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Estratégia genética para combater a Covid-19

Vacina desenvolvida nos EUA tem um pedaço de RNA que estimula uma resposta imunológica à presença do novo coronavírus. Segurança e maior potencial para gerar uma reação robusta estão entre as vantagens apontadas pelos criadores

Correio Braziliense
postado em 06/05/2020 04:06
Tecnologia é testada pela equipe de pesquisadores há duas décadas: ensaio com humanos está previsto para este ano

Na corrida por uma vacina eficaz contra a Covid-19 — já são ao menos 90 projetos em curso ao redor do globo —, dois institutos associados ao Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, anunciaram avanços no desenvolvimento de um tipo diferente de imunização. Trata-se de uma substância experimental, a AAVCovid, que usa genes para evitar que o vírus Sars-Cov-2 entre nas células.

Nos Estados Unidos e em outros países, a terapia gênica vem sendo usada com segurança e eficácia no tratamento de duas doenças — um tipo de cegueira hereditária e a atrofia muscular espinhal. Agora, os pesquisadores querem usar a mesma abordagem para combater a Covid-19. Por enquanto, foram feitos testes em camundongos. No mês que vem, devem ser iniciados os primeiros experimentos com primatas e, ainda neste ano, os estudos em humanos. De acordo com os cientistas, duas das sete mais promissoras versões da vacina já começaram a ser produzidas para os testes clínicos.

O programa de vacinas AAVCovid foi desenvolvido no laboratório de Luk H. Vandenberghe, PhD, diretor do Grousbeck Gene Therapy Center em Massachusetts Eye and Ear e professor-associado de oftalmologia na Harvard Medical School. Na terapia gênica, um pedaço do RNA viral é transportado para o organismo por um vetor viral adeno-associado. Ou seja, o material genético é inserido em um vírus inofensivo, que o transporta para as células, provocando uma resposta imunológica. No caso, o foco é o mesmo de praticamente todas as vacinas em andamento: a proteína spike, aquela que facilita a entrada e a replicação do Sars-Cov-2 no núcleo celular.

Os pesquisadores isolaram o fragmento do RNA correspondente à proteína spike. Quando ela chega ao organismo, é reconhecida como agente externo, estimulando a fabricação de anticorpos específicos. Assim, caso a pessoa tenha contato com o micro-organismo, células especializadas em combatê-lo já estão a postos, prontas para destruí-lo.

De acordo com os cientistas que desenvolvem a AAVCovid, essa tecnologia, testada por eles há duas décadas, traz vantagens, como a adaptabilidade a substâncias diversas, a segurança e o potencial de provocar uma resposta imune robusta. “É uma tecnologia superior para a entrega segura e eficiente dos genes. As abordagens que estamos usando na AAVCovid conseguem induzir uma imunidade potente, com apenas uma injeção intramuscular”, diz Luk H. Vandenberghe, diretor do Centro Grousbeck de Terapia Gênica e professor-associado de oftalmologia na Faculdade de Medicina de Harvard.

Inovação

Como a tecnologia já está pronta, Vandenberghe explica que, em situações emergenciais como a da pandemia da Covid-19, é possível desenvolver o projeto de vacina em poucas semanas. Atualmente, dezenas de laboratórios produzem os vírus adeno-associados, o que facilita também o processo de produção da substância — quando uma vacina estiver pronta, serão necessários bilhões de doses para conseguir imunizar a população mundial. “Agora, são necessários estudos clínicos para estabelecer a segurança e a eficácia de nossa nova abordagem”, afirma.

“Enquanto muitas organizações estão envolvidas no desenvolvimento de vacinas candidatas para prevenir a Covid-19, ainda falta muito para sabermos qual será melhor abordagem”, pondera Mason Freeman, diretor e fundador do MGH Translational Research Center, que lidera os esforços para se iniciarem os estudos clínicos destinados a estabelecer a segurança e a eficácia da vacina experimental. “O método de Vandenberghe traz uma abordagem elegante, inovadora e extremamente criativa para atingir nosso objetivo: proteger nossos pacientes mais vulneráveis, bem como os profissionais de saúde que cuidam deles durante este e futuros surtos virais.”

A terapia gênica é cara. O medicamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, e em outros mercados mundiais para cegueira hereditária custa US$ 425 mil, por olho. Já a injeção de dose única para distrofia muscular passa de US$ 2 milhões. Contudo, esses valores variam de acordo com a substância inserida no adenovírus. No caso da vacina contra Covid-19, o laboratório de Vandenberghe estima que o custo de desenvolvimento das doses iniciais, para testes, varie de US$ 2,50 a US$ 250.

Anticorpos

Ontem, o ministro da Defesa de Israel, Naftali Benet, anunciou, pelo Twitter, que o Instituto Israelense para Pesquisa Biotecnológica, ligado ao órgão, desenvolveu um anticorpo capaz de neutralizar o Sars-Cov-2. Sem fornecer detalhes técnicos, Benet afirmou que, em breve, será feito contato com empresas farmacêuticas para a produção da substância em escala comercial.

O ministro visitou o laboratório, ao sul de Tel-Aviv. Na conta do Ministério da Defesa, ele classificou a descoberta como “um grande avanço” e informou que os anticorpos são monoclonais — produzidos com um único clone do linfócito B, célula de defesa do sistema imunológico. Esse tipo de substância é usado em várias terapias de combate ao câncer e no tratamento de doenças autoimunes. Benet escreveu, ainda, que essa era a primeira vez que um anticorpo conseguia neutralizar o vírus. Porém, um dia antes, uma equipe holandesa descreveu, na revista Nature Communications, o desenvolvimento de uma substância semelhante, com potencial de ser transformada em vacina.



“As abordagens que estamos usando na AAVCovid conseguem induzir uma imunidade potente, com apenas uma injeção intramuscular”
Luk H. Vandenberghe, diretor do Centro Grousbeck de Terapia Gênica e professor-associado de oftalmologia na Faculdade de Medicina de Harvard
 
 
 
 
 
 


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