Correio Braziliense
postado em 23/04/2020 11:17
A Itália começou a fazer exames de sangue, nesta quinta-feira (23/4), um novo teste para estabelecer os anticorpos ao coronavírus, na esperança de controlar melhor a pandemia e poder suspender o confinamento em vigor desde 9 de março.
O teste de anticorpos, ou análise sorológica do sangue, indica se uma pessoa foi infectada com o coronavírus e se desenvolveu imunidade contra a infecção.
Começou a ser feito na Lombardia, a região mais afetada do país.
Com isso, a Itália espera poder contar com a chamada "imunidade coletiva" para reativar a economia dessa próspera região industrial, paralisada pela crise sanitária.
Quase 13 mil pessoas morreram pelo vírus na Lombardia, que tem Milão como capital. Esse número representa mais da metade dos 25 mil mortos na península.
As autoridades de saúde anunciaram que farão 20 mil testes por dia nessa região.
Os primeiros a serem submetidos aos exames de sangue serão os trabalhadores da saúde: médicos, equipe de enfermagem, técnicos de laboratório e cuidadores de lares para idosos.
Na lista também estão pessoas que ficaram em quarentena por terem apresentado sintomas, aquelas que tiveram contato com pessoas doentes e os que tiveram sintomas leves.
Os testes - que envolvem cerca de 300 mil pessoas, segundo o jornal "Il Corriere della Sera" - serão feitos pela empresa italiana de biotecnologia DiaSorin.
A Alemanha já começou a fazer estes exames, e Finlândia e Grã-Bretanha anunciaram planos para aplicá-los.
Para o diretor do Conselho Superior de Saúde da Itália, Franco Locatelli, as análises sorológicas darão "informações muito importantes sobre a imunidade" do conjunto, algo crucial para os planos de reativação da economia e do país.
Riscos permanecem
O diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, e sua colega Maria Van Kherkove, advertiram que, até agora, as evidências não demonstraram que uma pessoa que tenha contraído a doença e se curado desenvolverá imunidade.
Os especialistas respondiam a uma pergunta sobre a decisão de alguns governos de emitir "cartões de imunidade" para quem tiver se recuperado do coronavírus, de modo que possam retomar sua rotina.
Segundo os especialistas, para obter imunidade coletiva, é necessário atingir pelo menos de 60% a 70% da população.
Um estudo recente, realizado pelo Instituto Pasteur, adverte que essa "imunidade coletiva" é mais difícil de determinar do que se pensava.
Os cientistas devem esperar até que haja dados mais confiáveis disponíveis, advertiu o diretor do Instituto de Saúde Global de Yale, Saad Omer.
"Ainda é muito prematuro", frisou Omer, em conversa com a AFP.
Além disso, não se sabe quanto tempo dura a imunidade ao coronavírus, o que significa que existe o risco de que aqueles considerados "imunes" possam se reinfectar e transmitir o vírus para outros.
Na epidemia de Sars, entre 2002-2003, aqueles que contraíram o vírus mas se recuperaram ficaram imunes por apenas de dois a três anos, explicou à AFP François Balloux, geneticista da University College de Londres.
Ainda mais perigoso é o caso de alguém que tenha desenvolvido anticorpos ainda poder portar rastros do vírus, sendo, portanto, contagioso.
Diante de tantas dúvidas, os especialistas - como Locatelli, na Itália - consideram que os exames de sangue devem ser acompanhados do teste de nasofaringe, porque ninguém está seguro de que quem apresente os anticorpos estará completamente protegido de ter a Covid-19.
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