Em meio à chamada “guerra esquecida” pela comunidade internacional, a coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita rejeitou, ontem, a declaração de autonomia dos separatistas do sul do Iêmen. A aliança qualificou as medidas como uma “escalada” do devastador conflito no país, o qual se arrasta desde março de 2015. Grupos de direitos humanos apontam que 112 mil pessoas morreram durante os combates, incluindo 12.600 civis. Cerca de 24 milhões — 80% da população iemenita — necessita de assistência humanitária, enquanto 10 milhões estão próximas da inanição.
A decisão dos separatistas do sul do Iêmen agrava o conflito entre a coalizão formada pela Arábia Saudita e pelo governo internacionalmente reconhecido contra os rebeldes separatistas huthis, que controlam uma área importante do norte do Iêmen. No último domingo, em ruptura a um frágil acordo de paz firmado em 5 de novembro passado, as tropas separatistas do sul do país declararam sua autonomia e anunciaram um autogoverno, que entraria em vigor ontem.
A atividade dos separatistas do Conselho de Transição do Sul (STC, pela sigla em inglês) era considerada uma “guerra civil dentro da guerra civil”. Em agosto de 2019, as forças separatistas dominaram a cidade de Àden, a segunda mais importante do Iêmen. “Depois do surpreendente anúncio de um estado de emergência por parte do Conselho de Transição do Sul, enfatizamos novamente a necessidade de implementar rapidamente o Acordo de Riad”, afirmou a coalizão militar liderada pelos sauditas, de acordo com o perfil da agência oficial de notícias saudita no Twitter.
“A coalizão tomou e continuará tomando medidas práticas e sistemáticas para implementar o Acordo de Riad entre as partes, para unir as fileiras iemenitas, restaurar a instituição estatal e combater o flagelo do terrorismo”, completa a nota.
Martin Griffiths, enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Iêmen, emitiu um comunicado em que pediu “a cooperação de boa-fé” e mais agilidade na aplicação do Acordo de Riad. O pacto propõe uma divisão do poder entre o governo e os separatistas no sul.
Importante membro da coalizão militar e ao mesmo tempo tradicional aliado dos separatistas, o governo dos Emirados Árabes Unidos também criticou a declaração de autonomia e frisou a confiança na Arábia Saudita.
De acordo com Hussam Radman, analista do Centro de Estudos Estratégicos em Sanaa, os separatistas controlavam o Exército e a segurança em Aden, onde desfrutam de apoio popular. “Mas, com esta declaração, eles serão responsáveis pela parte administrativa na capital provisória, que registrou uma deterioração sem precedentes, recentemente, na qualidade dos serviços e em seu desempenho econômico”, declarou à agência France-Presse.
Conspiração
O STC acusou o governo central iemenita de não cumprir com seus deveres e de “conspirar” contra a causa do Sul. O governo do Iêmen rapidamente condenou a proclamação. Os separatistas, que buscavam a independência no sul, serão responsáveis pelo resultado “catastrófico e perigoso” desta decisão, advertiu.
Em consequência da pandemia do novo coronavírus, a coalizão militar declarou cessar-fogo unilateral, medida rejeitada pelos rebeldes huthis. Apesar da trégua — rejeitada pelos huthis —, os combates continuam em um país que registra o mais grave desastre humanitário do mundo, alertou a ONU. O Acordo de Riad foi celebrado pela comunidade internacional como uma medida para acabar com a crise humanitária no Iêmen. No entanto, sem a implementação do pacto, vários analistas apontam que, na prática, ele está extinto.
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