadas por feridos", afirmou Wells. O governo do país impôs um toque de recolher para tentar evitar a propagação da doença.

O vírus, segundo o CICV, pode não ser controlado caso afete os países e comunidades mais frágeis da África. "Nosso maior medo é que se ele continuar a se espalhar e chegar em áreas que são muito pobres ou enfrentam crises em razão da violência, o controle da doença será quase impossível e os sistemas de saúde vão colapsar."

A Cruz Vermelha lançou um apelo, no mês passado, pedindo 800 milhões de francos suíços (US$ 823 milhões) para ajudar as comunidades mais vulneráveis do mundo. A verba será destinada também para fornecer mais suprimentos a estabelecimentos de saúde, expandir programas de saneamento e prevenção da covid-19.

Os governos africanos estão impondo restrições de circulação, medidas de confinamento, fechamento de fronteiras, mas o CICV pede que seja garantido o acesso a água e sabão e haja muita divulgação sobre a doença e a pandemia. "Notícias falsas podem levar à morte. Precisamos informar sobre o que é o coronavírus, o que faz e como pode ser combatido para que as famílias saibam como agir se alguém ficar doente."

O CICV considera essencial que os sistemas de saúde sejam melhorados porque em alguns locais as medidas impostas sob orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o distanciamento entre as pessoas, não poderão ser cumpridas. "Como manter a distância aconselhada quando se vive em um campo de refugiados e se dorme em uma tenda com mais 10 pessoas da família? Por isso, precisamos garantir as questões básicas", afirma Wells. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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