Correio Braziliense
postado em 24/04/2020 04:05
Sobrevivente da queda de um avião na Cordilheira de Andes em 1972, o uruguaio Roberto Canessa lidera profissionais que tentam desenvolver respiradores para ajudar vítimas da Covid-19. Um dos protótipos começou a ser testado ontem, em uma área de pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade da República, em Montevidéu.
“Quando vi que, no mundo, as pessoas estavam morrendo de sede de ar, me lembrei da montanha vendo meus amigos que não conseguiam mais respirar. Então, eu disse: ‘não, isso não pode acontecer comigo de novo’”, conta à agência France-Presse de notícias (AFP) o cardiologista de 67 anos.
Um total de 80 pessoas — entre engenheiros pneumáticos, eletrônicos e robóticos — se dedicam a otimizar “quase quatro” modelos projetados, segundo Roberto Canessa. O grupo estima que cada equipamento custará em torno de US$ 1,2 mil, sendo que aparelhos do tipo são vendidos por, em média, US$ 20 mil.
Fernanda Blasina, diretora do Departamento Neonatal do hospital uruguaio, conta que o protótipo foi testado em um porco recém-nascido. “Colocamos o modelo em uma situação de UTI e pudemos monitorar todas as variáveis que normalmente se pode estudar para saber como as doenças se comportam, avaliar tratamentos e diferentes equipamentos”, diz.
Lição da cordilheira
Canessa admite que são grandes as dificuldades para que o dispositivo seja usado em humanos, mas enfatiza que a realidade de seu país os inspirou a tentar uma alternativa. “À medida que a epidemia progredia, ficou evidente que países grandes, como Estados Unidos e China, teriam possibilidades de comprar, ou fabricar, respiradores, mas o Uruguai, não”, explica. “Aprendi isso na montanha: estava aqui, tinha que sair, tinha que começar a andar, não sabia o quão longe tinha que andar, mas sabia que cada passo que daria estaria mais próximo de um possível resgate.”
O avião no qual ele viajava para o Chile, como parte de uma equipe de rugby, caiu a 3.600 metros acima do nível do mar. Das 45 pessoas a bordo, 16 suportaram as condições extremas de frio e fome por 72 dias. Canessa foi um dos protagonistas do resgate ao se juntar a outro jogador de rugby, Fernando Parrado, para contornar o topo da montanha e obter ajuda.
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