Mundo

Europa tem menor letalidade em semanas por COVID-19 e atenua confinamento

A tendência para baixo há vários dias levou vários governos a planejar medidas gradativas de suspensão do confinamento

Correio Braziliense
postado em 26/04/2020 17:35

Crianças correndo na EspanhaA Europa vislumbrava uma luz de esperança neste domingo (26/4), quando vários países do Velho Continente registraram números de mortos mais baixos em várias semanas pela pandemia do novo coronavírus, que já provocou mais de 200 mil mortes e três milhões de contágios no mundo. 

 

Parecendo pressentir estes dados positivos, vários países começaram a abrandar as medidas de confinamento às quais está submetida metade da população mundial, como a Espanha, que a partir deste domingo liberou as crianças - trancadas em casa há seis semanas - a passear e brincar nas ruas. 

 

Nas últimas 24 horas, a França registrou 242 novos óbitos, elevando o total a mais de 22.800; a Itália teve 260 (mais de 26.600); o Reino Unido, 413 (mais de 20.700), e a Espanha, 288, fazendo o total se aproximar dos 23.200. 

 

A tendência para baixo há vários dias levou vários governos a planejar medidas gradativas de suspensão do confinamento, mas advertindo os cidadãos que não devem abaixar a guarda. 

 

"As crianças se levantaram perguntando quando íamos descer na rua", contou Miguel López, morador de Madri e pai de dois meninos, de seis e três anos. 

 

Os menores têm que estar acompanhados de um adulto, não podem brincar com vizinhos, nem se afastar a mais de um quilômetro de casa, tudo isso por no máximo uma hora. Os parques, no entanto, continuam fechados. 

 

"Dois metros de distância [entre crianças e terceiros] no centro de Madri é impossível. Saímos cedo para não encontrar outras crianças", explicou uma bibliotecária que não quis se identificar, mãe de um menino de cinco anos e de uma menina de oito. A família mora em um apartamento sem varanda no bairro La Latina. 

 

Dúvidas sobre imunidade

A suspensão do confinamento é um quebra-cabeça para as autoridades, à espera de uma vacina ou um remédio que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o único que permitirá conter a pandemia. 

 

A Espanha estendeu a quarentena até 9 de maio. O chefe de governo, Pedro Sánchez, apresentará na terça-feira um plano para abrandar as medidas a partir de maio, mas se os contágios continuarem caindo, a partir do dia 2 será permitido aos adultos passear ou fazer exercícios, assim como ocorre em outros países europeus. 

 

Na França, seu colega, Edouard Philippe, revelará no mesmo dia sua "estratégia nacional do plano de 'desconfinamento'", que deve começar em 11 de maio, com a polêmica reabertura das escolas principalmente. 

 

Em Londres, o primeiro-ministro Boris Johnson, que esteve hospitalizado por causa do coronavírus, retornou neste domingo à sua residência oficial, em Downing Street, em Londres, e retomará suas atividades na segunda-feira. Os britânicos aguardam o início de seus planos para relançar a economia e sair do confinamento. 

 

A Argentina, por sua vez, que registrou 185 mortos pela epidemia, anunciou no sábado uma flexibilização da quarentena para cidades com menos de 500.000 habitantes e a possibilidade de sair uma hora por dia para todas as pessoas. 

 

E no Equador, o segundo país mais afetado pela pandemia na América Latina, com 22.719 casos e 576 mortos, o presidente Lenín Moreno alertou no sábado que a emergência sanitária "não terminou".

 

O Brasil, o país maís mais afetado pela COVID-19 na região, registrou até as 16h deste domingo 61.888 casos e 4.205 mortes. 

 

Com vistas à suspensão do confinamento, alguns países empreendem campanhas de testes sorológicos, como a Itália, que começará em 4 de maio a realizar testes em 150.000 pessoas para tentar saber mais sobre a pandemia.

 

No entanto, a OMS lembrou que "não há nenhuma prova neste momento de que as pessoas que se curaram da COVID-19 e que têm os anticorpos (para a doença) estejam imunizadas frente a uma segunda infecção". O organismo advertiu, ainda, para a ameaça de uma segunda onda mortal da pandemia. 

 

No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau pediu "prudência" e assegurou que não conta com uma hipotética imunidade coletiva. 

 

Corpos nos banheiros 

Os Estados Unidos continuam sendo o primeiro país do mundo em número de mortos, com mais de 54 mil. 

 

Em Nova York, a cidade mais atingida no mundo pela pandemia, com mais de 15.000 mortes, o importante setor bancário avalia prolongar indefinidamente o trabalho em 'home office' e escalonar as horas de chegada às agências. 

 

Na capital econômica americana, o uso de caminhões frigoríficos como necrotérios temporários deixou terríveis lembranças em  Maggie Dubris.  

 

"Eu me lembro do necrotério erguido no World Trade Center" após o 11 de setembro de 2001. "Com o mesmo sentimento de que algo terrível, como muitos mortos, tinha ocorrido", conta. 

 

Na cidade equatoriana de Guayaquil, a que mais sofre com a pandemia na América Latina, outra cena de terror se vê nos banheiros, onde cadáveres são apinhados por falta de espaço em um hospital local. 

 

Neste contexto, líderes mundiais têm dificuldades para encontrar uma resposta coletiva à pior crise sanitária e econômica desde a Segunda Guerra Mundial. 

 

Assim como o Conselho de Segurança da ONU, paralisado por divisões entre Estados Unidos e China e quase mudo desde o início da pandemia. Esta semana, tentará adotar uma resolução para "uma coordenação reforçada entre todos os países" e um "cessar das hostilidades" em países em conflito. 

 

O enviado dos Estados Unidos para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad, pediu um "cessar-fogo humanitário" no país. 

 

A Rússia, primeiro exportador mundial de trigo, anunciou por sua vez a suspensão das exportações de cereais até 1º de julho para garantir a estabilidade do mercado nacional. 

 

Desobediência

Na sexta-feira (24/4), o mundo muçulmano deu início ao mês do jejum do Ramadã sem orações coletivas, nem ceias compartilhadas.

 

Mas no Irã e no Paquistão persiste o temor de um retorno da pandemia, depois que os fiéis foram às mesquitas apesar das recomendações sanitárias em sentido contrário.

 

Neste domingo, as autoridades iranianas anunciaram que o país superou a marca dos 90.000 contagiados, embora nas últimas 24 horas tenha registrado o menor número diário de infectados desde meados de março (60), elevando o balanço a 5.710 falecidos.

 

Enquanto metade da humanidade permanece confinada há semanas, começa a surgir uma desobediência, muito minoritária, em alguns países ocidentais, como Estados Unidos, Canadá e Alemanha.

 

E diante da pior recessão desde 1945, algumas empresas, ao contrário, se beneficiam, como as gigantes de tecnologia Amazon, Google ou Facebook, cujo tráfego é comparável ao do Ano Novo.  

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