Mundo

Forte liderança contra o vírus

Com o fechamento de fronteiras a estrangeiros e a imposição de quarentena aos nacionais, após desembarcarem na Nova Zelândia, a premiê Jacinda Ardern controla a pandemia no país, com baixos índices de infecção e mortes

Correio Braziliense
postado em 15/04/2020 04:14
Ruas do centro de Wellington completamente desertas, com a imposição de quatro semanas de isolamento e o fechamento de estabelecimentos
 
 

Simplicidade, transparência e eficiência. Aos 39 anos, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, resolveu apostar nesse tripé e tomou a dianteira no combate ao novo coronavírus. A estratégia tem sido bem-sucedida. Até o fechamento desta edição, o país contabilizava 1.366 casos e apenas nove mortes — um índice de letalidade de 0,6%, enquanto no mundo é de 6,4%. Com 4,9 milhões de habitantes e uma expectativa de vida de 82 anos (a 22ª mais alta do planeta), a Nova Zelândia fechou fronteiras aos estrangeiros, ordenou a quarentena de 14 dias aos cidadãos recém-chegados do exterior e impôs o confinamento residencial. Ontem foi o dia mais letal da pandemia de Covid-19 na ilha, com o registro de quatro mortes. “É um lembrete triste e preocupante sobre a necessidade de mantermos o rumo (do combate à doença)”, declarou a premiê.
 
Ardern se opôs ao relaxamento das medidas de restrição social. “Fomos relativamente bem-sucedidos, mas não quero desperdiçar este sucesso e os sacrifícios feitos pelos neozelandeses. Nosso objetivo deve ser atuar logo, e de maneira firme, para alcançar uma posição na qual possamos aliviar as restrições com confiança”, acrescentou a chefe de governo.
 
A primeira-ministra utiliza o Facebook para informar a população sobre as medidas tomadas pelo governo. “Já me perguntaram algumas vezes se os líderes mundiais estão compartilhando ideias uns com os outros. Estamos! Não temos muito tempo, mas nesta semana eu conversei com Mette Frederikisen, primeira-ministra da Dinamarca, que conheci no fim do ano passado. Podemos estar distantes, mas estamos todos na mesma luta contra a Covid-19”, escreveu Ardern, junto a fotos nas quais ela aparece falando ao telefone.
 
Diretor do corpo de cientistas conselheiros da premiê e professor da Universidade de Auckland, Shaun Hendy explicou ao Correio que a epidemia de Covid-19 começou mais tarde na Nova Zelândia do que em outros países. “O balanço de mortes provavelmente vai aumentar em relação ao número total de infectados. Muitos dos casos de contágio têm sido de pessoas mais jovens, que viajaram para o exterior e que demonstraram uma taxa de recuperação mais rápida”, disse.

De acordo com ele, o país fechou as fronteiras e iniciou o isolamento social de modo prematuro, antes da transmissão comunitária. Hendy acredita que as medidas impediram que a doença se espalhasse à população idosa. “Esperamos eliminar a Covid-19 em duas semanas. Por isso, manteremos as pessoas de grupo de risco em segurança, enquanto as fronteiras permanecem fechadas”, comentou. O conselheiro de Jacinda admitiu que o sistema de saúde pública não se preparou para uma pandemia da maneira como deveria, mas buscou realizar ajustes rapidamente. “Nossa liderança tem sido muito eficiente nesse sentido.”
Nick Wilson, professor de saúde pública da Universidade de Otago (Nova Zelândia), o país respondeu à ameaça da Covid-19 muito rapidamente, com um isolamento social relativamente forte pelos padrões internacionais. “O número de novos casos tem sido rastreado há mais de uma semana, e os testes vêm se expandindo. Por sua vez, os processos de rastreamento de aglomerações têm se aprimorado”, afirmou. Ele prevê que a eliminação da Covid-19 ocorrerá entre um e dois meses.
 
Moradora da capital, Wellington, a professora do ensino primário Jess Milhare, 24 anos, contou à reportagem que a premiê faz um trabalho “incrível”. “Ela tem garantido que as pessoas necessitadas recebam ajuda financeira. Também implantou um processo de educação on-line para as crianças do país. Todas as pessoas que retornam para a Nova Zelândia vindas de outras nações são hospedadas em ótimos hotéis para respeitar a quarentena de duas semanas”, disse.

Europa

Na Europa, Áustria, Itália e Espanha reiniciaram timidamente sua atividade econômica em uma nação paralisada, com mais da metade da população em isolamento. Os italianos manterão o confinamento até 3 de maio, mas as atividades florestais agrícolas começaram a ser retomadas; na Espanha, o mesmo ocorreu com os setores da construção civil e com indústrias. A França registrou 762 mortes por Covid-19 entre segunda-feira e ontem, o balanço diário mais alto desde o início da pandemia. Até o fechamento desta edição, o mundo tinha 1.970.870 infectados e 125.678 mortes.
 
» Pontos de vista 
 
» Por Shaun Hendy
Isolamento e alerta eficientes
 
 
“O forte isolamento — todas as escolas fechadas e apenas negócios abertos são autorizados a permanecer abertos — tem sido muito eficiente e apoiado pelo rastreamento rápido de aglomerações e pelos testes generalizados. Isso permitiu ao governo isolar as pessoas antes que infectassem outras, e isso rompeu a cadeia de infecção. Nossa primeira-ministra, Jacinda Ardern, e nossa diretora-geral de Saúde, Ashley Bloomfield, são muito boas comunicadoras. Tivemos um sistema simples de nível de alerta, relativamente fácil de compreender. Eles aceitaram os melhores conselhos científicos e foram capazes de comunicá-los bem.”
Professor da Universidade de Auckland e diretor de um corpo 
científico de conselheiros da premiê Jacinda Ardern 
 
» Por Nick Wilson
Eliminação em dois meses
“Acredito que a Nova Zelândia tem 75% de chance de eliminar o novo coronavírus. Se fracassar,  precisará mudar para uma estratégia de supressão, como a maioria dos países. Se os neozelandeses conseguirem debelar a Covid-19, será preciso manter 14 dias de quarentena nas fronteiras, até que uma vacina ou melhores terapias estejam disponíveis. É possível que a eliminação da Covid-10 ocorra entre um e dois meses. Como uma nação insular, dotada de bons controles fronteiriços, a Nova Zelândia tem um histórico de eliminação de outras doenças, como brucelose e hidátides. Também temos espécies de mosquitos invasoras disseminadas.”
Professor de saúde pública da Universidade de Otago (Nova Zelândia) 
 
 
 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags