Mundo

Habitantes de povoado grego expulsam refugiados violentamente

Hotel que deveria receber refugiados foi destruído por manifestantes

Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 11:38
Vista dos danos ocorridos em 8 de maio de 2020, causados por cerca de 250 manifestantes que saquearam um hotel para impedir o assentamento de 57 famílias de refugiados em 4 de maio, na vila de Arnissa, a 560 km ao norte de Atenas.Vidros quebrados, móveis queimados, pedras espalhadas pelo chão: o hotel onde 57 solicitantes de asilo das ilhas gregas seriam instalados foi destruído por habitantes do povoado de Árnissa, no norte da Grécia. 

De acordo com testemunhas, ceca de 250 habitantes queimaram e roubaram o hotel para impedir a transferência dos solicitantes de asilo. Segundo eles, entre os agressores havia militantes de extrema direita.

"Foi espantoso, destruíram o hotel lançando pedras e ateando fogo", descreveu uma jovem que não quis revelar seu nome.

O hotel estava vazio no momento do ataque, mas deveria acolher um grupo de solicitantes de asilo, obrigados a abandonar o povoado para serem finalmente transferidos para um hotel em Salónica, metrópole do norte, a 110 quilômetros.

"Estão bem e serão colocados em quarentena, como é a norma", afirmou à AFP um responsável da Organização Internacional para Migrações, encarregado da transferência com as autoridades gregas.

Iniciadas em janeiro, estas transferências buscam descongestionar os acampamentos em Lesbos, Quíos, Samos, Cos e Leros, com capacidade para apenas 6.200 pessoas e onde se amontoam 38 mil.

Os próprios refugiados
 
Dimitris Yannou, prefeito de Edessa, da qual Árnissa depende, considera que os principais autores dos incidentes em Árnissa "eram pessoas de extrema direita, conhecidas na região".

Ele ressalta que a maioria dos habitantes de seu povoado são, eles próprios, "refugiados" de origem grega, vindos da vizinha Turquia.

"Os refugiados expulsam os refugiados, é incrível", lamentou este homem de 60 anos.

Na semana passada, as imagens destes incidentes violentos viralizaram nas redes sociais, mas até agora as autoridades não prenderam ninguém.

"Os autores se esconderam depois que uma investigação policial foi aberta", disse Panayotis, de 36 anos.

A maioria dos habitantes evita falar deste ataque. "Não vimos nada, acabamos de expulsar os clandestinos", lança um transeunte. 

Na segunda-feira, Stelios Petsas, porta-voz do governo, atribuiu o ataque à "má informação" e a um medo da população deslocada. 

"Alguns habitantes não entenderam que, desde o início da crise de saúde, tomamos medidas concretas para os que estão nos acampamentos", disse.

"O plano governamental para conter a pandemia nos acampamentos tem sido eficaz. Não tivemos muitos casos de coronavírus" entre os migrantes, acrescentou.

Com a exceção de três centros no continente, os acampamentos das ilhas, até o momento, livraram-se da pandemia, mas os testes sistemáticos de detecção dos migrantes não haviam começado até a semana passada.

Dimitris lamentou a decisão do governo de retomar as transferências à Grécia continental, no momento em que "as medidas (de confinamento) acabam ser suspensas".

"Já disse várias vezes que Edessa está saturada de migrantes e refugiados", escreveu em sua página do Facebook.

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