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Práticas culinárias distintas entre caçadores-coletores

Correio Braziliense
postado em 22/04/2020 04:05
Equipe analisou cerâmicas usadas, há ao menos 6 mil anos, para cozinhar

 

Estudo feito por um grupo internacional de pesquisadores revela contrastes significativos nas preferências alimentares e práticas culinárias entre diferentes grupos de caçadores-coletores. Os cientistas analisaram uma série de fragmentos de cerâmicas antigas, pertencentes a grupos que viveram entre 7,5 mil e  6 mil anos atrás, e publicaram as descobertas na nova edição da revista Royal Society Open Science.

 

A equipe — composta por cientistas do Departamento de Pesquisa Científica do Museu Britânico, da Universidade de York, no Reino Unido, e do Centro de Arqueologia Báltica e Escandinava, na Alemanha — usou técnicas moleculares e isotópicas para analisar as peças. “A análise química de restos de alimentos e produtos naturais preparados em cerâmica revolucionou nossa compreensão das sociedades agrícolas primitivas. Agora, estamos vendo esses métodos serem usados para estudar a cerâmica pré-histórica de caçadores-coletores”, destaca, em comunicado, Oliver Craig, professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de York e um dos autores do estudo.

 

Os cientistas analisaram mais de 500 vasos de caçadores-coletores, encontrados em 61 sítios arqueológicos em toda a região do Báltico. “Muitas vezes, as pessoas ficam surpresas ao saber que caçadores-coletores usavam cerâmica para armazenar, processar e cozinhar alimentos, assim como transportavam vasos pesados, algo inconsistente com um estilo de vida nômade”, frisa Craig. “Nosso estudo analisou como essa cerâmica era usada, e encontramos evidências de uma rica variedade de alimentos e tradições culinárias em diferentes grupos de caçadores-coletores”, completa.

 

Influência cultural

 

A equipe percebeu contrastes mesmo em grupos de áreas em que havia disponibilidade semelhante de recursos. Segundo os autores do trabalho, panelas foram usadas para armazenar e preparar alimentos diversos, como peixes marinhos, focas, castores, javalis, ursos, veados, avelãs e plantas de peixes de água doce. Para eles, esses dados indicam que os hábitos alimentares não dependiam apenas dos recursos disponíveis.

 

“Apesar de uma área comum ter fornecido muitos recursos marinhos e terrestres, as comunidades de caçadores-coletores ao redor da bacia do Mar Báltico não usaram cerâmica para o mesmo objetivo. Nosso estudo sugere que as práticas culinárias não foram influenciadas por restrições ambientais, mas, provavelmente, foram incorporadas em algumas tradições culinárias e hábitos culturais de longa data”,  justifica Blandine Courel, pesquisadora do Museu Britânico.

 

A equipe também identificou evidências de produtos lácteos em alguns vasos, sugerindo que alguns grupos de caçadores-coletores poderiam estar interagindo com os primeiros agricultores para obter esse recurso. “A presença de gorduras lácteas em vários navios caçadores-coletores foi um exemplo inesperado de ‘fusão cultural’ culinária. Essa descoberta tem implicações para a nossa compreensão da transição do estilo de vida dos caçadores-coletores no início da agricultura e demonstra que essa mercadoria foi trocada ou talvez saqueada de fazendeiros próximos”, afirma Harry Robson, pesquisador do Departamento de Arqueologia da Universidade de York. 

 

 

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