Mundo

Apesar do medo, países abrandam medidas

Governos começam a flexibilizar regras de contenção da pandemia, com abertura progressiva do comércio, das escolas e de espaços livres, como parques. No continente mais atingido, a Europa, a liberação acontece sob a ameaça de uma segunda onda de infecções

Correio Braziliense
postado em 10/05/2020 04:17
Homem se exercita nas proximidades do Coliseu, em Roma: volta gradual à rotina





Com mais de 275 mil mortes registradas pelo mundo, vários países começam a adotar medidas de desconfinamento progressivo, ainda sob a ameaça de uma segunda onda de infecções por covid-19. Pressionada pela asfixia econômica, na Europa, continente mais afetado pela doença, nações como Alemanha, Itália, Espanha e França saem, aos poucos, da quarentena, com a cautela de quem perdeu 154 mil pessoas para o coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) defende prudência e alerta que, sem distanciamento social e regras rígidas de higiene, os contágios podem voltar a crescer.

Amanhã, a Espanha entra na fase 1 do desconfinamento, um processo em etapas que seguirá até junho. À exceção de Barcelona e Madri, as cidades mais atingidas pela covid-19, os cidadãos poderão se reunir em grupos de até 10 pessoas, permanecer em terraços com capacidade limitada, visitar lojas sem a necessidade de agendamento e participar de enterros e velórios. As medidas começam a valer para metade dos 47 milhões de habitantes de cidades como Sevilha e Saragoça, e regiões como Ilhas Baleares, País Basco e Galícia. Serão reabertos comércios de até 400m², com capacidade limitada a 30%. A área externa de bares, restaurantes e museus também voltará a receber público, assim como instalações esportivas abertas e hotéis.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, alertou que o país, que perdeu mais de 26 mil pessoas para o Sars-CoV-2, deve ter “cautela e prudência”. O estado de emergência continua até 23 de maio, e as medidas progressivas de desconfinamento só devem acabar no fim de junho. “Quero pedir toda a cautela e prudência, porque o vírus não desapareceu, ainda está à espreita”, disse o líder socialista, em um pronunciamento.

Entre sexta-feira e ontem, houve 179 mortes no país, 50 a menos que nas 24 horas anteriores, e um número bem abaixo do registrado no início de abril, quando o recorde foi de 950 óbitos diários.

Fronteiras
Na Alemanha, a flexibilização do confinamento já começou e o retorno do campeonato da liga de futebol está marcado para 16 de maio. Há uma pressão crescente sobre o governo de Angela Merkel para a abertura das fronteiras, sobretudo com a França. Deputados da Assembleia Parlamentar Franco-Alemã, uma instituição binacional com integrantes do Legislativo dos dois países, fizeram um apelo pela reabertura imediata.

“Os números da infecção diminuem e as diferenças entre as regiões estão menores: as medidas nas fronteiras não podem mais ser justificadas com a proteção da saúde”, afirmaram, em um comunicado divulgado ontem. As restrições, impostas em meados de março, permanecerão em vigor até 15 de maio. Segundo o ministro do Interior, Horst Seehofer, as medidas ajudaram a conter a infecção no país.

O desconfinamento na França, país que registra 26,3 mil mortes, começa amanhã com a abertura parcial das escolas. Crianças com menos de 11 anos permanecerão em casa, mas comércio e parques voltam a receber visitantes. As medidas não valem para todos. O número alto de infecções em Ile-de-France, Hauts-de-France, Grand-Est, Bourgongne-Franche-Comté e Mayotte coloca essas regiões na zona vermelha, onde a reabertura será mais rígida.

No Reino Unido, os cidadãos aguardam o discurso do primeiro-ministro, Boris Johnson, previsto para hoje. O político, que foi vítima do novo coronavírus e chegou a ficar na unidade de terapia intensiva (UTI), porém, não deve anunciar medidas de flexibilização.

Com mais de 31 mil mortes, o país tem o mais trágico balanço da Europa e o segundo mais grave do mundo, atrás dos Estados Unidos, que superam 77 mil óbitos. “Seremos muito, muito prudentes quando começarmos a suspender as restrições, porque os dados que temos a cada dia mostram que não estamos livres”, disse o ministro do meio ambiente inglês, George Eustice.

De acordo com o jornal Times, de Londres, hoje o governo britânico deverá anunciar mais uma medida para lutar contra o coronavírus. Todos os recém-chegados por avião, trem ou navio deverão permanecer isolados por duas semanas, à exceção de procedentes da Irlanda, disse a reportagem. Para aplicar a medida, serão feitas verificações pontuais do endereço apresentado pelos viajantes, que sofrerão sanções se descumprirem: desde uma multa de  mil libras (cerca de R$ 7,1 mil) à expulsão do país. A BBC antecipou que as duas semanas de isolamento entrarão em vigor no fim de maio. O setor aeronáutico, muito afetado pela crise, deseja que a medida drástica seja revisada periodicamente.

Com mais de 30 mil mortes, a Itália retomou, na segunda-feira passada, parte das atividades econômicas, sob críticas de infectologistas. Em Milão, uma das cidades mais atingidas, houve aglomeração na frente de cafés, onde já é possível comprar bebidas, embora o consumo no local seja proibido. A partir de 18 de maio, lojas e museus reabrem, enquanto restaurantes, bares, cabeleireiros e clínicas estéticas voltam em 1º de julho. Outros setores pressionam o governo para que antecipe o fim do confinamento e da quarentena.




"Quero pedir toda a cautela e prudência, porque o vírus não desapareceu, ainda está à espreita"
Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol




31 mil
pessoas morreram no Reino Unido, vítimas de covid-19





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