Terceiro país mais populoso da América do Sul (atrás de Brasil e Colômbia), com 45 milhões de habitantes, a Argentina tem um dos menores índices de infecções e mortes pela Covid-10 da região. Até o fechamento desta edição, as autoridades de Buenos Aires confirmavam 4.127 casos da doença e 207 mortes — 1.192 dos infectados tinham se recuperado. A título de comparação, com uma população quase cinco vezes maior, o Brasil registrava 78.162 casos e 5.466 óbitos. O governo do presidente peronista Alberto Fernández ordenou uma quarentena compulsória e rigorosa em 20 de março, com duração inicial até 14 de abril. Depois de prorrogá-la até 10 de maio, decidiu revisar a medida a cada duas semanas. Também proibiu todos os voos comerciais internos e internacionais até 1º de setembro e fechou as fronteiras a todos os estrangeiros.
Apesar da intensa pressão de setores da economia, Fernández firmou posição na opção pela saúde. “Prefiro ter 10% mais de pobres e não 100 mil mortos na Argentina por conta do coronavírus. Da morte não se volta, mas a economia se recupera”, comentou, em entrevista à emissora Net TV. Segundo o presidente, “aqueles que propõem o dilema entre economia e saúde estão dizendo algo falso”. Para assegurar o cumprimento da quarentena, os ministros do Interior (Eduardo de Pedro) e da Segurança (Sabina Frederic) receberam ordens de montar bloqueios nas cidades e vistoriar carros. “O que mais me preocupa é a saúde dos argentinos”, afirmou, em outra ocasião, ao Canal 13.
O presidente também busca exercer protagonismo no combate à Covid-19. Na manhã de ontem, ele conversou por telefone com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e abordou políticas contra a doença. “A Alemanha é um exemplo mundial, e trocamos ideias sobre o modo com que a economia global será reativada depois da pandemia”, tuitou. O chefe de Estado também visitou as instalações do Museu Malvinas, onde conheceu uma planta com mil impressoras em 3D que fabricam 7 mil máscaras de proteção por dia para as forças de segurança e os profissionais do setor de saúde.
Para Carlos Fara, especialista argentino em opinião pública e comunicação de governo, as medidas de quarentena tiveram grande aceitação da população. “Em comparação com os vizinhos, a Argentina é o país onde mais se tem cumprido o isolamento social. A princípio, existia o temor de baixa capacidade de resposta do sistema de saúde, o que levou à adesão às recomendações”, afirmou ao Correio. “A quarentena imposta aqui foi uma das mais estritas. As fronteiras foram fechadas por completo. O governo também tomou decisões contundentes e fez um forte alerta à população. O medo opera como um grande controle social. O fechamento total do país mostrou-se sumamente impactante.”
Diretor do Programa de Estudos de Opinião Pública na Universidad Nacional de La Matanza (em San Justo, na Argentina), Raúl Aragón disse à reportagem que o governo de Fernández se antecipou na tomada de decisões preventivas, como o fechamento de fronteiras e de escolas, além da proibição de eventos esportivos. “Nos primeiros dias da pandemia, as autoridades frisaram a necessidade de distanciamento social e de higiene das mãos. A quarentena total obrigatória começou a vigorar quando existiam entre 60 e 70 infectados no país, em 20 de março. Isso fez com que a curva se mantivesse estável por muito tempo”, explicou.
Segundo ele, a Argentina presenciou uma “rápida conscientização de toda a população”, que reduziu ao máximo as saídas de casa. “É preciso ressaltar, também, as decisões tomadas em tempo correto pelo governo. Hoje, entre 95% e 96% dos argentinos cumprem com as normas de isolamento, o que contribuiu para que as taxas de infectados e de mortalidade por milhão de habitantes sejam as mais baixas da América Latina”, acrescentou Aragón.
Indulto
Fernández manifestou sua oposição ao indulto em massa a prisioneiros, depois de um motim na penitenciária de Villa Devoto, em Buenos Aires, na última sexta-feira. Os detentos exigiram a libertação por medo de contraírem o novo coronavírus. “É conhecida minha oposição à faculdade do indulto. Digo isso no momento em que uma campanha midiática se desenrola acusando o governo que presido de querer favorecer a liberdade daqueles que foram condenados”, afirmou na rede social.
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