Mundo

Pressa inimiga

Organização Mundial da Saúde adverte que rápido fim do confinamento pode causar impacto maior na economia. Nova Zelândia se declara livre da Covid-19. Reino Unido descarta relaxamento e teme segundo pico da pandemia

Correio Braziliense
postado em 28/04/2020 04:06
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, retorna para a 10 Downing Street, sede do governo, depois de pronunciamento à nação: 17 dias afastado

 

 

 

 

Em apenas 12 dias, os casos de infecção pelo novo coronavírus no mundo passaram de 2 milhões para 3.035.177, com 210.611 mortes, até o fechamento desta edição. Apesar da rápida progressão da Covid-19, as autoridades de vários países europeus ensaiam as primeiras medidas de relaxamento do distanciamento social, estimuladas pela preocupação com o golpe sobre a economia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma advertência ontem para um impacto econômico ainda mais contundente, em caso de flexibilização repentina. 

 

“Os governos têm de colocar na balança as vidas e a economia. Mas, se tomarem medidas cedo demais, correm o risco de sofrerem um impacto econômico maior”, afirmou Michael J. Ryan, diretor executivo da OMS. “É preciso estar seguro ao fazer esses cálculos. Se flexibilizarem muito rapidamente, poderá haver novos casos e talvez tenham que ordenar novo confinamento. Não existe resposta fácil, mas não devemos descartar que possa ocorrer outro surto, o qual exija novo confinamento”, reiterou.

 

Por sua vez, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o mundo “deveria ter ouvido atentamente a OMS, porque a emergência global começou em 30 de janeiro”. “Nós aconselhamos a todos os países que adotassem um amplo enfoque na saúde pública. Dissemos que os casos deveriam ser procurados, testados, isolados, assim como seus contatos. As nações que seguiram o conselho estão em uma posição melhor do que outros, é um fato”, acrescentou, ao lembrar que a OMS não goza de autoridade para obrigar governos a seguir suas recomendações — uma alusão à política de desconfinamento defendida, inclusive, pelo Brasil. “A pandemia está longe do fim”, advertiu, ao demonstrar preocupação com tendências de aumento de infecções na África, no Leste da Europa, na América  Latina e em alguns países da Ásia.

 

Depois de contrair a Covid-19 e de enfrentar 17 dias de recuperação — parte deles na unidade de tratamento intensivo de um hospital de Londres  —, o primeiro-ministro Boris Johnson sinalizou tendência oposta à de outras nações europeias e se recusou a suavizar o confinamento. “Graças à nossa determinação nacional coletiva, estamos a ponto de alcançar a primeira missão clara: evitar que nosso Serviço Nacional de Saúde seja sobrecarregado de uma maneira que, tragicamente, observamos em outros lugares. E foi assim que começamos a inverter a tendência”, declarou o premiê, em sua primeira aparição pública desde a alta hospitalar, em 12 de abril. Ante o “perigo de um segundo pico” da pandemia, Johnson pediu aos britânicos que controlem a impaciência. “Acredito que chegamos agora ao final da primeira fase deste conflito e estamos perto do êxito.” Até a noite de ontem, o Reino Unido registrava 158.348 casos e 21.157 mortes.

 

Eliminação

 

Com 1.469 infectados e 19 óbitos pelo novo coronavírus, a Nova Zelândia afirmou ontem que “eliminou” da ilha a doença e aliviou as restrições. A partir de hoje, o comércio poderá reabrir parcialmente obecendo algumas exigências, como a distância física de 2m entre as pessoas. Escolas também funcionarão com capacidade reduzida. “Não há transmissão (do vírus) generalizada e não detectada na Nova Zelândia; vencemos esta batalha”, declarou a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern.

 

Professor de saúde pública da Universidade de Otago (em Dunedin, Nova Zelândia), Nick Wilson  classificou de “observação descuidada” a declaração da premiê. “Ainda que a Nova Zelândia esteja fazendo bom progresso rumo à eliminação da Covid-19, com número geral de novos casos diários em queda, nas últimas semanas, ainda há infecções detectadas todos os dias. Não é possível termos muita confiança de que inexista algum nível de transmissão não detectada na comunidade. Pode ser que Taiwan e alguns estados da Austrália eliminem o vírus antes da Nova Zelândia”, afirmou ao Correio.

 

Segundo Wilson, o êxito da Nova Zelândia se deve à rápida ação na aplicação de medidas de confinamento intenso, antes mesmo do registro da primeira morte, e ao aprimoramento dos controles fronteiriços. “Parece-me plausível que as habilidades de liderança da primeira-ministra ajudaram, pois ela foi decisiva e se comunicou muito bem. Não é a primeira vez que isso ocorre. Após o massacre em uma mesquita de Christchurch, no ano passado, ela deu uma resposta mediata, com o endurecimento das leis sobre o controle de armas. Seu governo também  introduziu medidas econômias para ajudar a reduzir o fardo do confinamento sobre as pessoas de baixa renda”, explicou. Com foco na política de bem-estar social, a Nova Zelândia priorizou a saúde a temas econômicos de curto prazo. 

 

 

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