Correio Braziliense
postado em 18/04/2020 04:06
O número de crianças infectadas com o Sars-Cov-2 pode ser muito maior do que o relatado pelas estatísticas. É o que afirma um estudo da Universidade do Sul da Flórida (USF) e do Instituto para Pesquisa Social Independente da Mulher (WiiSE), ambos nos Estados Unidos, publicado no Journal of Public Health Management and Practice. A pesquisa estima que, para cada criança que necessita de cuidados intensivos para a Covid-19, existem outras 2.381 com o novo coronavírus.
A projeção baseia-se em um relatório do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças sobre casos clínicos de mais de 2,1 mil meninos e meninas chineses infectados, sendo que nem todos desenvolveram a doença de forma grave, embora tenham recebido o diagnóstico positivo. Os cientistas da instituição chegaram a um cálculo que indicou a proporção de infectados sem ou com sintomas moderados para cada paciente que precisou de cuidados médicos intensivos.
Nos Estados Unidos, país mais atingido pela pandemia até agora, o registro de estatísticas Virtual PICU Systems contabiliza 74 crianças admitidas em unidades de terapia intensivas pediátricas (UTIPs) entre 18 de março e 6 de abril. Segundo os autores do novo estudo, isso sinaliza que outras 176.190 provavelmente foram infectadas nesse período.
Crianças com menos de 2 anos representam 30% dos casos, 24% têm entre 2 e 11 anos e 46% das internadas nas UTIPs são adolescentes entre 12 e 17 anos. Os pesquisadores afirmam que, se 25% da população dos EUA for infectada com o coronavírus antes do fim deste ano, 50 mil crianças com doenças graves precisarão ser hospitalizadas, com 5,4 mil delas em estado crítico, necessitando de ventilação mecânica. Os relatórios clínicos indicam que o tempo médio de permanência nas UTIs pediátricas é de 14 dias.
Alerta a governos
“Embora o risco de doença grave seja menor nos casos pediátricos do que nos adultos, os hospitais devem estar preparados e ter equipamentos e pessoal para lidar com um afluxo potencial de pacientes mais jovens”, disse Jason Salemi, um dos autores e professor-associado de epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública da USF. “Governantes e formuladores de políticas públicas devem entender a probabilidade de ter de enfrentar esses desafios, o que ressalta a importância de estratégias eficazes de mitigação, como higienização frequente e completa das mãos e medidas persistentes de distanciamento social.”
Segundo Salemi, em crianças, o enfrentamento à doença é altamente complexo, pois muitos hospitais proíbem visitas a pacientes com Covid-19, devido aos protocolos de distanciamento social e quarentena. Um cuidador também pode estar infectado, o que exigiria acomodações logísticas e de controle de infecção que sobrecarregam os recursos hospitalares. Após a alta, as crianças pequenas podem não conseguir cumprir independentemente as recomendações de controle de infecção doméstica e de autoisolamento, alega o pesquisador.
Os autores do estudo apontam que a taxa de infecção será muito maior para crianças de famílias de baixa renda com pais em empregos na área de prestação de serviço, o que impede a opção de trabalhar em casa. Há também um risco aumentado para aquelas que moram em projetos de habitação pública urbana devido à proximidade das unidades e das pequenas áreas de circulação e de uso comum.
“Embora o risco de doença grave seja menor nos casos pediátricos do que nos adultos, os hospitais devem estar preparados e ter equipamentos e pessoal para lidar com um afluxo potencial de pacientes mais jovens”
Jason Salemi, professor da Universidade do Sul da Flórida e um dos autores do estudo
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