Mundo

Alívio na Europa, temores na Ásia

Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 04:05
Máscara em estátua da Praça do Trocadero, diante da Torre Eiffel, em Paris

 

 

 

 

Para muitos, foi como se a vida tivesse recomeçado. Depois de dois meses de isolamento, milhares de “desconfinados” redescobriram, ontem, suas lojas e salões de beleza favoritos, principalmente na França, na Bélgica e na Turquia. Nos três países, que colocaram em prática o relaxamento das restrições impostas durante a quarentena, filas se formaram em frente a estabelecimentos considerados “não essenciais”, como lojas de roupas. O clima de alívio e a retomada do consumismo nessas nações contrastaram com o medo de uma segunda onda de contágios pelo novo coronavírus na Ásia. Em Wuhan, cidade situada na província central chinesa de Hubei e foco da pandemia, cinco casos de infecção foram registrados, ontem, um dia depois de autoridades anunciarem o primeiro contágio em mais de um mês.

 

Em Ancara, capital da Turquia, Yusuf Karabulut, 39 anos, gerente de uma multinacional, aproveitou para fazer compras. “Muitas pessoas saíram de suas casas. Eu fiquei amedrontado e procurei ser muito cauteloso. Nada de aperto de mãos. Os ônibus e outros meios de transporte público limitaram o número de passageiros. Lojas colocaram seguranças nas portas, para que clientes fizessem fila ao entrar”, afirmou Yusuf ao Correio. “Os cabeleireiros e barbeiros atendem sob agendamento e com frequência reduzida. O governo impôs boas normas, mas entre 5% e 10% dos cidadãos não as seguem.” De acordo com Yusuf, funcionários de lojas monitoram a temperatura dos clientes. “O mesmo ocorre nas vias, com guardas de trânsito abordando motoristas.”

 

Em metade do território espanhol, os terraços e lojas reabriram sob estritas medidas de segurança. “Sentia muita falta disto”, declarou à agência France-Presse Jesús Vázquez, um operário de 51 anos, que pediu um sanduíche e uma cerveja no terraço de um bar de Tarragona, Catalunha (nordeste). Madri e Barcelona continuam com restrições ante o risco de contágio. A Espanha é um dos países mais afetados pela pandemia, com 26.755 mortes, embora o número de óbitos esteja em queda — a redução permitiu reuniões em grupos de até 10 pessoas.

 

Na França, algumas lojas abriram e milhões de pessoas saíram de casa e voltaram ao trabalho, reativando a economia, que estava quase parada havia dois meses, mas com medidas de segurança, como o uso de máscaras no transporte público. Nos horários do rush, o metrô de Paris ficou quase tão cheio quanto antes do confinamento. “Graças a vocês, o vírus regrediu. Mas ainda está aqui. Salvem vidas, continuem sendo prudentes”, tuitou o presidente francês, Emmanuel Macron.

 

Também em Paris, o salão de beleza dirigido por Fabien Provost, perto da Champs Élysées, não oferece mais café ou revistas para os clientes, que também devem desinfetar as mãos com álcool em gel na chegada. Dentro do salão, onde apenas metade dos lavatórios e bancadas estavam ocupados, os clientes precisam usar uma capa descartável e seguir uma rota marcada para limitar os contatos. Cliente “desde 1983”, Hervé Dabin, 68, entende as limitações. “É uma casa séria. Eu sabia que tudo estaria bem organizado e em ordem”, disse o aposentado.

 

“Preciso de um ‘jeans’. Ando de bicicleta há dois meses e só tenho alguns usados”, explicou Brigitte Szekely, 61, na entrada de uma loja no bairro de Ixelles, em Bruxelas. Em Stockel, outro bairro da cidade, Deborah Aragon procurava sapatos para o filho de 2 anos e meio, que durante o confinamento teve que “usar os de seus irmãos mais velhos”. Diante da esperada avalanche de consumidores, a rua Neuve, a grande via comercial da capital belga, amanheceu com uma demarcação central para separar a direção de circulação.

 

Xangai e Seul

 

Em Xangai, o parque de diversões Disneyland voltou a abrir as portas, mas com restrições. “Passamos dois meses trancadas, era um tédio mortal”, disse à agência France-Presse uma visitante, acompanhada de uma menina de cinco anos. A Coreia do Sul também contabilizou 35 novos casos, o maior número em mais de um mês. Dessa vez, o foco de novo coronavírus ocorreu em um bairro boêmio da capital, Seul.  

 

» OMS cobra “extrema vigilância”

A Organização Mundial da Saúde (OMS) comemorou, ontem, a remissão da pandemia do novo coronavírus em várias nações. No entanto, destacou a necessidade de “extrema vigilância” durante o desconfinamento. O relaxamento das restrições em parte da Europa é “um sinal do sucesso dos esforços para frear o vírus e salvar vidas”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanoma Ghebreyesus. O diretor do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, também apontou que há motivos para “esperança”, mas incentivou os países afetados a adotarem “extrema vigilância”. Alguns países “fizeram investimentos significativos para melhorar sua capacidade de saúde pública durante o confinamento, outros não”. “Se a doença persistir em um nível baixo nos países que não têm capacidade de detectar os focos e identificá-los, existe o risco de a doença reaparecer”, alertou. 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags