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Atirador em fuga mata 13

No mais letal tiroteio a atingir o país em 30 anos, homem espalha o caos em perseguição de 12 horas na Nova Escócia. Disfarçado de policial e a bordo de viatura, ele começou o ataque na noite de sábado e morreu na manhã de ontem

Correio Braziliense
postado em 20/04/2020 04:35
Policiais de unidade tática especial conversam após o fim da caçada (E); perito legista fotografa corpo (D)



 Pierre Little, 51 anos, ainda se lembra do amigo de infância. Ele e Gabriel Wortman tinham 11 anos e conviveram até os 13, na cidade de Riverview, na província de Nova Brunswick (leste do Canadá). “Nós brincamos algumas vezes e ele exibia interesse por armas. Nós atirávamos com uma de suas espingardas de compressão, algo raro para uma criança”, contou ao Correio. “Ele gostava de fazer bombas fedorentas com tampas de garrafa.”

Ontem, as lembranças de Pierre vieram acompanhadas do choque. Gabriel foi encontrado morto depois de executar pelo menos 13 pessoas nas cidades de Portapique e de Enfield, na província de Nova Escócia. “Nossos corações estão com todos aqueles afetados pelo tiroteio. (…) Em nome de todos os canadenses, eu quero dizer que estamos aqui para vocês — assim como nos próximos dias e semanas”, escreveu no Twitter o premiê do Canadá, Justin Trudeau. Até o fechamento desta edição, os motivos para o mais letal tiroteio ocorrido no país em 30 anos eram um mistério.

Antes de cometer o ataque, Gabriel comprou um Chevrolet Traucker de cor prata, em um leilão, e o adesivou de forma a copiar as viaturas da Polícia Montada Real Canadense. O carro foi utilizado pelo assassino durante o tiroteio, que durou 12 horas. Gabriel também vestia o uniforme da polícia. Entre as vítimas dele, estava a policial Constable Heidi Stevenson, 23 anos, que deixa dois filhos. A ação teve início às 23h30 de sábado (hora de Brasília), na área rural da cidade de Portapique. Segundo o jornal The Chronicle Herald, quando os agentes chegaram ao local, se depararam com várias vítimas. Na fuga, Gabriel incendiou casas e carros. Às 11h40 de ontem foi cercado em um posto de gasolina, em Enfield, 35km ao norte de Halifax. As autoridades não informaram como o atirador morreu.

“A busca pelo suspeito terminou nesta manhã, quando ele foi localizado. Posso dizer que está morto”, comentou o superintendente-chefe da Polícia Montada Real Canadense, Chris Leather. “É claro que o fato de esse indivíduo ter um uniforme e um carro da polícia à disposição certamente explica que este não foi um ato aleatório”, acrescentou. Ele admitiu que algumas das vítimas “pareciam não ter qualquer relação com o atirador”.

Alertas

Durante a fuga de Gabriel, as autoridades emitiram uma série de alertas à população, orientando os moradores a permanecerem trancados em casa e descrevendo-o como “armado, perigoso e disfarçado como policial”. Brenda Lucki, comissária de polícia, confirmou que o incidente não era investigado como terrorismo. Ela acredita que o atirador tinha uma motivação “inicial”, mas que acabou por se tornar “aleatória”. “Nossa investigação dirá isso. Não temos certeza, e teremos de trabalhar muito para encontrar a motivação — antecedentes, eventos de mesmo perfil e crimes parecidos”, afirmou Lucki, citada pela emissora de tevê CBC.

O primeiro-ministro de Nova Escócia, Stephen McNeil, classificou o ataque como “um dos atos de violência mais insensatos da história da província”. “Nunca imaginei, ao ir para a cama na noite passada, que acordaria com a terrível notícia de um atirador à solta na Nova Escócia”, lamentou. “Para as famílias das vítimas e para aqueles que ainda estão com medo, meu coração se apega a vocês.”

A polícia tenta construir o perfil do assassino. A imprensa canadense divulgou que uma pessoa de nome Gabriel Wortman aparece como dentista na área de Halifax, no site da Sociedade de Dentistas da Nova Escócia. Segundo os registros imobiliários, Wortman era dono de uma clínica de prótese dentária e de cinco outras propriedades — duas em Datmouth e três em Portapique.
 
 

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