Correio Braziliense
postado em 16/04/2020 12:55
A Europa continua "no olho do furacão" diante da epidemia de coronavírus, alertou nesta quinta-feira (16/4) a Organização Mundial da Saúde (OMS), no momento em que vários governos decidiram, ou planejam, flexibilizar as medidas de confinamento adotadas para restringir essa pandemia mortal.
Apesar dos "sinais encorajadores" constatados, o número de casos quase dobrou nos últimos dez dias na Europa, chegando a quase um milhão, ressaltou o diretor da OMS Europa, Hans Kluge, em coletiva de imprensa em Copenhague.
Nesse contexto, a agência especializada da ONU pede aos líderes europeus que "não baixem a guarda" e se assegurem de que o vírus esteja sob controle antes de suspenderem as restrições.
Desde seu aparecimento na China, em dezembro passado, a Covid-19 infectou mais de dois milhões de pessoas em todo mundo e matou mais de 137 mil, incluindo mais de 90 mil somente na Europa, aponta balanço atualizado pela AFP com base em fontes oficiais e divulgado nesta quinta-feira (16/4).
Preocupados com as dramáticas consequências das restrições para as economias paralisadas e, tendo em vista a desaceleração nas admissões e internações em unidades intensivas, vários países europeus começaram a elaborar seus planos de desconfinamento e até o relaxamento de algumas medidas.
A Suíça pretende apresentar seu plano nesta quinta-feira. Já a Alemanha planeja reabrir algumas lojas e, a partir de 4 de maio, as escolas.
Na quarta-feira, quase metade dos estudantes na Dinamarca retornou às salas de aula após um mês de fechamento. A Áustria reabriu na terça seus pequenos estabelecimentos comerciais não essenciais. A Itália, segundo país mais afetado do mundo com 21.645 mortos, também autorizou a reabertura de algumas lojas.
Na Espanha (19.130 mortos), parte dos trabalhadores voltou ao trabalho, mas o "home office" continua sendo a norma. O plano de confinamento deve ser estendido para além de 25 de abril.
A França (17.167 mortos) também está preparando seu plano progressivo de desconfinamento a partir de 11 de maio, após ter decidido na segunda-feira estender suas medidas restritivas.
Cemitérios lotados
Nos Estados Unidos, Donald Trump pretende religar a máquina econômica o mais rápido possível e deve apresentar seu roteiro nesta quinta-feira.
"Vamos reabrir estados, alguns estados muito antes do que outros. Alguns estados podem, de fato, abrir antes do prazo de 1º de maio", assegurou o presidente americano na quarta-feira, dizendo que os Estados Unidos provavelmente "passaram do pico" de novos casos.
O país é o mais afetado do mundo, com 30.985 mortes para 639.664 casos confirmados.
Em Nova York, onde as cremações mais do que dobraram, e os enterros aumentaram cinco vezes, Green-Wood, seu maior cemitério, atingiu o limite de sua capacidade.
"E não é apenas Green-Wood", garante Eric Barna, membro da Metropolitan Cemetery Association, que reúne os cemitérios de Nova York.
"Chegamos ao ponto em que o sistema não consegue lidar com um volume tão grande em tão pouco tempo", completou.
Nesse contexto, o Reino Unido está se preparando para anunciar nesta quinta-feira a continuação de seu confinamento.
"Não vou pré-julgar a decisão oficial que será tomada, mas fomos claro em dizer que é muito cedo para uma mudança", disse o ministro britânico da Saúde, Matt Hancock, cujo país é um dos mais afetados, com quase 12.868 mortes apenas em hospitais.
Migrantes transferidos
Em outras partes do mundo, países como a República Democrática do Congo (21 mortos) permanecem em alerta. As autoridades temem "o pior" no início de maio em Kinshasa, onde a epidemia "está entrando em uma fase exponencial".
Escolas, locais de culto, bares e boates estão fechados, mas os mercados municipais permanecem abertos, com vendedores e compradores se aglomerando sem respeitar o distanciamento preconizado.
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou nesta quinta-feira a extensão do estado de emergência a todo arquipélago japonês.
Esse sistema não resulta em confinamento obrigatório, mas permite que as autoridades regionais recomendem fortemente que os residentes restrinjam seus deslocamentos e incentivem o fechamento de certos estabelecimentos comerciais.
Para proteger do coronavírus os solicitantes de asilo idosos, ou doentes, que viviam nos campos superlotados das ilhas do Mar Egeu, a Grécia decidiu nesta quinta-feira iniciar a transferência de centenas deles para o continente.
Na China, apesar das críticas do exterior, os mercados de rua reabriram em Wuhan quatro meses após o aparecimento da COVID-19 nesta cidade do centro do país.
Segundo especialistas, o novo coronavírus apareceu no final de 2019 em um mercado da cidade, onde animais exóticos eram vendidos vivos. O vírus de origem animal poderia ter sofrido uma mutação e contaminado os seres humanos.
Para ajudar os países mais pobres atingidos pela pandemia, principalmente na África, os países mais industrializados do G7 adotaram na quarta-feira a decisão "histórica" de suspender por um ano o pagamento de sua dívida.
Um alívio que chega no momento certo, após a tão criticada decisão de Donald Trump de suspender a contribuição americana (400 milhões de dólares por ano, maior doador) para a OMS.
Ele acusa a organização de "má gestão" dessa pandemia e de excessivo alinhamento com as posições chinesas.
"Lamentamos a decisão do presidente dos Estados Unidos", reagiu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, enquanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que "não é hora de reduzir" o financiamento de organizações que combatem a pandemia.
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